Mulher africana combate a fome com o empoderamento feminino

Já que a Páscoa esteve próxima, lançaremos mão de um dito popular, mas apenas para expressar uma ideia, sem machucar nenhum bichinho: matar dois coelhos com uma só cajadada. O fato é que essa máxima se aplica perfeitamente às ações de uma africana chamada Salma Abdulai, 32 anos. Em Gana, ela passou a combater a fome com o cultivo realizado por mulheres sem-terra, um verdadeiro projeto de agricultura para o empoderamento feminino.

Os “coelhos”, no caso, são dois grandes problemas enfrentados no país em que nasceu – ela é de Tamale, norte de Gana, região em que as mulheres nem têm direito a serem donas de terras. Isso já dá a medida de o quanto o patriarcado dá as cartas por lá.

Outra dificuldade, verificada ao longo de todo o continente africano, é a fome. Segundo relatório da ONU, só em Gana, 24% das mortes infantis estão relacionadas à desnutrição.

Salma Abdulai, símbolo do empreendedorismo a serviço do empoderamento feminino

Para atuar nas frentes de combate a essas duas mazelas, Salma foi inovadora ao se valer, em seus propósitos, de um velho ingrediente, bastante conhecido da humanidade, porém um tanto esquecido nas últimas décadas.

Já ouviu falar do fonio? É um cereal indígena de alto teor nutritivo tão valorizado na Antiguidade que há rastros desse alimento nos túmulos dos egípcios. Consta que ele tem sido cultivado na África há cerca de 5.000 anos.

A vantagem desse grão é crescer em solos pobres e precisar de pouca água para se desenvolver. Também é livre de glúten, combate o diabetes e minimiza a erosão do solo. Sua colheita, porém, requer um processo manual que dificulta o cultivo em escala.

Formada em tecnologia agrícola e pós-graduada em economia agrícola, Salma passou a estudar o fonio como alternativa para combater a fome em Gana.

O fonio é um cereal que pode ser cultivado mesmo em solos secos e pobres

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Em 2014, dispondo de um capital de US$ 5.000 (R$ 16,5 mil), ela fundou a Unique Quality Product Enterprise, com o objetivo de capacitar mulheres sem-terra para a produção do cereal, realizada em terrenos que até então não eram férteis para a agricultura.

Na sede da empresa, 20 funcionárias são responsáveis por processar e embalar o alimento, que é distribuído em escolas, centros médicos e armazéns.

No campo, o número de agricultoras na operação já chega a 350 – a meta é que atinja 3.000 nos próximos anos. Elas atuam em 1.500 hectares de terra, gerando um montante de US$ 70 mil (R$ 231,7 mil) a cada safra. O negócio impactou 512 famílias até hoje.

Empoderamento feminino e resistência aos valores de uma sociedade patriarcal: são esses os pilares da luta de Salma Abdulai, que, pouco a pouco e com perseverança, aumenta o impacto de sua iniciativa.

Lembramos, então, de outro ditado – e fazemos nele pequenas adaptações para simbolizar o caso em questão: de grão em grão de fonio, uma nova galinha dos ovos de ouro contra a fome e o machismo enche o papo.

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Curadoria: engenheiro Bernardo Gradin, especialista em soluções sustentáveis.

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