Sem babás ou creches, mães criam grupos para cuidar dos filhos

Cada mãe dedica um dia da semana para cuidar das crianças do grupo e decisões são tomadas em coletivo

A Cooperativa de Mães foi criada em junho de 2013. Grace Barbosa dedica uma tarde da semana para cuidar das crianças, participa de reuniões e prepara material pedagógico
A Cooperativa de Mães foi criada em junho de 2013. Grace Barbosa dedica uma tarde da semana para cuidar das crianças, participa de reuniões e prepara material pedagógico

Ser mãe nos dias de hoje não é fácil. A falta de tempo obriga mães e pais a deixarem os filhos em creches ou aos cuidados de babás.

Mas existe um gargalo que torna o problema ainda maior. As creches públicas estão superlotadas e não é todo mundo que tem dinheiro para bancar uma instituição privada ou contratar uma babá.

Além disso, as instituições podem não contemplar a educação que os pais desejam para os filhos.

“Esse tipo de contato não existe em outro lugar. Você pode encontrar escolas maravilhosas, mas não deixam de ser uma instituição”, conta Grace Barbosa.
“Esse tipo de contato não existe em outro lugar. Você pode encontrar escolas maravilhosas, mas não deixam de ser uma instituição”, conta Grace Barbosa.

Da necessidade, uma solução

A partir dessa necessidade, grupos de mães passaram a se organizar para cuidar dos filhos umas das outras. Tomando decisões coletivas, elas constroem a educação de seus pequenos.

O movimento está ganhando força e recebeu o nome de Creche Parental, Cooperativa de Mães ou Cuidado Coletivo.

Para Grace,  a cooperativa tem um caráter familiar
Para Grace,  a cooperativa tem um caráter familiar

“A cooperativa é uma extensão da minha casa”

Grace L. Barbosa, de Curitiba, é mãe de Júlia. Ela conta que participava de encontros maternos com outras mães e sempre conversava sobre as necessidades e os tipos de cuidados que procuravam, mas não encontravam.

“Nosso grupo surgiu a partir da necessidade mesmo. Só depois fomos descobrir que já existiam modelos semelhantes em outros lugares do mundo”, conta Grace.

Ela também lembra que o cuidado coletivo não é uma novidade. “Antigamente, você ainda podia deixar os filhos com a avó, uma tia ou vizinha. Vivemos outro contexto agora. Uma geração de crianças na qual os avós ainda trabalham”, comenta.

“O melhor da cooperativa é que é uma extensão da minha casa. Eu conheço o filho das outras mães como se fossem os meus filhos”, comenta.

Compromisso e dedicação

Por outro lado, a cooperativa acaba sendo um trabalho a mais. “É uma coisa que exige tempo. Dedico uma tarde por semana, preparo material pedagógico e participo de reuniões”, comenta. Sem contar que as mães não têm formação profissional na área e aprendem com a própria experiência.

Para ela, o esforço compensa: “Eles cuidam uns dos outros e ficam o tempo todo juntos. Eu vejo minha filha cuidando das outras crianças como se fossem irmãos”.

Eles não querem reproduzir o modelo atual

Camila Fernandes mora no Rio de Janeiro e  é doutoranda em antropologia do Museu Nacional da UFRJ. Ela estuda o cuidado de crianças, especialmente em comunidades populares, e se interessou pelas cooperativas de mães como uma alternativa às creches elitizadas e à precariedade dos serviços públicos.

Ela também lembra que esses coletivos têm um posicionamento político. “Eles se recusam a contratar babás, pois acreditam que estas profissionais precisam deixar os filhos em situações muitas vezes de risco ou de fragilidade, além deste trabalho não receber a remuneração devida relativa ao seu valor de trabalho”, comenta.

“As classes médias e as elites são acostumadas com o emprego do serviço doméstico. isto reproduz uma hierarquia de classes. E esses grupos estão tentando sair desse ciclo e cuidar das próprias tarefas”, comenta Camila Fernandes.

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