23 obras incríveis ao ar livre para apreciar no Inhotim

A partir de maio de 2017, o público tem mais duas obras instaladas no Inhotim para visitar, ambas produzidas pela artista Elisa Bracher. As esculturas foram montadas nos jardins do parque e carregam dois elementos marcantes do trabalho da artista: peso e equilíbrio.

A primeira obra, Embrionário (2003), é composta por 13 toneladas de troncos de madeira que se apoiam e se empurram; já na segunda, Equilíbrio Amarrado (2004), blocos de mármore criam uma relação de tensão entre instabilidade a sustentação em uma instalação de seis metros de altura.

Pensando na quantidade de obras que estão disponíveis para o público no maior museu a céu aberto da América Latina, o Catraca Livre foi atrás das obras que podem ser admiradas e que estão espalhadas pelas áreas externas do Instituto. Ao todo são 23 montadas ao ar livre, confira:

[tab:1. Embrionário, Equilíbrio Amarrado]

Elisa Bracher

A escultora, gravadora e desenhista paulistana desenvolve, desde o início dos anos 1990, trabalhos que transitam por diferentes técnicas e linguagens. Interessada em testar os limites e as tensões entre os materiais com os quais trabalha, em poucos anos a artista conferiu dimensão monumental às suas esculturas. Apesar da escala grandiosa desses trabalhos, Elisa Bracher consegue manifestar a delicadeza no equilíbrio, tanto em seus desenhos em papel de arroz como nas grandes instalações. A artista também é idealizadora do Instituto Acaia, organização social sem fins lucrativos que oferece atividades a crianças, adolescentes e seus familiares de regiões vulneráveis de São Paulo.
Próximos projetos artísticos

[tab:2. The Mahogany Pavilion]

The Mahogany Pavilion (Mobile Architecture No.1), 2004
Epsom, Inglaterra, 1967; vive em Glasgow, Escócia, e BerlimThe Mahogany Pavillion (Mobile Architecture No.1), 2004

The Mahogany Pavilion (Mobile Architecture No.1), 2004

Veleiro Loch Long invertido (no. 73) construído em 1963 pela Boags Boat Yard em Largs, Escócia, usando mogno sul-americano

Evocando questões históricas, coloniais e ecológicas, The Mahogany Pavilion (Mobile Architecture No. 1) (2004) representa uma dupla inversão: da posição do barco, posto de cabeça para baixo, suspenso pelo próprio mastro, e aquela do percurso América do Sul – Europa, trajeto original de importação da madeira mogno utilizada na fabricação deste veleiro na Escócia. Nesta obra, Simon Starling se apropria de um objeto pré-existente e o desconstrói metaforicamente, desprovendo-o de sua função original e devolvendo sua matéria-prima ao ambiente natural. Instalada em meio ao jardim tropical, a escultura sugere tanto as feições de uma árvore quanto uma espécie de abrigo. De fato, o artista se disse inspirado pelo relato de que os vikings usavam seus barcos como morada durante o inverno, virando seus cascos e suspendendo-os sob uma armação. O barco é um importante e freqüente elemento na obra de Simon Starling e reflete o interesse do artista por deslocamentos, processos e transformações. Exibido pela primeira vez na 26ª Bienal de São Paulo, The Mahogany Pavilion (2004) fez sua ultima viagem (por terra), em 2007, quando foi permanentemente instalado em Inhotim ao lado de uma recém plantada árvore de mogno brasileiro.

[tab:3. Gigante Dobrada]

Gigante Dobrada,
Paraisópolis, Minas Gerais, 1920 – Belo Horizonte, 2002

Gigante Dobrada, 2001
Aço cor-ten

Amílcar de Castro foi um dos mais prolíficos artistas a trabalhar com a herança construtiva no cenário artístico brasileiro. De Castro participou de marcos históricos da arte brasileira do pós-guerra, como a 2ª Bienal de São Paulo (1953) e a “Exposição Nacional de Arte Concreta” (1956), além de ter sido co-signatário do Manifesto neoconcreto (1959). Neste contexto, ao lado de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape, sua arte se distanciou da rigidez racionalista do concretismo do grupo de São Paulo, aprofundando uma pesquisa mais aberta ao orgânico, à subjetividade e à experimentação. Ainda nos anos 1950, o artista conformou aquele que seria seu vocabulário estético ao longo das décadas seguintes, marcado por uma economia de formas na escultura regida por operações de corte e de dobra em chapas de metal. No aço cor-ten, De Castro encontrou um material que transmitia memória do tempo à matéria, de certa forma, viva. Gigante Dobrada (2001) é um dos exemplares mais relevantes de sua produção final, quando apontava para um interesse inédito por figuras geométricas irregulares em contraste aos círculos, quadrados e retângulos que sempre o acompanharam. Numa escala ampliada, a escultura convida o espectador a explorar sua relação entre interioridade e exterioridade, descobrindo com o corpo a fascinante simplicidade de sua construção.

[tab:4. Inmensa]

Inmensa, 1982 – 2002
Rio de Janeiro, 1948; reside e trabalha no Rio de Janeiro

Inmensa, 1982 – 2002
aço

Inmensa
Créditos: Ricardo Mallaco
Inmensa

Inmensa (1982-2002) é uma versão desenvolvida especialmente para Inhotim da obra
homônima criada em 1982. Na presente escultura, Cildo Meireles não apenas substitui a
madeira, da qual é feita a versão original, por aço, como também amplia consideravelmente
suas dimensões, criando uma nova relação de escala tanto com a paisagem em seu entorno
como com o corpo humano e alterando assim a experiência estética do observador. A
obra apresenta características que a aproximam da estética minimalista, como a redução
formal a elementos geométricos, o serialismo e a progressão. Porém, o uso que o artista
faz dessa linguagem subverte os preceitos do minimalismo, uma vez que a obra não
se resume à sua forma e seu material, mas evoca uma ampla gama de significados e
referências externas, algo implícito já no próprio título, que se refere não apenas ao
tamanho mas ao que a obra representa: do latim, in mensa quer dizer na/sobre a mesa.
Ao se apropriar de objetos de origem doméstica – um jogo de mesa e cadeiras – e alterar
sua configuração usual, suas proporções e seu contexto, o artista cria uma escultura
que permite várias interpretações. Formada por uma estrutura arquitetônica na qual,
opondo-se à lógica, os elementos menores sustentam os maiores, a obra questiona noções
de hierarquia e equilíbrio que podem ser lidas na ordem da sociedade, da política e da
economia.

[tab:5. Beehive bunker]

Beehive bunker, 2006
Boston, EUA, 1946 – Topanga, EUA, 2015

Beehive bunker, 2006

Beehive Bunker, de Chris Burden
Créditos: William Gomes
Beehive Bunker, de Chris Burden

Beehive bunker (2006) é uma escultura que simula uma estrutura bélica de defesa, construída de maneira gradativa e sem o auxílio de máquinas. O local escolhido para a instalação da obra, um dos pontos mais altos de Inhotim, faz com que sua posição se assemelhe à de um posto de vigilância. Para a escultura, 332 sacos de concreto instantâneo foram dispostos em camadas alternadas e estruturadas mediante um sistema de irrigação que as torna compactas. As fileiras de concreto moldam-se conjuntamente, num processo de auto-construção que tem ritmo e tempo determinados pelo próprio material. O trabalho braçal que Beehive bunker pressupõe remete à ideia de performance, um meio que o artista explorou na década de 1970 desenvolvendo uma série de ações nas quais utilizou o próprio corpo como objeto e suporte para o seu trabalho.

Como desdobramento e aprofundamento de suas importantes contribuições para a body art, Chris Burden desenvolveu um extraordinário conjunto de esculturas e instalações ambientais revelando o seu fascínio pelos sistemas de poder, pelas organizações sociais, estruturas arquitetônicas e pelos sistemas tecnológicos, ao qual pertence Beehive bunker (“colmeia fortificada”, em tradução livre). A utilização deste tipo de fortim solitário, estrutura militar que se vulgarizou com a Segunda Guerra Mundial (1939 -1945), reflete a preocupação do artista com questões politicas e com temas relacionados à organização e à estratificação social. O bunker é aqui transformado em arquitetura poética. Seu processo de construção, performativo e coreográfico, por sua vez, dialoga com outra obra do artista, Beam drop Inhotim (2008), presente na coleção do instituto.

[tab:6. Beam drop Inhotim]

Beam drop Inhotim, 2008
Boston, EUA, 1946 – Topanga, EUA, 2015

Beam drop Inhotim, 2008

Beam Drop Inhotim, de Chris Burden

Beam drop Inhotim [título que poderia ser traduzido livremente por “queda de viga”] é a recriação de uma obra realizada originalmente em 1984 no Art Park, um parque de esculturas no Estado de Nova York, e destruída três anos depois. A obra foi refeita pela primeira vez em Inhotim em 2008, depois de ter subsistido apenas como documentação por mais de 20 anos. Numa ação que poderia ser descrita como performática, durante 12 horas um guindaste de 45 metros de altura lançou em uma poça de cimento fresco as 71 vigas que compõem a obra. O resultado desta operação de alto impacto é uma escultura de grandes dimensões que ocupa o alto de uma montanha em Inhotim, que se relaciona de maneira marcante com seu entorno, criando uma visão épica em meio à paisagem. O padrão aleatório da escultura é formado pela queda das vigas, combinando o controle do artista, que mirava o guindaste na poça de concreto fresco, à violência e o acaso provocados pelo peso do material.

Para a produção de Beam drop Inhotim, foram selecionadas vigas usadas em ferros-velhos próximos a Belo Horizonte, posteriormente manobradas pelo artista, criando uma composição que remete à gestualidade do expressionismo abstrato, especialmente das pinturas de Jackson Pollock (1912-1956), que o artista aponta como referência importante da obra. A obra filia-se, também, a uma tradição de esculturas monumentais importante na arte contemporânea, mas propõe, no entanto, sua desconstrução. Para Burden, cada viga lançada é como se fosse seu corpo caindo e batendo contra a terra, algo que remete à sua posição histórica como pioneiro da body art [arte do corpo]. Frequentemente em sua obra, Burden cria situações extremas e muitas vezes perigosas, desafiando os limites físicos dos materiais, que, metaforicamente, questionam as categorias estáveis de poder e status.

[tab:7. Desert Park]

Desert Park, 2010
Estrasburgo, França, 1965; vive em Paris, França, e no Rio de Janeiro

Desert Park, 2010
concreto, areia

Desert Park, de Dominique Gonzales-Foerster

Dominique Gonzalez-Foerster foi convidada por Inhotim para desenvolver um projeto site-specific para os jardins. Com Desert Park (2010), a artista propôs um novo ambiente externo que consiste numa pequena coleção de pontos de ônibus de concreto, em tamanho real, pré fabricados localmente, espalhados num campo de areia branca de deserto próximo à floresta tropical. As estruturas e sua montagem remetem a uma miniatura da arquitetura modernista de Brasília e a paisagem artificial se refere tanto ao livro Burning World (1964) de J. G. Ballard quanto ao White Sands Desert do Novo México, nos Estados Unidos, local onde foi rodado o famoso filme de Gonzalez-Foerster, Atomic Park, em 2003. As peças, facilmente identificáveis como mobília urbana, parecem fora de lugar em seu novo contexto, indicando as experimentações recorrentes da artista com o conceito de nomadismo cultural e com os elementos “psico-geográficos” de um lugar, como nomeia a artista. O campo de areia, que remete àquele encontrado na Lagoa do Abaeté, na Bahia, adiciona uma dimensão mística à instalação.

[tab:8. Bisected triangle, Interior curve]

Bisected triangle, Interior curve, 2002
Urbana, Estados Unidos, 1942; vive em Nova York

Bisected triangle, Interior curve, 2002
vidro espelhado e aço inoxidável

Bisected Triangle, Interior Curve, de Dan Graham
Créditos: Ricardo Mallaco
Bisected Triangle, Interior Curve, de Dan Graham

A produção artística de Dan Graham data do início dos anos 1960, desde quando vem desenvolvendo uma consistente obra, que inclui a fotografia, a escultura, a performance, instalações e vídeos, passando pelos quadrinhos e os desenhos. Parte da pesquisa do artista situa-se no campo da arquitetura, com destaque para o estudo da habitação popular americana pós-Segunda Guerra Mundial. A partir de 1987, Graham começa a produzir pavilhões que se colocam na linha tênue entre a arquitetura e a escultura, discutindo não só a questão da habitação e do urbanismo nas grandes cidades como também o lugar da arte e sua relação com o espectador. Seus pavilhões têm como material constitutivo básico vidros – quase sempre com espelhamentos -, seguros por bordas de metal. A partir de formas simples, muitas delas curvas, os espelhos provocam distorções em seus reflexos, assim como sobrepõem camadas de profundidade, causando confusão na percepção do espaço ao redor, misturando o dentro e o fora. O fato de os pavilhões estarem muitas vezes instalados no exterior dos prédios faz com que o trabalho de Graham reflita sobre as ligações entre a arquitetura e o seu espaço circundante, o que se evidencia em Inhotim, onde o diálogo entre arquitetura-escultura e paisagem-jardim aparece com ênfase.

[tab:9. Sem título, 2000; Sem título, 2002; Sem título (Bronze 5)]

Sem título, 2000; Sem título, 2002; Sem título (Bronze 5), 2005, 2000 – 2005
São Paulo, 1962; vive em São Paulo

Sem título, 2000
Sem título, 2002
Sem título, 2005
bronze

Sem título, 2000; Sem título, 2002; Sem título (Bronze 5), 2005, bronze

Agrupadas pelo artista sobre uma mesma base elíptica de concreto, as três esculturas de Edgard de Souza aqui reunidas são apresentadas juntas pela primeira vez em Inhotim. As esculturas são parte de uma série em bronze fundido, que inclui outras peças e foi desenvolvida pelo artista ao longo da década de 2000. Elas representam uma figura masculina nua baseada no corpo do próprio artista e poderiam ser consideradas autorretratos, não fosse a ausência do principal elemento de identificação de um retrato: o rosto. Articuladas numa elegante disposição linear, as esculturas sugerem, num primeiro momento a leitura de um movimento contínuo, que se revela, numa observação mais detida, como fragmentado e sem uma óbvia relação de causa e efeito entre cada uma das poses. Estas são impossíveis e abstratas, sugerindo tanto pulsão quanto introspecção, mas também fragmentação e fusão de corpos.

Desde o final dos anos 80, Edgard de Souza vem construindo um conjunto de obras marcado por uma qualidade artesanal e um ritmo lento de produção que se destaca da escultura contemporânea de grande escala. Em suas esculturas de bronze, o artista obtém uma superfície lisa e uma grande precisão nas formas, a partir de um primoroso processo de desbaste executado pelo próprio em blocos monolíticos de gesso e que confere às obras um aspecto nobre e sedutor. A história da arte e as questões ligadas à corporeidade e à auto-representação têm norteado a sua produção. Aqui, de certa forma, o artista revisita a tradição da estatuária retratista de bronze, que povoou os jardins e espaços públicos europeus entre os séculos XVII e XIX.

[tab:10. Elevazione]

Elevazione, 2000
Garessio, Itália, 1947; vive em Turim

Elevazione, 2000 – 2001
bronze

Giuseppe Penone – Elevazione, bronze, 1000 x 600 x 600 cm, Ø 50 cm, 2000 -2001

Giuseppe Penone é um dos principais expoentes do grupo de artistas italianos que se destacou a partir do final dos anos 1960, reunidos sob o rótulo de arte povera. Ao lado de artistas de outros países da Europa e dos Estados Unidos, tinham em comum a experimentação com materiais não convencionais e o contraponto ao racionalismo da arte conceitual em voga então no mundo anglosaxônico. Desde o início de sua trajetória, Penone se mostrou interessado em realizar obras diretamente na natureza, associando intervenções escultóricas ao processo de crescimento de árvores. Segundo Penone, “ao invés de fazer obras a partir das obras de outros artistas, como eu via na academia, resolvi fazê-las a partir de coisas objetivas que eu conhecia: a paisagem, as pedras do rio, as árvores da floresta”. Elevazione [Elevação, 2001] pertence a uma etapa posterior de sua prática, na qual o artista tornara ainda mais complexo o diálogo com a natureza por meio do domínio de elaboradas técnicas de escultura, mas conservando a mesma dualidade entre o fenômeno artístico e o natural. A obra parte da modelagem e conseguinte fundição em bronze de uma castanheira centenária, à qual outras partes de árvores foram soldadas. A grande árvore de metal está presa ao chão por pés de aço e, plantadas ao seu lado, estão cinco outras árvores que, ao longo dos anos, irão crescer e se aproximar da escultura, como se a sustentassem e criassem um espaço arquitetônico para abrigá-la. Para a montagem em Inhotim, Penone optou por aumentar consideravelmente a distância da escultura do chão e por plantar cinco exemplares da espécie local de árvore Guaritá.

[tab:11. Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe]

Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe, 1977
Rio de Janeiro, 1937 – Rio de Janeiro, 1980

Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe, 1977

Invenção da cor, penetrável Magic Square #5, De Luxe, de Hélio Oiticica
Créditos: Rossana Magri
Invenção da cor, penetrável Magic Square #5, De Luxe, de Hélio Oiticica

Magic Square # 5 (1977) faz parte de um grupo de seis trabalhos que se articulam em torno da praça e do quadrado, já que em inglês a palavra “square” tem os dois significados. Estas obras são propostas de edificações ao ar livre, que o artista não chegou a executar em vida e cujas instruções de realização foram minuciosamente anotadas por ele em textos, plantas, desenhos técnicos, diagramas, maquetes e amostras. Baseados no quadrado, estes espaços se oferecem ao espectador como grandes áreas de permanência e de convívio, colocando-o em contato vivencial com a forma, a cor e os materiais. A tendência à criação de categorias para nomear e organizar suas obras é marca da produção de Oiticica desde o início. Assim, os Magic Squares pertencem ao grupo de trabalhos Penetráveis, em que a pesquisa do artista em torno da ocupação do espaço pela cor atinge escala ambiental e se articula com uma idéia de renovação do espaço arquitetônico, aproximando-o ao jardim, à praça, ao labirinto, ao parque de diversão e ao barracão. Construídas postumamente, estas obras constituem uma maneira coerente de fazer jus ao legado de Oiticica, mantendo viva sua ambiciosa proposta de junção entre arte e vida.

[tab:12. Piscina]

Piscina, 2009
Buenos Aires, 1963; vive em Buenos Aires

Piscina, 2009

Piscina, de Jorge Macchi

Desde o início de sua carreira, Jorge Macchi tem produzido aquarelas que retratam objetos banais reimaginados em situações surrealistas, refletindo diferentes estados psicológicos. Até agora, estas obras só existiam de maneira bidimensional. Inhotim convidou o artista a criar uma de suas aquarelas pela primeira vez em forma tridimensional. Assim, Piscina (2009) é a realização escultórica de um desenho que o artista fez de uma caderneta de endereço com índice alfabético, aqui transformada numa obra site-specific que é também uma piscina em funcionamento.

[tab:13. Rodoviária de Brumadinho]

Rodoviária de Brumadinho, 2005
John Ahearn
Binghamton, Nova York, 1951; reside e trabalha em Nova York, EUA

Rigoberto Torres
Aguadilla, Porto Rico, 1960; reside e trabalha em Orlando, Flórida, EUA

John Ahearn e Rigoberto Torres – Rodoviária de Brumadinho, tinta automotiva sobre fibra de vidro, 530 x 1500 X 20 cm, 2005

Rodoviária de Brumadinho, 2005
tinta automotiva sobre fibra de vidro

Os murais escultóricos de John Ahearn são muito mais do que simples esculturas realistas: são desafios à própria natureza da representação, de quem representa quem. Eles resultam de um longo processo de imersão do artista e de seu parceiro freqüente, Rigoberto Torres, em uma comunidade, com o objetivo de conhecer as pessoas, seu caráter, valores e vitalidade, para então retratá-las com sensibilidade – os trabalhadores que constituem a espinha dorsal de uma sociedade e que, raramente, são objeto de representação, ou que, quando o são, raramente opinam sobre a maneira como são retratados. No caso dos dois murais em exibição, Ahearn e Torres escolheram seus modelos entre a população de Brumadinho, a cidade onde se situa Inhotim, sendo que muitos deles trabalham no Centro de Arte Contemporânea. O mural Rodoviária de Brumadinho (2005) representa a estação rodoviária de Brumadinho e as pessoas que passam por ela, um lugar que é não apenas um terminal de transporte mas também centro de vida social, pois nele se apresentam grupos de danças populares.

[tab:14. Abre a Porta]

Abre a Porta, 2006
John Ahearn
Binghamton, Nova York, 1951; reside e trabalha em Nova York, EUA

Rigoberto Torres
Aguadilla, Porto Rico, 1960; reside e trabalha em Orlando, Flórida, EUA

John Ahearn e Rigoberto Torres – Abre a Porta, tinta automotiva sobre fibra de vidro, 530 x 1500 X 20 cm, 2006

Abre a Porta, 2006
tinta automotiva sobre fibra de vidro

Os murais escultóricos de John Ahearn são muito mais do que simples esculturas realistas: são desafios à própria natureza da representação, de quem representa quem. Eles resultam de um longo processo de imersão do artista e de seu parceiro freqüente, Rigoberto Torres, em uma comunidade, com o objetivo de conhecer as pessoas, seu caráter, valores e vitalidade, para então retratá-las com sensibilidade – os trabalhadores que constituem a espinha dorsal de uma sociedade e que, raramente, são objeto de representação, ou que, quando o são, raramente opinam sobre a maneira como são retratados. No caso dos dois murais em exibição, Ahearn e Torres escolheram seus modelos entre a população de Brumadinho, a cidade onde se situa Inhotim, sendo que muitos deles trabalham no Centro de Arte Contemporânea. O mural Abre a Porta (2006) mostra uma procissão religiosa, solene e fervorosa, que acontece anualmente junto à igreja situada em Inhotim, em frente ao mural. A procissão é formada por integrantes dos grupos locais de Congada e Moçambique, cujas raízes remontam à linhagem africana pura de ex-escravos praticantes de um tipo de catolicismo que assimilou divindades animistas.

[tab:15. By Means of a Sudden Intuitive Realization]

By Means of a Sudden Intuitive Realization, 1967 – 1996
Copenhague, Dinamarca, 1967; vive em Berlim

Olafur Eliasson, By Means of a Sudden Intuitive Realization, Iglu de fibra de vidro, água, iluminação estroboscópica, bomba d’água e plástico

By Means of a Sudden Intuitive Realization, 1996
iglu de fibra de vidro, água, iluminação estroboscópica, bomba d’água e plástico

Elemento comum na paisagem islandesa, o iglu é utilizado para cobrir as muitas nascentes de água quente que constituem a maior fonte de energia natural na ilha nórdica. A obra By Means of a Sudden Intuitive Realization [Por meio de uma percepção intuitiva súbita, 1996], de Olafur Eliasson, é uma adaptação deste elemento arquitetônico transportável. Mas em vez de uma nascente, o artista nos apresenta um jogo simples de luz e água, no qual, iluminada por emissões brevíssimas de luz, a água jorra continuamente surgindo diante de nossos olhos como gotas de cristal suspensas no ar. Este efeito do tempo, inerte por uma fração de segundo, é algo que acontece em nossa percepção e imaginação.

Olafur Eliasson é um dos artistas de maior visibilidade internacional hoje em dia. Suas instalações, muitas vezes em grande escala, recriam artificialmente fenômenos naturais para investigar a percepção da luz, do tempo, da gravidade, do movimento e do som. Elementos recorrentes em sua produção incluem vapor, água, fogo, vento ou o Sol. Na obra de Eliasson, o prazer lúdico reside em perceber e compreender a nós mesmos, como o título dessa obra sugere.

[tab:16. Viewing Machine]

Viewing Machine, 2002 – 2008
Copenhague, Dinamarca, 1967; vive em Berlim

Viewing Machine, de Olafur Eliasson
Créditos: William Gomes
Viewing Machine, de Olafur Eliasson

Viewing Machine, 2001
aço inoxidável e metal

Esta obra de Olafur Eliasson baseia-se nos princípios de funcionamento do caleidoscópio, gerando um efeito obtido pelo reflexo da luz em seis espelhos que formam um tubo hexagonal. Na etimologia da palavra caleidoscópio, estão as palavras gregas kalos (belo), eidos (forma) e scopos (observador) – “observador de belas formas”, algo que o artista reinterpreta no título da obra: “máquina de ver”. O visitante é convidado a manusear esta máquina, apontando-a para um ponto de seu interesse, dentro ou fora do espaço da galeria. Por meio da sobreposição de reflexos, uma miríade de formas é revelada. Eliasson é hoje um dos artistas com maior visibilidade internacional. Suas instalações em grande escala promovem uma recriação artificial de fenômenos naturais, reexaminando nossa percepção sobre a luz, o tempo, a gravidade, o movimento e o som, com uso recorrente de elementos como vapor, água, fogo, vento ou o sol. Em Viewing machine (2001-2008), assim como em outros trabalhos do artista, a experiência e o processo de percepção do visitante são o foco de Eliasson, mais do que as leis da física. A escultura funciona como uma ferramenta que modifica nossa visão de mundo, e o prazer lúdico que ela proporciona é, em última instância, o prazer de sentir e perceber a nós mesmos.

[tab:17. Boxhead]

Boxhead,
Salt Lake City, Estados Unidos, 1945; vive em Los Angeles

Boxhead, 2001
bronze

Paul McCarthy – Boxhead, bronze, 320 x 167 x 230 cm, 2001

[tab:18. Palm Pavilion]

Palm Pavilion, 2006 – 2008
Buenos Aires, Argentina, 1961; vive em Chiang Mai, Tailândia e Nova York, EUA

Palm Pavilion, de Rirkrit Tiravanija

Palm Pavilion, 2006-2008
metal, madeira, palmeiras, materiais diversos

Originalmente concebida para a 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, a obra Palm Pavilion (2006-2008) tem em Inhotim sua primeira montagem ao ar livre. O pavilhão é uma adaptação da famosa Maison Tropicale (1951), do arquiteto francês Jean Prouvé (1901- 1984), que desenvolveu um tipo de moradia pré-fabricada na França para os burocratas e comerciantes residentes nas colônias africanas. A réplica produzida por Tiravanija abriga em seu interior variadas espécies de palmeiras, vídeos, vitrines e mesas com objetos relacionados à planta, além de funcionar como ícone da história da arquitetura recente. Os vídeos contidos na obra documentam um teste nuclear no sul do Pacífico, com um grupo de palmeiras filmadas em primeiro plano, e uma série de imagens que têm a palmeira como referência cultural – incluindo ilustrações científicas, cédulas de dinheiro e selos. A partir da colaboração da equipe de botânica de Inhotim, que agregou à obra uma grande coleção de palmeiras, Tiravanija adiciona à visão puramente científica de Jardim Botânico uma análise sócio-cultural sobre a espécie, um ícone do exotismo tropical.

[tab:19. Deleite]

Deleite, 1999
Palmares, Pernambuco, 1952; Rio de Janeiro, RJ, 2016.

Deleite, 1999
ferro e couro

Tunga – Deleite, ferro e couro, 495 x 520 x 310 cm, 1999

Tunga é um dos nomes mais importantes do acervo de Inhotim, sendo um artista fundador e balizador do conceito
do seu acervo artístico. Deleite (1999) é uma das primeiras obras a ser integrada à coleção e a ser montada em Inhotim. Ao utilizar sinos, bengalas, ímãs, correntes e bancos de ferro e couro, objetos e materiais recorrentes em
sua poética, o artista cria uma situação em que a fantasia é o fio condutor de uma narrativa prolífica em simbolismos e com significação diversa, num campo onde fato e ficção são confundidos. Em sua produção, os objetos são
multiplicados em instalações que recorrem ao excesso, colocando às claras os materiais constitutivos e as misturas que desafiam as qualidades físicas de cada um. Arquiteto por formação, a obra de Tunga busca suas referências
na literatura e na filosofia, mas também na biologia, zoologia, medicina, arqueologia e nas ciências exatas. A partir dos anos 1970, Tunga vem produzindo em diversos suportes, com ênfase nas instalações e esculturas, além de
performances que contam com a participação de atores. Em várias de suas obras, a instalação configura-se como
registro de uma ação ou como memória da presença do corpo e da vida.

[tab:20. Narcissus garden]

Narcissus garden, 2009
Yayoi Kusama Nagano, Japão, 1929; vive em Tóquio, Japão

Narcissus garden Inhotim, 2009
aço inoxidável

Yayoi Kusama, Narcissus garden, 1966

Copyright Yayoi Kusama, Yayoi Kusama Studio, Tóquio

Narcissus garden Inhotim (2009) é uma nova versão da escultura-chave de Yayoi Kusama originalmente apresentada em 1966 para uma participação extra-oficial da artista na 33a Bienal de Veneza. Naquela ocasião, Kusama instalou, clandestinamente, sobre um gramado em meio aos pavilhões, 1.500 bolas espelhadas que eram vendidas aos passantes por US$ 2 cada. A placa alojada entre as esferas – “Seu narcisismo à venda” – revelava de forma irônica sua mensagem crítica ao sistema da arte e seus sistemas de repetição e mercantilização. A intervenção levou à retirada de Kusama da Bienal, onde ela só retornou representando o Japão oficialmente em 1993. Na versão de Inhotim, 500 esferas de aço inoxidável flutuam sobre o espelho d’água do Centro Educativo Burle Marx, criando formas que se diluem e se condensam de acordo com o vento e outros fatores externos e refletindo a paisagem de céu, água e vegetação, além do próprio espectador, criando, nas palavras da artista, “um tapete cinético”.

Yayoi Kusama é uma das artistas mais importantes a ter emergido na Ásia no período pós-guerra e sua produção estabelece relação com movimentos como o minimalismo, a arte pop e o feminismo. Sua obra é marcada pela uso compulsivo de motivos repetitivos circulares, algo que remete às alucinações que a artista vivencia desde a infância e que ela transpõe para pinturas, esculturas, instalações, filmes e tecidos utilizados na moda. Diferentes versões de Narcissus garden foram criadas para exposições em museus e espaços públicos nos últimos anos e, em Inhotim, a obra faz sua primeira aparição no Brasil. Evocando o mito de Narciso, que se encanta pela própria imagem projetada na superfície da água, a obra constrói um enorme espelho, composto por centenas de pequenos espelhos convexos, que distorcem, fragmentam e, sobretudo, multiplicam a imagem daquele que a contempla – contemplando, assim, necessariamente a si próprio.

[tab:21. Gui Tuo Bei]

Gui Tuo Bei,
An Yang City, China, 1965, vive em Nova York

Gui Tuo Bei,An Yang City, China, 1965, vive em Nova York
Créditos: Rossana Magri
Gui Tuo Bei,
An Yang City, China, 1965, vive em Nova York

Gui Tuo Bei, 2001
pedra

Na cultura chinesa, monumentos monolíticos carregados por uma tartaruga são comuns em lugares sagrados e espaços públicos, servindo como fonte de contextualização histórica do local e simbolizando poder político ou religioso. A tartaruga representa longevidade, resistência e solidez, daí sua presença em tais monumentos. Na obra Gui Tuo Bei (2001), Zhang Huan parte dessa tradição, entretanto, ao libertá-la de um contexto históricocultural pré-estabelecido, ele amplia seus significados. Situada num ponto de destaque em Inhotim, ao final da alameda que originalmente conduzia à sede da antiga fazenda, Gui Tuo Bei (2001) contrasta com as demais esculturas do parque. O estranhamento não se dá apenas pela escrita chinesa, mas também por algo de ancestral, de atemporal que a obra evoca. O texto gravado na pedra narra a história de um homem, que apesar da idade avançada, consegue com a ajuda de seus descendentes mover as montanhas que bloqueavam o caminho de sua casa. Além da mensagem universal – determinação e esforço levam à realização de qualquer objetivo – a obra revela ainda uma dimensão autoreferencial: a face do artista esculpida na tartaruga expressa o árduo trabalho de sustentar uma tradição e projetar-se para além dela. O trabalho de Zhang Huan inclui escultura, pintura, fotografia e, principalmente, performances que exploram questões ligadas ao corpo e suas relações com a his tória e a sociedade.

[tab:22. Escultura para todos os materiais não transparentes]

Escultura para todos os materiais não transparentes, 1985
Rio de Janeiro, 1946; vive no Rio de Janeiro

Escultura para todos os materiais não transparentes, 1985
mármore e madeira

Escultura para todos os materiais não transparentes, 1985
Rio de Janeiro, 1946; vive no Rio de Janeiro
Escultura para todos os materiais não transparentes, 1985
mármore e madeira

[tab:23. Troca-troca]

Troca-Troca, 2002
Nova Iguaçu, RJ; reside e trabalha em Maricá, Rio de Janeiro

Troca-troca, de Jarbas Lopes

Troca-Troca, 2002
fuscas com aparelhagem de som

As viagens, o compartilhamento de experiências, o movimento estão em constante evidência no trabalho de Jarbas
Lopes. Troca-troca (2002) é uma obra composta por três fuscas coloridos, com latarias permutadas entre si. Um
sistema de som interliga os três carros. Com o Troca-troca (2002), Jarbas Lopes realizou uma primeira viagem, do
Rio de Janeiro a Curitiba, em 2002. O artista convidou oito amigos para fazer o trajeto que culminaria na chegada
ao Museu de Arte Contemporânea do Paraná. No caminho, colaram adesivos produzidos a partir do arquivo de
palíndromos do artista Luis Andrade, nos pára-brisas dos carros que encontravam na estrada. Em 2007, após
passarem por restauro, os carros do Troca-Troca novamente ganharam a estrada, dessa vez de Belo Horizonte a
Brumadinho, depois de percorrer as comunidades do entorno. Mais uma vez estacionados nos jardins de Inhotim,
os objetos-carros guardam as histórias dessas viagens, dos amigos que os ocuparam, das músicas que ouviram em
conjunto. Os carros encontram-se ocasionalmente parados, mas prontos para dar partida em seus motores, tendo
ocupado diferentes localizações no parque.

[tab:END]

Vale lembrar que o Instituto tem um acervo com 23 galerias (sendo 19 permanentes) e cerca de outras 700 obras em exposição; no total, são 1300 para o deleite dos visitantes. As obras podem ser apreciadas de de terça a sexta, das 9h30 às 16h30; sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. O valor da entrada do museu é de R$ 44, e às quartas a entrada é Catraca Livre. 

  • E se você gosta mesmo de ar livre…