Brasileira fotografa nova-iorquinas com mais de 80 anos

Em parceria com qsocial
17/04/2015 18:41

Como é a rotina de mulheres independentes e com mais de 80 anos em Nova York? Eis o mote do projeto Life Ever After, da fotógrafa brasileira Patrícia Monteiro, 25 anos, tocado quando ela fazia um curso por lá, em 2014.

Claire Gottfried toma o café da manhã, sua refeição favorita e preparada metodicamente todos os dias
Claire Gottfried toma o café da manhã, sua refeição favorita e preparada metodicamente todos os dias - Patrícia Monteiro

A ideia inicial era fotografar pacientes de Alzheimer, doença que a avó dela tem há alguns anos, mas, quando Patrícia conheceu quatro mulheres que moram no condomínio Penn South, que foi criado por sindicatos da década de 60, o projeto tomou outro rumo.

“As mulheres que eu conheci eram independentes, moravam sozinhas e tinham esse interesse social e político em suas próprias histórias”, afirma ela.

As conversas foram se estendendo, e a brasileira acabou se tornando amiga das senhoras americanas. “Sempre gostei muito de passar tempo com elas conversando sobre a política norte-americana ou sobre a diferença entre mulheres e homens na terceira idade, sobre amor. Era fácil conversar sobre tudo, coisa que hoje em dia não acontece mais com a minha avó, que, por conta da doença, fica mais alheia à realidade em volta dela.”

Camisolas de Claire Gottfried secam em seu banheiro
Camisolas de Claire Gottfried secam em seu banheiro - Patrícia Monteiro

Foram quatro as senhoras que tiveram seu dia a dia fotografado: Rita Immerman, 89 anos, Molly Kanner, 98 anos (que morreu em agosto do ano passado), Sonia Goldstein, 86 anos, e Claire Gottfried, 93 anos.

E o que ela encontrou foi graça e aventura em cada rotina que acompanhou. “Mostro o lado bonito de ser uma mulher independente, morando em Nova York e usufruindo de todas as vantagens de se morar lá. Claro que existem momentos tristes _ e quem não se sente sozinho de vez em quando? Mas queria mostrar o lado positivo, de que é possível e se vive bem, sim”, avalia.

Com o passar do tempo, cada uma das mulheres fotografadas foi mostrando suas características. “Eu acho todas as quatro incríveis, de seus jeitos diferentes. A Claire nunca se casou, apesar de ter tido muitos namorados. A Rita e a Molly tiveram dois amores, namorando depois da perda do marido. A Sonia, que acho que foi com quem me identifiquei mais, nunca namorou depois da perda do marido. Ela ainda usa aliança de casada e fala muito dele, mas de um jeito bonito.”

Sonia Goldstein durante visita ao Museu Whitney em Nova York
Sonia Goldstein durante visita ao Museu Whitney em Nova York - Patrícia Monteiro

Isso porque, segundo Patrícia, o marido ainda continua presente na vida de Sonia, ainda que ela se envolva com outras atividades. “Teve uma vez que eu lhe perguntei porque nunca tinha procurado outra pessoa, e ela disse que não se via como velha. Que ver os homens mais velhos era diferente para ela, que não gostava.”

Após a experiência, a fotógrafa diz não ter medo de se ver mais velha. “Mas tenho medo de perder a consciência, de ter Alzheimer. Quero poder ser independente e interagir com as pessoas ao meu redor. E acho que o projeto consegue passar esse lado mais positivo de envelhecer.”