Antonio Nóbrega integra evento sobre cultura popular brasileira

Na sexta-feira, dia 25 de agosto, o Teatro Brincante recebe a programação da Jornada Fazer Pensar Brasil, que promove uma série de palestras e rodas de conversas sobre manifestações populares brasileiras. Com entrada Catraca Livre para todas as atividades, o evento é realizado pelo Instituto Brincante, em parceria com as universidades de Princeton e Federal do Rio de Janeiro. É possível fazer sua inscrição prévia aqui.

O evento discute sobre os valores, conteúdos e formas do que identificamos como popular e suas funções sociais no Brasil. A lista de palestrantes inclui Pedro Meira Monteiro, Antonio Nóbrega, Ricardo Teperman, Paulo Iumatti, Lilia Schwarcz, José Miguel Wisnik, Heloisa Buarque de Hollanda, Lira Neto, Rosane Almeida, Maurício Hoelz, Paulo Dias, André Botelho e André Ricardo Heráclio do Rêgo.

A Jornada Fazer Pensar Brasil é uma realização do artista Antonio Nóbrega, com o apoio da Princeton University e da UFRJ

Um dos destaques da Fazer Pensar Brasil é a atividade conduzida por Rosane Almeida, que propõem uma grande ciranda, com muito da boa e velha dança cantada na infância. A ideia do encontro é promover um descanso para a cabeça e deixar os corpos pela brincadeira física e sonora.

Confira a programação da Jornada Fazer Pensar Brasil:

  • Desafios e missões: o mundo além da escrita | 9h30

Mesa mediada por Antonio Nóbrega, com Pedro Meira Monteiro, André Botelho, Maurício Hoelz e Lilia Moritz Schwarcz

  • Atividade com Rosane Almeida | 11h50
  • Escuta e política nos Brasis | 14h

Mesa mediada por Pedro Meira Monteiro, com Heloísa Buarque de Hollanda, Ricardo Teperman, José Miguel Wisnik e André Ricardo Heráclio do Rêgo

  • Batuque, samba e poesia | 16h20

Mesa mediada por André Botelho, com Antonio Nóbrega, Paulo Teixeira Iumatti, Paulo Dias e Lira Neto

Tema das palestras

  • “Questão de mais-Brasil menos-Brasil: brasilidade além do nacionalismo em Mário de Andrade”
    Com André Botelho

Brasilidade, identidade nacional e nacionalismo não são termos intercambiáveis no léxico de Mário de Andrade, e talvez também noutros autores modernistas. São categorias sem dúvida relacionais, pois ganham significados uma em relação às outras, mas não são exatamente equivalentes.

Buscar distinguir essas categorias e qualificá-las do ponto de vista do autor constitui tarefa premente e tão mais importante à medida que se trata de restituir a complexidade própria da obra de Mário de Andrade, e de seu contexto original, ambos extremamente disciplinados pela rotinização de paradigmas normativos e teleológicos voltados à discussão da formação da identidade nacional e do nacionalismo cultural no Brasil moderno.

  • “O sertão no imaginário brasileiro”
    Com André Ricardo Heráclio do Rêgo

Trata-se de fazer um breve apanhado da ideia, da representação dos sertões ao longo da história, do século XV até hoje, sobretudo no que se refere ao imaginário brasileiro, mas sem esquecer o português e o africano. A ideia de sertões é essencial na discussão da identidade nacional e ela tem uma de suas mais fortes expressões e repercussões justamente no mundo da cultura popular.

Ela repercute também fortemente na cultura dita erudita, seja na área de ficção, seja na na ensaística, seja na música, seja na literatura, seja na história, seja na geografia. O fio condutor da palestra são Ariano Suassuna e João Guimarães Rosa.

  • “Uma poética para o Brasil”
    Antonio Nóbrega

Por onde conversam e ainda mais poderiam conversar os Brasis.

  • “Fracassos e escuta na Universidade das Quebradas”
    Heloisa Buarque de Hollanda

Hoje, a tradução cultural, a alteridade, a diferença, enfim, o encontro, ou mesmo o embate, com o outro são questões que povoam nossas preocupações teóricas e políticas, sem dúvida, urgentes neste momento de crescentes e implacáveis xenofobias e intolerâncias. É desse ponto de vista que a palestrante apresenta o Laboratório de Tecnologias Sociais, chamado Universidade das Quebradas, criado em 2009, na UFRJ.

A missão deste laboratório é articular professores, pesquisadores e alunos da universidade com os intelectuais, artistas, ativistas e produtores culturais das periferias, já com um trabalho relativamente consolidado, e experimentar formas de produção de conhecimento compartilhada.

  • A influência deletéria do urbanismo
    José Miguel Wisnik

Se Mário de Andrade resguarda a música popular autêntica, a certa altura do ensaio sobre a música brasileira, da “influência deletéria do urbanismo”, isto é, do mercado e da influência estrangeira, colocam-se algumas questões difíceis sobre a natureza do popular.

  • Lima Barreto e seus subúrbios
    Lilia Schwarcz

Pode-se dizer que Lima Barreto escreveu uma literatura em trânsito. Ele tomava todos os dias o trem da central e da sua janela observava arquiteturas, personagens, tipos e passageiros. O afeto que guardava por seus subúrbios, diante das práticas populares que via, era imenso. Afeto como identificação e mudança diante do que se observava.

  • A gênese do samba: entre a festa e a agonia
    Lira Neto

Como o moderno samba urbano, criação coletiva nascida em meio aos espaços de comunidades negras na virada do século XIX para o século XX, praticado nos fundos dos quintais pobres e alheio aos modernos conceitos de autoria, passou à condição de um dos símbolos máximos de uma suposta “identidade nacional”?

  • Na pancada do ganzá: um livro de amor inacabado
    Maurício Hoelz

A primeira linha do prefácio do inacabado “Na pancada do ganzá”, de Mário de Andrade, afirma ser esse não um livro de ciência, mas um “livro de amor”. Nele, está em jogo compreender a cultura popular por meio da empatia, substituindo o discurso sobre ela por um diálogo com ela que pudesse levar ao reconhecimento dos seus portadores sociais em sua dignidade e alteridade plenas e a formas mais descentradas, plurais e inclusivas de identidades coletivas.

  • A fumaça que sobe dos nossos quintais
    Paulo Dias

O palestrante fala sobre os batuques de terreiro do sudeste, sua ancestralidade e atualidade, no retraçar permanente das conexões simbólicas e sociais dos grupos celebrantes.

  • Utopia e absurdo no Brasil contemporâneo: reflexões a partir dos folhetos de cordel
    Paulo Teixeira Iumatti

O gênero cordelístico do Marco atualiza o antigo paradigma da poesia como monumento perene, baseando-se na afirmação desafiadora de uma excelência poética insuperável. Surgido no âmbito da cantoria no século XIX, e transposto para a escrita dos folhetos de cordel, ele parece constituir em si mesmo um paradoxo, podendo ser visto, também, como instrumento de disputas envolvendo a reiteração ou a contestação de um lugar subordinado (social, racial, simbólico).

  • “Não é pra ouvir, é pra gente se deixar ouvir”: a liturgia do canto, de Mário de Andrade a Alfredo Bosi
    Pedro Meira Monteiro

Entre o transe místico e o êxtase coletivo desenrolam-se algumas das práticas tidas por populares, fundando aquilo que, de Mário de Andrade a Alfredo Bosi, identifica-se a uma liturgia da comunidade. Tal serviço, entoado pelo povo, coloca a comunidade diante de seu sentido transcendente, a um só tempo distante e próximo, mas feito tangível pelo canto.

  • Paratodos, para os pobres, pra ninguém
    Ricardo Teperman

A ideia do “fim da canção” diagnostica o esgotamento do grande projeto modernista de construção de uma cultura brasileira “para todos”, que orientou a bossa-nova, o tropicalismo e boa parte dos vários desdobramentos da MPB a partir dos anos 1970.

O rap apresentado pelos Racionais MCs na virada dos anos 1990 representou uma grande novidade na medida em que era feito dos “pobres para os pobres” , desprezando tanto a ideia de povo por trás da letra P, de popular, como a ideia de nação encerrada no B de Brasil.

Ao anunciarem a “reforma agrária na música popular brasileira”, adotando procedimentos estéticos e mercadológicos consagrados na tradição hegemônica da MPB, Emicida e Criolo propõem incluir a navalha de Mano Brown no prestigioso retrato feito de Caetano e Chico.

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