Exclusivo: o arquivo de fotos da cantora

Por: Keila Baraçal

No baú do fotógrafo que Paulo Kawall, 55, guarda em sua casa na Vila Madalena estão guardadas imagens de valor incontável. Nele há centenas de fotos da mulher que ele considera a melhor cantora do Brasil: Elis Regina. Ali estão cliques feitos em estúdios ou shows que deverão virar um livro de edição única – 5 mil exemplares, cerca de 100 fotos, com um custo estimado de R$ 1 milhão. Paulo foi o retratista exclusivo da intérprete desde 1976, por mera escolha da cantora. “A fotografia era o nosso elo. Eu, por ser apaixonado por fotografia e ela, por gostar do meu trabalho”.

“O melhor ângulo dela é o lateral”, relembra o fotógrafo. Elis tinha um pouco de estrabismo, então era preciso saber o momento exato de clicar a cantora. “Talvez ela tenha me escolhido por isso. Pelo fato de eu focá-la de outras maneiras”. Quando se refere a Elis, muitas vezes Kawall conjuga o verbo no presente (“Elis é a maior cantora do Brasil”; “Elis não gosta de maquiador”). Para ele, a artista ainda vive e “está no ar”.

Das histórias que passam pela memória do fotógrafo está o presente que Samuel Mac Dowell – último romance de Elis – ganhou. Certo dia, enquanto conversavam, ela disse querer presentear o namorado com uma seleção de fotos. “Falou que estava apaixonada e que era para eu mesmo escolher as fotos e montar um álbum”. Assim foi feito um conjunto de aproximadamente 15 imagens.

Kawall conheceu Elis aos 21 anos de idade. Acabara de voltar de Manaus e na mala trazia o equipamento da Hasselblad, com o qual possuía pouca intimidade. Tinha sido contratado para um trabalho na revista “Música”. Seria a primeira edição do periódico e a pauta era sobre o lançamento disco de Elis – “Falso Brilhante”. Fotos feitas, entrosamento concluído. Dali em diante, Elis quis apenas ser fotografada por uma pessoa. A parceria acabou quando ela morreu, em 1982. Ele se lembra que o ensaio de fotos para o próximo disco já estava marcado.

Hoje Kawall – que antes era conhecido como Paulo Vasconcelos – não atua profissionalmente como fotógrafo. Faz retratos por prazer e substituiu a máquina analógica pela digital. Nunca deixou de fazer fotos mundo afora. O gosto pela imagem veio ainda quando criança. Em uma viagem com a família ao Rio Grande do Sul, ganhou da mãe uma máquina fotográfica. “Ela disse que eu seria o fotógrafo oficial. Nunca mais tive dúvidas de que queria ser fotógrafo”.

Kawall fez um curso de Fotografia, foi contratado por algumas das principais gravadoras instaladas no Brasil e, além de Elis, traz na bagagem fotos de Rita Lee, Hermeto Pascoal e Ney Matogrosso. Já a ideia sobre  as fotos da cantora permanece viva. Seu trabalho espera apenas um patrocínio para fazer parte das prateleiras das livrarias.

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