Verão Revolução resgata espírito independente

Por: André Nicolau

Há 15 anos, São Paulo assistia o nascimento de um dos mais importantes nomes de sua cena independente: a banda Dance Of Days. No vocal, Nenê Altro, então com 20 e poucos anos, representante efusivo do movimento punk local, subiu aos palcos para fazer música e mostrar a todo país que o significado de “Arte” pode ir muito além dos interesses da indústria cultural. Passaram-se os anos, mas não o engajamento. E foi assim, sob o lema “Faça Você Mesmo”, que o hoje quase quarentão (aos 39) idealizou o levante “Verão Revolução”.

Em busca do resgate do espírito independente, o projeto formado por indivíduos, bandas e coletivos, artísticos ou não, aposta nos conceitos de intercâmbio cultural, auxílio mútuo e cooperação entre os participantes, para que se viva novamente o promissor e descompromissado cenário alternativo dos anos 80 e 90.

Contudo, apesar de idealizador, Altro garante a descentralização e autogestão do festival. “Que se faça saber e se espelhe aos quatro cantos que isso não tem uma centralização, que não há um “grupo verão revolução”, pois o objetivo sempre foi o da disseminação da ideia e da atitude, para que seja absolutamente livre e fora de controle. Afinal, os grupos têm mais problemas com corrupção e desvios de caminho do que as ideias”.

A ideia, segundo ele, foi uma referência a um tradicional festival norte-americano, o “Revolution Summer”, realizado nos anos 80 na cidade de Washington. Mas a grande e principal inspiração veio mesmo do cenário alternativo nacional, como resposta aos descrentes que ainda insistem em sentenciar o fim do movimento independente. “Hoje o que mais se escuta por aí ou é que o independente ‘já era’ ou coisas tipo ‘como era boa a nossa época’ e todo esse ‘bla bla bla’. O ‘Verão Revolução’ veio em resposta a tudo isso, e por isso veio de maneira tão forte e por todos os lados do país”.

 “A arte não deve ser regrada por departamentos, associações, escritórios ou cabides de corrupção que mais dificultam do que auxiliam o músico”.

Programado para acontecer de janeiro a março deste ano, a agenda inclui  realização de shows, pelo menos uma vez por mês, nos núcleos locais participantes, feiras de fanzines (revistas de produção independente) e oficinas culturais.

Como movimento cultural, o circuito nacional independente sempre abriu espaço a manifestações artísticas, sociais e ecológicas, com a publicação de zines, apoio a grupos ativistas e  ongs culturais, tornando o possível  a troca recíproca desses valores. “Tudo isso é o que realmente possibilitou a qualquer pessoa estar inserida no contexto. Mesmo que não esteja em uma banda, mas pelo simples fato de se sentir parte de tudo que acontece”, esclarece Altro.

Além de apresentações na região metropolitana de São Paulo e interior, a programação também inclui shows em outras regiões do país, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Maranhão e Mato Grosso do Sul. A ideia de levar os ares da revolução a diferentes palcos, de norte a sul do Brasil, visa o fortalecimento e impulso das cenas locais.

Na contramão dos interesses da grande indústria cultural, o Verão Revolução  propaga ideais bastante incomuns para o mundo atual, pregando lições de valorização individual, autonomia e liberdade artística, que fazem do discurso “Faça Você Mesmo” não apenas simples retórica, mas, sobretudo, estilo de vida.  “A revolução está gritando do lado de fora da sua casa e você só não faz parte dela porque não quer. É essa a ideia que está movimentando todas as pessoas envolvidas no levante”, finaliza.

Confira a programação completa do festival.