Passei uma semana no lar da guru viva mais famosa da Índia

Por: Catraca Livre

Uma parceria com Vice Brasil

Um dos grandes clichês de quem viaja até a Índia é que você não decide visitar o país – ele te chama. Esse chamado pode ser na forma de uma propaganda do Taj Mahal no Google, um livro do Lonely Planet num sebo da sua cidade ou até uma samosa na bandeja de um vernissage onde você entrou de bicão para filar comida e vinho. As pessoas procuram por sinais antes de ir e depois que já estão na Índia. E foi assim quando encontrei uma monja budista alemã na região do Himalaia que me incentivou a pegar um avião até o ashram de Amma: a santa dos abraços da Índia. Não concluí logo de cara que isso era a vontade de outra pessoa projetada na minha, não sentei e analisei os prós e contras – só fui porque ser mandado, como acontecia quando eu era criança, era muito mais fácil que chegar a uma decisão por conta própria.

Eu tinha passado os dez dias anteriores em meditação silenciosa num monastério em Dharamkot. A monja budista alemã tinha feito meu check-in no monastério, pegado meu passaporte, meu celular, minha carteira e meu iPad. Quando ela fez meu check-out, devolvendo todas essas coisas, eu a agradeci e ela começou a chorar.

“Desculpe, não é muito budista dizer obrigado?”

“Não, não é isso”, ela disse, “é só que, quando encontro alguém que já encontrei antes, sempre choro.”

“Você diz dez dias atrás?”

“Não”, ela respondeu, “em outra vida. Você e eu nos encontramos em outra vida.”

Um arrepio correu pela minha espinha. Foi como um balde de água gelada – por acaso, o único tipo de água que sai dos chuveiros de quase toda a Índia. Eu queria fazer mais perguntas (como eu era, qual era nossa relação, éramos amantes?), mas não fiz. Em vez disso, perguntei: se ela me conhecia tão bem, aonde eu devia ir agora?

“Ah, isso é fácil”, ela afirmou. “A pessoa que conheci visitaria Amma. Ele não perderia tempo, ele só iria.”

Amma é uma mulher de 63 anos do Estado indiano de Kerala. Para seus seguidores, ela é, no mínimo, uma santa e, no máximo, a reencarnação de um deus no corpo de uma mulher. Agora que Madre Teresa morreu, Amma é incontestavelmente a mulher mais santa na Índia. Alguns vão dizer que ela é a mulher mais santa da Terra.

Andei até o próximo vilarejo e me hospedei no primeiro albergue que vi com um adesivo de Wi-Fi na janela. Para o viajante padrão, com duas mochilas, ligeiramente desnutrido, os dentes amarelando e uma coceira permanente por todos os colares em volta do pescoço, Buda não é o deus – o Wi-Fi é. O quarto tinha uma cama, uma mesa, um banquinho, uma lata de lixo e duas fotos emolduradas na parede: Amma quando criança e Amma adulta. Desci as escadas e perguntei à proprietária qual era a senha do Wi-Fi. (continue lendo aqui)