Texto do curador Ademir Assunção sobre a exposição

Por: Redação

Paulo Leminski: 20 Anos em Outras Esferas

Com quantos Paulos se faz um Paulo Leminski? O poeta curitibano sempre foi um e sempre foi mil: estudioso de línguas (inglês, francês, latim, grego, japonês, espanhol), compositor popular, judoca zen-budista, erudito familiarizado com a poesia clássica ocidental e com as rupturas das linguagens mais radicais, moleque culto tomado pelo espírito rebelde do verdadeiro rock’-n’-roll, livre-pensador cosmopolita que se intitulava “A Besta dos Pinheirais”. Todos convergindo para um único centro: o de poeta em tempo integral. Intenso, como um vendaval. Sutil, como um beija-flor.

O múltiplo poder transformador da arte de Paulo Leminski quiçá esteja espalhado em cada canto dessa exposição. Seja nos poemas impressos em seus livros, seja nas composições individuais ou em parcerias gravadas por dezenas de intérpretes, nos depoimentos registrados em vídeo, nos manuscritos em papel de carta, guardanapo ou cadernos (como o “laboratório” do livro Catatau) ou nos textos inéditos ainda encerrados em 18 caixas plásticas azuis. Alguns deles, trazidos pela primeira vez a público, aguardam zeloso estudo para futuras publicações.

Aliás, fuçar esses arquivos que reclamam um urgente memorial à altura da obra leminskiana foi a parte mais emocionante de todo o trabalho. Mais que isso: um privilégio. Meu mais profundo agradecimento a Alice Ruiz e às filhas Áurea e Estrela Ruiz Leminski pela confiança depositada.
A impressionante vitalidade e a desmedida paixão pela vida nos deixam a nítida sensação de que 20 anos após sua passagem “para o sonho de outras esferas” Paulo Leminski continua mais vivo do que muitos vivos. A impressão é que a qualquer momento ele pode entrar pela porta bradando seus versos incendiários e nos convidar para uma nova rebelião contra a assustadora mercantilização da arte e da vida. Você toparia?

Ademir Assunção