Cinco lições que aprendemos com o povo da Nova Zelândia

Por: Catraca Livre

Um dos países mais bonitos e intocados do mundo também preserva em seu povo valores ainda não contaminados…

Após percorrer toda a Nova Zelândia durante um ano, o site Melhores Momentos da Vida – Nômades Digitais fez uma lista com o que achou de mais interessante no povo, o que mais tocou, fez aprender e até mesmo passar a olhar sob uma nova perspectiva para nossa própria cultura.

1ª – Não ser escravo da ditadura da beleza!
Pra quem vem do Brasil, onde a maior parte das pessoas é obcecada com seus corpos e principalmente as mulheres são extremamente críticas e competitivas umas com as outras, a diferença que se nota por aqui é gritante! Os neozelandeses não são tão preocupados com a própria aparência e nem com o que os outros pensam.

Em 1º lugar, não se vestem pra impressionar. Compram roupas boas e de qualidade sim, mas não são ligados em grifes e nem escravos da moda. Cada um usa o que quer. Isto muda um pouco nas grandes cidades Wellington, Auckland e Christchurch que, por serem centros comerciais e multiculturais, são mais influenciados pelas tendências mundiais, mas nas demais cidade da NZ o estilo informal, o conforto e a simplicidade são o que prevalesce!

Uma vez vimos um homem de negócios em Auckland vestindo uma camisa formal e gravata… E calções de surf. Ele estava ótimo! Este não é um “look” que encontraríamos facilmente em Londres, Nova York ou São Paulo.

Com frequência também se vê muita gente de pijama e chinelo com meias em supermercados, shoppings… Em todos os lugares! E ningúem olha de cara feia, é normal!… E libertador!

As mulheres também não usam tanta maquiagem e nem se mostram tão ansiosas e frustradas com o próprio corpo. Cirurgia plástica aqui é coisa raríssima, próteses de silicone e rostos esticados quase não se vê, corpos anabolizados também não!

A velhice não é vista como um fantasma e o estigma e os preconceitos que a cercam são menores do que no Brasil. Não a toa, o país ficou em 7º lugar em ranking de bem estar de idosos  no levantamento “Global AgeWatch Index 2013”, realizado pela ONG HelpAge International.

A juventude aqui não é apresentada como a única “verdade”, pois a sociedade não exclui o idoso, que continua integrado socialmente e produtivo até muito tarde. Livres das restrições da profissão ou trabalhando em tempo parcial, muitos aproveitam a liberdade conquistada para viajar. É muito comum casais acima de 70 que venderam suas casas, compram um motorhome e pegaram a estrada.

Quando se vive num país assim, a obsessão pela busca da eterna juventude deixa de ser uma necessidade. As pessoas não sentem que precisam lutar tanto contra rugas, cabelos brancos, flacidez. É notável a quantidade de mulheres que usam cabelos grisalhos. E não digo grisalho curtinho. Cabelos longos, na metade das costas.

Mas não entendam errado! A falta de vaidade em excesso não quer dizer desleixo ou sedentarismo. Todo mundo faz alguma atividade física e a alimentação (baseada no estilo inglês da carne com três vegetais) não é tão gordurosa, apesar do “fish and chips”…

O motivo? Não sei… Mas acredito que a ausência de um investimento tão agressivo na propaganda do corpo “perfeito” e a falta de uma pressão social para que a homens e mulheres se enquadrem em determinados padrões estéticos ajude. Coincidentemente, é um dos países menos sexistas do mundo. Mas isto já é assunto para outro post…

2ª – Aprender a relaxar…

Zero estresse! Os kiwis são calmos e muito “relax”, fazem tudo no seu próprio tempo e dão a impressão de nunca terem pressa.

Puxam assunto com desconhecidos no mercado, postos de gasolina, todos os lugares. A pergunta que mais fazem é “Como está sendo o seu dia?” e se você levar a sério e resolver responder em detalhes, eles vão prestar atenção. Impressionante!

Eles também têm a maior paciência para tentar te entender, mesmo quando seu inglês não é tão bom e adoram dar informações.

Mas se você estiver numa fila para ser atendido, o funcionário só irá lhe dirigir o olhar quando terminar de atender por completo quem está na sua frente. Você se torna invisível até então, mesmo que só queira fazer uma simples pergunta (não tem essa de interromper “rapidinho”). Mas ninguém vai te apressar quando for sua vez.

Para nós brasileiros, acostumados a fazermos muitas coisas ao mesmo tempo, isto é um pouco irritante as vezes, mas com o tempo se aprende a esperar.

Kiwis também demoram a responder emails e muitos não trabalham todos os dias da semana.
Este jeito relax e a falta de urgência às vezes são interpretados como falta de ambição. Afinal, nos tempos de hoje, time is money…

3ª – Conservar a pureza
À primeira vista, a “ingenuidade”dos kiwis é meio chocante, mas quando você se acostuma com ela, passa a achar adorável!

A falta de desconfiança se deve, principalmente, à uma cultura de honestidade, na qual existem regras claras e o esforço comum em mantê-las, além de uma forte intolerância contra a corrupção e malfeitos!

Não faz parte da cultura kiwi estacionar o carro em local proibido, furar filas, subornar policiais, ou qualquer comportamento com base na Lei de Gérson, onde “O importante é obter vantagem em tudo”. Mas nem sempre foi assim! Há três décadas o país estava infestado de corrupção, igual ao Brasil ou pior. Hoje é um dos países menos corruptos do mundo. A virada aconteceu com a perseguição implacável aos corruptos. Uma legião de pessoas afins, com princípios éticos e elevado conceito de cidadania fizeram com que o país desse a volta por cima.

Os kiwis são muito abertos às novas ideias. Em nossas trocas de e-mails em busca de apoio para o nosso projeto, fomos tratados como verdadeiros amigos. Pelo menos três desconhecidos ofereceram suas casas para passarmos uns dias e outros tantos dedicaram tempo a nos passar dicas valiosas.

Esse jeito deles pode parecer estranho para nós brasileiros, que temos motivos de sobra para sermos desconfiados, mas faz sentido em se tratando do país eleito o menos corrupto do planeta em 2013 (pela ONG Transparência Internacional em análise sobre 182 Estados). Não é toa que os índices de confiança interpessoais sejam altos por aqui!

Mas se percebem que se tenta tirar vantagem deles, não pensam duas vezes em deixar claro que não gostaram. São muito francos, diretos, e não tem pudor em falar o que pensam.

Eles também não colocam malícia em tudo, diferente dos latinos. Acham natural, por exemplo, desconhecidos do sexo oposto sorrirem e se cumprimentarem na rua, sem interpretar este ato como um convite pro sexo. Vamos copiar?

4ª – Manter a mente aberta
A Nova Zelândia é uma nação vanguardista, que desde cedo esteve à frente de seu tempo. Grande defensora dos direitos humanos, o país criou leis rígidas contra qualquer tipo de discriminação.

Foi o primeiro país a instituir o direito de voto às mulheres em 1893, aos idosos o direito às pensões e atua ativamente nas negociações internacionais sobre proteção do meio-ambiente e programas antinucleares.

Acolhe casais do mesmo sexo com os braços abertos, além de ter sido o primeiro país na região da Ásia-Pacífico a legalizar o casamento homossexual. Bares e clubes gays podem ser encontrados em todo o país de Queenstown a Auckland.

O aborto aqui também é legalizado e religião é uma questão de consciência de cada um.

5ª – Faça você mesmo
Enquanto a classe média no Brasil sempre paga a alguém para fazer pequenos reparos na sua casa, manda emoldurar um quadro ou contrata um jardineiro, aqui na Nova Zelândia o comum é o princípio “faça você mesmo” (em inglês, do it yourself, sigla DIY).

Aqui fazer faxina, pintar a casa, trocar um piso, colocar uma porta nova, cortar a grama, entre outras atividades, são tarefas rotineiras de qualquer família. As atividades são unisex e as mulheres não são poupadas de nenhum trabalho físico, já que a cultura não a enxerga como sendo mais frágil que o homem.

As pessoas não se envergonham disso e acham supernormal. Um dos motivos é o custo da mão de obra por aqui. Como os salários para qualquer função são dignos (O salário mínimo é atualmente é NZ$ 13.75 por hora), incluindo faxineiras, carpinteiros, pintores, pedreiros, entre outros, chamar alguém para realizar uma tarefa destas sai caro. Para eles, nada mais natural economizar esta grana e fazer eles mesmos.

Os Kiwis não se sentem diminuídos por colocarem a mão na massa e a classe média neozelandesa não compartilha do medo que a classe média brasileira tem de parecer pobre.

Nossa lista não acaba por aqui! Poderíamos também citar o grande respeito que eles tem pelo meio ambiente, a forma como criam seus filhos para serem independentes, o senso de cidadania, entre muitas outras coisas. É, a Nova Zelândia vai deixar muitas saudades… Ôooo povinho bom!!!!