A luta de Candeia

Transformado após a tragédia, Candeia vira referência da resistência do samba

O samba fez parte da vida de Candeia. Em seus aniversários, ao invés de bolo tinha feijoada e partido alto. No natal, a mesma coisa. Desde pequeno frequentava as rodas e terreiros.

Ao longo do tempo, aprendeu a tocar violão, cavaquinho e a jogar capoeira. A cultura afro-brasileira penetrava em sua vida de uma forma especial, forjando aos poucos um líder de resistência.

Aos 18 anos, compôs com Altair Prego o seu primeiro enredo, destinado à Portela. No desfile daquele ano, em 1953, a escola obteve pela primeira vez a nota máxima em todos os quesitos do desfile.

Embora tivesse o pé no samba, participando inclusive do grupo Mensageiros do Samba, Candeia também era policial – carreira que lhe custou o movimento das pernas, paralisadas após levar um tiro na espinha.

Pintura sem arte“, “Peso dos anos” e “Eterna paz” são alguns exemplos de suas composições que retratavam a sua dor depois do acidente. A paralisia mudou sua vida, levando-o a reclusão. Contudo, o amor verdadeiro à música e a insistência dos amigos foram mais fortes. Conectado às suas raizez, Candeia renasceu crítico como nunca.

Em 1975, funda a Escola de Samba Quilombo com a intenção de fugir dos padrões que as escolas vinham assumindo e de criar uma expressão autêntica do samba. Para Candeia, o gênero havia se tornado um mero coadjuvante dos desfiles em vista dos novos valores que regiam o Carnaval.

O sambista até chegou a documentar seu descontentamento com a Portela, sua escola de coração, em uma carta na qual sugeria mudanças. Abominava que a cultura da escola de samba fosse colocada em segundo plano em detrimento dos chamados “carnavalescos” – artistas de telenovelas, artistas plásticos, cenógrafos, coreógrafos e figurinistas profissionais. Por isso, segundo ele, fez de sua nova escola o que um dia a Portela tinha sido.