Festival Path: a importância de falar sobre gênero nas escolas

Debates sobre o tema estão mais presentes do que nunca na sociedade brasileira

Com os ânimos à flor da pele, o Brasil vive atualmente uma batalha entre os valores morais da tradicional família brasileira e os avanços contemporâneos, gerando debates polêmicos do meio político à sala dos professores. Um dos assuntos mais delicados do momento transpassa a divisão do rosa para meninas e azul para meninos: a importância de falar sobre questões gênero nas escolas.

Propondo reflexões saudáveis com o auxílio de especialistas, o Festival Path 2019, que acontece nos dias 1 e 2 de junho em São Paulo, inclui o tema na programação com o intuito de trazer propostas transformadoras para a sociedade.

Trazer questões de gênero para a sala de aula ficou polêmico a partir do momento em que uma parcela das pessoas viu no assunto uma suposta “ameaça” à sexualidade de crianças e adolescentes. Ao distorcer o conceito como doutrinação, certos pais e mães acham que a escola ensina e incentiva os alunos a inverterem papéis, quando na verdade é exatamente o oposto: se propõe o debate para que haja respeito entre as diferenças, a fim de reforçar as liberdades individuais.

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“É muito claro para mim que se eu tivesse tido mais espaços seguros para pensar sobre eu mesmo, meus sentimentos e minha identidade mais jovem, o processo teria sido muito mais fácil e menos doloroso”, conta Theo Nery, homem trans negro, professor no Colégio São Vicente de Paulo e palestrante no Festival Path 2019.

Palestra debate a importância da educação de gênero nas escolas
Créditos: Festival Path
Palestra debate a importância da educação de gênero nas escolas

O atraso na discussão fica evidente quando percebe-se que, até alguns anos atrás, todos se baseavam num regime heteronormativo e binário. “Desconstruir esse paradigma é o objetivo de uma educação democrática, que potencializa a diferença como recurso pedagógico”, afirma o analista de projetos do Programa Kairós, João Martins, que desenvolve pesquisas na área de antropologia da infância, gênero e sexualidade.

Em tempo, é preciso entender que: sexo biológico é apenas aquele que nasce com a pessoa; identidade de gênero é uma construção social, com a qual o indivíduo se identifica mais; e orientação sexual se define pela atração e desejo por outro, seja do sexo oposto ou não.

Na prática, já é sabido que não é porque um menino veste azul e joga bola que ele será heterossexual ou que não poderá transitar de gênero futuramente, assim como não é função da escola censurá-lo ou reprimi-lo. O papel das instituições de ensino é promover o pensamento crítico, repassar conhecimento e acolher todas as crianças a modo que se tornem adultos conscientes não apenas das matérias lecionadas, mas de si mesmas como cidadãs do mundo.

Theo pontua que “crianças e adolescentes têm uma capacidade muito maior de pensamento crítico do que a gente costuma achar. Mas é preciso dar as ferramentas para pensar sobre si e sobre o outro, para abrir a cabeça e se construir como pessoa. A escola é o começo de um espaço seguro, de descoberta, de teste”.

A discussão de que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa” ainda gera analises
Créditos: Festival Path
A discussão de que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa” ainda gera analises

Professora no ensino estadual de Brasília, Bruna Paiva de Lucena acredita que os educadores, conscientes de seus encargos como formadores e da multiplicidade dos estudantes, devem garantir que os direitos humanos sejam respeitados.

“Processos educativos voltados ao reconhecimento, ao respeito e à valorização das diferenças de gênero, são fundamentais para que estudantes possam ser pacíficos, livres de discriminação e agentes sociais no combate a todas as formas de preconceito. O convívio e a tolerância não têm nada a ver com uma educação que induza a meninos e meninas tornarem-se dissidentes sexuais e de gênero, mas relaciona-se intrinsecamente ao estabelecimento de relações menos autoritárias, injustas e opressivas”.

Ser diferente sempre teve um custo alto. Mas as coisas não podem continuar assim. É preciso assegurar, inclusive com apoio pedagógico, que crianças não sejam vítimas de crueldades praticadas por colegas ou até por familiares, que afeta em maior parte o público LGBT+.

Para se ter ideia da dimensão do problema, o relatório da Unesco, “Jogo Aberto: respostas do setor de educação à violência com base na orientação sexual e na identidade/expressão de gênero”, de 2016, revela que parte significativa de alunos LGBT vivencia a violência homofóbica e transfóbica na escola, chegando a 85% de proporção de pessoas no Estados Unidos, por exemplo.

Sem trazer tais questões à tona, legitima-se então a violência contra o que está fora do considerado “padrão”. Estudantes que enfrentam tais preconceitos e rejeições estão propícios a efeitos adversos sobre a saúde mental, como baixa autoestima, medo, solidão, automutilação, depressão e suicídio. Além disso, tem a aprendizagem, a empregabilidade e o bem-estar afetados ao longo da vida.

A partir da publicação, João constata que, problematizar gênero e sexualidade no ambiente escolar é combater a violência à estudantes LGBT+ e demais identidades marginalizadas socialmente, pois utiliza a ideia de alteridade, valorizando e positivando as diferenças por meio do compartilhamento de experiências e a participação equitativa.

“Transformar a violência em diálogo sobre gênero e sexualidade faz com que os estudantes reflitam sobre como as diferenças se estruturam em desigualdades. Mostra que isso é um fato social e histórico, e não natural e imutável. Uma escola que abraça essa ideia compreende o papel transformador da educação, buscando equidade, diversidade, segurança e inclusão”.

Inimigos imaginários e monstros criados na cabeça dos pais conservadores não devem ser cultuados na escola, pois este é um lugar para tecer pontes e fazer amigos diversos, de todas as cores, gêneros, orientações sexuais, condições econômicas, religiões e culturas. No Festival Path 2019, evento múltiplo que oferece experiências em educação, entretenimento e negócios, toda a diversidade humana é respeitada, debatida e celebrada.

Theo, Bruna e João estarão presentes no painel “De menino ou de menina: é na escola que se aprende? Questões de gênero na educação”, que irá esclarecer e levantar muitos pontos deste tema a fim de trazer um impacto social positivo dentro e fora dos estabelecimentos de ensino. Garanta já seu ingresso e curta a extensa programação de palestras, shows e workshops em plena Avenida Paulista!

Serviço:

Palestra: “De menino ou de menina: é na escola que se aprende? Questões de gênero na educação”

Quando: Sábado 01/06 das 13h00 às 14h00

Local: Hotel Tivoli Mofarrej, Sala Itaim

Endereço: Alameda Santos, 1437 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, Brasil