‘8x Hilda’: leituras online investigam o teatro de Hilda Hilst

Projeto comemora os 90 anos de nascimento da escritora paulista e encena textos importantes da autora!

Até 28 de março de 2021

Quarta - Domingo

Domingos, às 18h (leituras ao vivo) e quartas, às 20h (reprise da apresentação com tradução em Libras)

Recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência não informados pelo próprio organizador do evento

A grande escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004) ganha uma homenagem para lembrar seus 90 anos: o ciclo de leituras dramáticas “8x Hilda”. Todos os domingos, às 18h, até o dia 28 de março, um grupo de atores se encontra virtualmente para encenar e discutir um dos textos dela.

As leituras podem ser conferidas no YouTube @CuradoriaHilst e a gravação de cada apresentação é retransmitida nesse mesmo canal, com tradução em Libras – Língua Brasileira de Sinais, às quartas-feiras, às 20h.

“8x Hilda” investiga o teatro completo da escritora paulistana Hilda Hilst
Créditos: Juan Esteves
“8x Hilda” investiga o teatro completo da escritora paulistana Hilda Hilst

Com curadoria de Fábio Hilst, o projeto passa por todas as peças de Hilda Hilst, escritas no final dos anos 60, em plena ditadura militar. Quem participa das leituras são os atores Lavínia Pannunzio, Joca Andreazza, Flávia Couto e Kiko Rieser, que também se alternam na direção.

Ainda dá tempo de conferir sete dos oito textos: “O Rato no Muro”, “O Visitante”, “Auto da Barca de Camiri”, “As Aves da Noite”, “O Novo Sistema”, “O Verdugo” e “A Morte do Patriarca”. Isso por que a leitura de “A Empresa (A Possessa)” já foi transmitida no dia 7 de fevereiro.

A ideia do projeto “8x Hilda” é mergulhar no universo teatral da autora, a partir de um estudo profundo que desvenda os textos, subtextos e mais de 60 personagens. Toda essa dramaturgia, criada em um contexto bastante opressivo para o teatro e os artistas, é considerada um ensaio para a prosa de Hilda na década de 1970, que é mais livre nos artifícios da linguagem e nas tramas do cotidiano.

As peças traduzem essa atmosfera claustrofóbica de opressão e de questionamento ao sistema, representado por instituições como a Igreja e o Estado. E os personagens – vítimas ou algozes – aparecem quase sempre em situações-limite, presos às estruturas que escravizam e alienam.

Um pouquinho sobre Hilda Hilst

Nascida na cidade de Jaú, no interior de SP, Hilda Hilst foi ficcionista, cronista, dramaturga e poeta e é considerada uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século 20. Ela começou a carreira literária aos 20 anos, com a publicação do livro de poemas “Presságio” em 1950.

Ao longo de 50 anos, escreveu mais de 40 títulos – entre poesia, teatro e ficção -, que renderam importantes prêmios literários no Brasil e foram publicados em países como Itália, França, Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Argentina.

Em 1965, Hilda se mudou para Campinas e iniciou a construção de seu porto de criação literário, a famosa Casa do Sol, onde escreveu cerca de 80% de sua obra. Entre alguns de seus títulos mais famosos, estão “Fluxo-Floema” (1970), “Rútilo Nada” (1993), “A Obscena Senhora D”, “Sete Cantos do Poeta para o Anjo” (1962), “Cartas de um Sedutor” (1991) e “Com Meus Olhos de Cão” (1986).

Curtiu? Então, confira abaixo a programação completa do projeto “8x Hilda” e já marca na agenda para não perder nadinha!

14 de fevereiro
“O Rato no Muro” (1967), com direção de Kiko Rieser

Tudo se passa em uma capela, onde a Superiora está cercada por nove irmãs, identificadas por letras de A a I. Estão ajoelhadas, e ao lado de cada uma delas, o “chicote de três cordas”. Cada uma das religiosas expressa visões diferentes, a partir de pequenos abalos ao austero cotidiano do claustro. Irmã H (alter ego da autora) é a mais questionadora e lúcida. Tenta em vão mostrar às outras a necessidade de libertação, representada pelo desejo de ser o rato, único capaz de ultrapassar os limites do muro da opressão e do pensamento único.

21 de fevereiro
“O Visitante” (1968), com direção de Lavínia Pannunzio

Ana, encantadora e meiga, descobre-se grávida. Mas Maria, sua filha, estéril e parecendo mais velha, levanta suspeitas sobre a paternidade, já que seu marido, genro de Ana, é o único homem da casa. A chegada de um visitante, o Corcunda, provoca uma distensão sem, no entanto, apagar o conflito que, de um lado tem o apelo da vida, do sexo e do amor e, do outro, a aspereza de um mundo sem prazer.

28 de fevereiro
“Auto da Barca de Camiri” (1968), com direção de Joca Andreazza

O texto trata do julgamento do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara, morto em Camiri, na Bolívia – ainda que seu nome não seja mencionado. Sob a tensão permanente dos ruídos de metralhadora soando do lado de fora e com o desconforto do cheiro dos populares que desagradam os julgadores, o Trapezista e o Passarinheiro estão prestes a serem condenados à morte.

7 de março
“As Aves da Noite” (1968), com direção de Kiko Rieser

A peça é baseada na história real do padre franciscano Maximilian Kolbe, morto em 1941, no campo nazista de Auschwitz. Ele se apresentou voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu pai de família sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros – o padre, o carcereiro, o poeta, o estudante, o joalheiro –, visitados pelo comandante da SS, pela mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS.

14 de março
“O Novo Sistema” (1968), de Joca Andreazza

O Menino prodígio em física não se conforma com a execução dos dissidentes em praça pública nem com a opressão – desta vez exercida pela ciência – à evolução espiritual do indivíduo. Assim como em “A Empresa”, é evidente a afinidade com a literatura distópica de George Orwell e Aldous Huxley.

21 de março
“O Verdugo” (1969), com direção de Flávia Couto.

O texto conta a história do carrasco que se recusa a matar o Homem, um agitador inocente, condenado pelos Juízes e amado por seu povo. Temendo reações contrárias, os Juízes tentam – em vão – subornar o verdugo para que este realize a tarefa o mais rápido possível. Apenas o jovem filho entende a recusa do pai. A mulher, ao contrário, aceita a oferta em dinheiro e toma o lugar do marido ao pé do patíbulo, com a concordância da filha e do genro.

28 de março
“A Morte do Patriarca” (1969), com direção de Lavínia Pannunzio

Um Demônio com “rabo elegante” e de modos finos discute os dogmas da religião e o destino humano com Anjos, o Cardeal e o Monsenhor, ante a visão dos bustos de Marx, Mao, Lenin e Ulisses, de uma enorme estátua de Cristo e da tentativa do Monsenhor de colocar asas na escultura de um pássaro. O Demônio seduzirá o Cardeal a tomar o lugar do Papa.

Saca só essa outra #DicaCatraca: