Burkina Faso: A terra dos homens íntegros

Por: Catraca Livre

Localizado à oeste da África, num clima tipicamente tropical, Burkina Faso tem uma história de tradição e de pobreza. A pobreza pode ser identificada nos dados estatísticos que a apontam como o quarto país mais pobre do mundo com o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,303, numa escala de 0-1, atrás apenas de Serra Leoa, Níger e Etiópia.

A população de Burkina vive basicamente da agricultura de subsistência, o que não garante uma alimentação regular por consequência da chuva escassa que atinge o país.

Contudo, a riqueza cultural burquinesa coloca-se acima das dificuldades socioeconômicas. Mesmo vivendo diariamente com a fome, o analfabetismo e o desemprego, Burkina Faso, que abriga mais de cinquenta etnias, mostra sua riqueza nas cores estampadas nas vestimentas, no som saído das batucadas, na ginga das danças e ainda na organização do Festival Noites Atípicas de Koudougou – NAK que reúne de uma só vez grupos e artistas que mostram seus valores culturais.

O NAK é o grande responsável pela economia burquinesa, considerando que o Festival possibilita arrecadar uma renda que ajuda nos avanços local. Foi através do Festival que chegou em Burkina Faso a Orquestra Mundanda, do músico Carlinhos Antunes. A visita foi para a Orquestra representar o Brasil, porém, a viagem se transformou num documentário.

Dirigido por Carlinhos Antunes e Márcio Werneck o documentário “Sete Dias em Burkina” mostra o país que supera as dificuldades com o que tem de mais valioso – a cultura. Conversando com a população, o documentário retrata pessoas que contribuem para o desenvolvimento do país e ainda mostra o carinho e a dedicação que cada um tem em prol de Burkina.

Foi o caso de Koudbi Koala, presidente da Associação Benebnooma. Koala foi a exceção de Burkina por conseguir estudar, entrar na Universidade e conhecer outras partes do mundo. Seu desenvolvimento acadêmico fez com que voltasse para seu país e realizasse seu sonho de montar uma escola. Primeiro surgiu a escola de percussão e dança e depois se expandiu. Hoje, a Associação atende crianças e adolescentes com a alfabetização.

Outras personalidades de Burkina são retratadas com a sutileza de não criar estereótipos ou retratar a miséria, ao contrário disso, mostra um povo que se destaca por seus sonhos e simplicidade.

Um ano depois de gravar o documentário, a equipe de Carlinhos Antunes voltou à Burkina para exibir o material. Exibiram e começaram um novo documento, agora “Barka”. Esse segundo documentário significa “Obrigado” e consegue agradecer a hospitalidade com o mesmo propósito do primeiro, de expandir Burkina Faso para o olhar de outras culturas.

O Brasil já teve contato com esses documentários. Recentemente, “Barka” foi exibido no Museu da Casa Brasileira, na Pílula da Feira Preta e ainda no canal SESC TV.

Em entrevista para o Baoobaa, Carlinhos Antunes conta sua trajetória musical e seu despertar para Burkina. Lá, ele encontrou o que mais desperta o seu instinto de músico, o “ritual, independente do outro, a união e o conceito de lidar com o músico, o que é resultado de relações com o mundo”.

Burkina Faso só complementou seu amor pela música do mundo e possibilitou trazer para o Brasil mais um estilo diferencial pelo qual ele gosta de criar. “O Brasil é um mar de cultura que não se contrapõe, se completa”, afirma Carlinhos ao contar-nos sobre sua mistura cultural.

matéria publicada por Jessica Gonçalves no blog Baoobaa

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