Moacyr Luz questiona os rumos do samba e dos sambistas

Moacyr veio à redação do Samba em Rede para um bate-papo

Os tempos de Mauro Dias, jornalista que levava o samba para capa de jornal, beiram o inacreditável. Quem diz isso é Moacyr Luz, um dos grandes intelectuais do gênero. “As artes e os editais são elitizados”, ele explica o motivo do samba estar tão fora de moda.

Em luto por Efson, falecido no último dia 5, Môa levanta com um tom triste e crítico a questão do sambista que é anônimo. Tanto pela falta de reconhecimento quanto projeção, são poucos os artistas que tem o devido mérito.

Além disso, segundo ele, não existe idade para ser revelação. “Basta pegar o exemplo de Clementina de Jesus, ou até casos mais recentes, como Casquinha e Dona Inah”, fala.

Compositor, intérprete, violonista, arranjador, produtor, cronista e fundador do famoso Samba do Trabalhador. Tanta experiência na música, em especial o samba, o permite opinar sobre os rumos que o gênero vem levando. Moacyr relembra o ano de 1997, em que vinha a São Paulo com frequência para tocar no Vilaggio Café, na Bela Vista.

A casa recebeu shows de diversos nomes de peso, como Dona Ivone Lara, Monarco e Walter Alfaiate.O pequeno espaço, onde não caberia mais de 70 pessoas, tinha força o bastante para trazer grandes sambistas.

Este é um dos maiores exemplos da valorização do samba para o compositor. Em São Paulo, o prestígio e respeito pelo sambista carioca era tão grande que se refletiu na cidade de origem dos artistas, reerguendo o samba.

Hoje, no entanto, ele afirma: “O samba e o sambista são tratados como folclore. Só vira notícia se estiver morrendo ou tiver um discurso intelectual insuportável”. Embora existam exemplos como Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, que são fenômenos do gênero e ajudam muito na abertura de espaço para os músicos independentes, a maioria dos artistas não é vista ou cai em esquecimento.

Para ele, que é responsável por um dos eventos mais importantes do Rio, a herança que fica de seu trabalho no Clube Renascença é o exemplo de que as rodas podem ser realizadas de forma profissional. “Cada entrada de samba é um verdadeiro espetáculo, espero que isso seja um incentivo aos músicos. Isto é, pretensiosamente falando”, ele diz com um esboço de sorriso no rosto.