Casuarina: ‘Em ‘7’, chegamos ao ápice da liberdade para ousar’

Um dos representantes da nova geração do samba, o Casuarina lançou o álbum “7”, o sétimo na carreira da grupo. Gravado em fevereiro deste ano no interior de São Paulo, no estúdio Gargolândia, o novo trabalho conta com 13 faixas e parcerias de nomes como Moacyr Luz, Aluísio Machado, Sérgio Fonseca, João Martins e Alaan Monteiro. O registro conta também com a participação da cantora Maria Rita.

Após homenagear o compositor baiano Dorival Caymmi em “No passo de Caymmi” (2014), o grupo voltou a marcar presença no âmbito autoral. No entanto, o disco não é o primeiro em que os integrantes da banda escrevem todas as faixas; em “Trilhos – Terra Firme” (2011) eles já demonstraram a que vieram.

“Essas coisas são complementares na missão que a gente tem enquanto grupo: tanto lançar luz sobre um repertório que não tem espaço com a frequência que deveria ter nas rádios, quanto mostrar as nossas coisas”, revela João Cavalcanti em entrevista exclusiva ao Samba em Rede.

O nome “Casuarina” refere-se ao nome da rua onde ficava o estúdio em que o grupo ensaiava, no bairro do Humaitá
O nome “Casuarina” refere-se ao nome da rua onde ficava o estúdio em que o grupo ensaiava, no bairro do Humaitá

O repertório é composto por uma maioria de inéditas; são músicas de várias épocas: desde o início dos anos 2000 – há tempos guardadas na gaveta – até períodos mais recentes. Entre os destaques do disco estão “Eu Já Posso Me Chamar Saudade”, parceria de João Cavalcanti com Moacyr Luz e interpretada pela cantora Maria Rita; “A Matemática do Amor”, composta por Gabriel Azevedo e o mestre Aluísio Machado; “Firme e Forte”, “Deixa Sangrar” e “Pé de Vento”, todas do veterano Sérgio Fonseca com integrantes do grupo; e “Sumidouro”, de Cavalcanti com mais um representante da nova safra, João Martins. 

Ainda há espaço para “Quando Você Deixar”, um registro de profundo amor aos filhos, “Chicala”, que traz a levada do semba de Angola – lançada no disco “Partir” (2015) de Fabiana Cozza – e “Quiproquó”, que faz menção aos “causos” sentimentais de diversas origens. Todas essas de Cavalcanti. Escute o álbum completo aqui.

Outra novidade foi a de experimentar uma sonoridade nova, flertando com elementos do soul, jazz, funk e até do rock. Para isso, o quinteto convidou o baterista Diego Zangado, o contrabaixista João Faria, o pianista Nelson Freitas e o percussionista Renato Albernaz para participarem das gravações e dos shows de lançamento.

Quando perguntado sobre o processo de gravação, João diz que a sacada foi “levar até as últimas consequências os recursos e as limitações que a instrumentação tem. Você tem que brincar a dinâmica, com os silêncios, com os espaços. Isso nos deu uma liberdade de linguagem em função da instrumentação”.

Conhecidos por exaltar as composições do samba tradicional, Gabriel Azevedo fala sobre o espaço de atuação do grupo enquanto compositores da nova geração do samba: “A gente que respeita muito o samba, a história da música brasileira, o que a gente faz é o nosso olhar dentro desse baú.” 

O grupo venceu a 28ª edição do Prêmio da Música Brasileira na categoria “melhor grupo de samba”
O grupo venceu a 28ª edição do Prêmio da Música Brasileira na categoria “melhor grupo de samba”

Nome familiar entre as plateias da Lapa carioca, o Casuarina despontou no cenário musical no começo dos anos 2000. Hoje, somando mais de 15 anos de carreira, o grupo é considerado um dos expoentes da nova geração do samba, reconhecido também em vários países da Ásia, Europa e nos EUA.

Formado por Daniel Montes no violão de sete cordas, Gabriel Azevedo no pandeiro e voz, João Cavalcanti no tan-tan e voz, João Fernando no bandolim e vocais e Rafael Freire no cavaquinho e vocais, os sete álbuns e dois DVDs lançados por eles, assim como os prêmios conquistados – Prêmio Rival e Prêmio da Música Popular Brasileira -, dão uma ideia da amplitude de sua obra e do prestígio que desfrutam no meio musical.

Demonstrando consciência do que pretendem como grupo de samba, o Casuarina é um exemplo a ser seguido com sua concepção contemporânea, que dialoga com a tradição e com outros gêneros musicais sem se fechar em bairrismos. “A gente nunca renegou as abrangências musicais que os cinco têm. Não faz muito sentido, em nome de uma assepsia de gênero, ignorar essas bagagens. Em ‘7’, chegamos ao ápice da liberdade para ousar”, finaliza João.

Confira a registro completo: