Inezita Barroso, musa da viola caipira, é tema de exposição

Entusiasta do folclore brasileiro e mestre em ir contra as regras ditadas para uma mulher nos anos 1950, Inezita Barroso é homenageada em Ocupação no Itaú Cultural

Por: Catraca Livre

Dando continuidade ao ciclo de Ocupações dedicadas a mulheres expressivas na arte e cultura brasileiras – como a atriz Laura Cardoso, a escritora Conceição Evaristo e a crítica de arte Aracy Amaral -, agora é a da musa da viola caipira, Inezita Barroso (1925-2015), quem ganha homenagem à sua vida e obra no Itaú Cultural.

Cantora, compositora, violeira, atriz, biblioteconomista, apresentadora do programa de maior duração da televisão brasileira (Viola, Minha Viola, em exibição durante quase 35 anos na TV Cultura) e, acima de tudo, mulher de pulso firme.

Entrada da Ocupação Inezita Barroso, ainda em fase de finalização

A exposição, que tem curadoria do violeiro Paulo Freire, convidado diversas vezes do programa de Inezita, apresenta itens raros como cadernos, instrumentos, trechos de entrevistas, capas de discos, fotos e ambientes que remontam a épocas vividas pela cantora, assumidamente apaixonada pelo campo. Em entrevista ao Catraca Livre, Freire contou que está há três meses na preparação deste projeto, que é aberto ao público no dia 27 de setembro e tem visitação até 5 de novembro, com entrada gratuita.

A visita começa com recriações do cenário de Viola, Minha Viola e um telão que exibe momentos do programa, atividade pela qual ela ficou mais conhecida. Após, o visitante se depara com a ala infância e família, com imagens e cadernos da artista (Inezita foi graduada em biblioteconomia e acabou por facilitar o trabalho de pesquisa sobre si, já que armazenava de fotos a anotações, passando por matérias de jornal).

Na sequência, o público encontra discos e partituras, prêmios – de cinema e de música -, característicos do momento de efervescência de sua carreira.

Paulo Freire conta que um dos momentos mais memoráveis da carreira de Inezita Barroso foi em 1957. Segundo ele, para a sociedade paulistana da época, foi um grande choque o fato de uma mulher, desquitada, que usava calças, tocava viola e falava de pinga, viajar até a Paraíba dirigindo um jipe com mais dois homens com o objetivo de descobrir e resgatar os segredos mais ocultos da cultura brasileira. A viagem em questão foi motivada pela personagem que Inezita interpretaria em um filme sobre Jovita Feitosa, conhecida por se fingir de homem para poder se alistar no exército – o qual, infelizmente, nunca saiu.

E, no último momento, o recolhimento de Inezita a partir dos anos 1960, quando vieram a Jovem Guarda e Bossa Nova dominando as rádios e veículos de comunicação, competindo com sua viola. Aqui encontram-se livros, frases célebres sobre literatura, cultura e folclore, e desemboca novamente na entrada da exposição, fazendo com que o programa da TV Cultura seja o início e o fim da Ocupação. De acordo com o curador, Inezita gostava muito do mar e a mostra é fiel até nisso, sugerindo o movimento das ondas: a calmaria, a explosão, o recolhimento, e a calmaria novamente.

No mais, a visita é obrigatória para a manutenção e preservação das raízes da cultura brasileira e do folclore, tão próximos e tão distantes na era das playlists e plataformas de streaming. E, é claro, para se inpirar com a figura de Inezita: antes de feminismo ser palavra, provou com sua vida o que uma mulher pode fazer – ou seja, tudo o que ela quiser.


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