6 fatos provam que Bolsonaro erra ao oficializar Pazuello na Saúde

Além de um erro, é também contraditório. Não era Bolsonaro que dizia, durante a campanha, que só chamaria para seu governo, funcionários técnicos?!

Com a decisão de Jair Bolsonaro em oficializar o general do Exército, Eduardo Pazuello como ministro da Saúde, nós da Catraca Livre te relembraremos 6 fatos, desde sua nomeação como interino, que provam que a escolha do presidente é um erro. A posse do militar como chefe do Ministério da Saúde está marcada para as 17h, no Palácio do Planalto, na próxima quarta-feira, 16.

6 fatos provam que Bolsonaro erra ao oficializar Pazuello na Saúde
Créditos: Reprodução/Facebook
6 fatos provam que Bolsonaro erra ao oficializar Pazuello na Saúde

Pazuello foi nomeado ministro interino em 15 de maio deste ano, depois que o médico Nelson Teich — do qual era secretário-executivo — pediu demissão.

Durante a pandemia da covid-19, o Brasil ficou pela primeira vez desde 1953 tanto tempo sem um titular no Ministério da Saúde. O general assumiu a pasta e se tornou o responsável pelas estratégias do governo federal de enfrentamento ao novo coronavírus, mesmo sem nenhuma experiência na área.

1. Não é da área da saúde

Com a saída de Teich, Pazuello assumiu interinamente, Ele já era secretário-executivo da pasta desde 22 de abril, quando João Gabbardo, que somava 39 anos de trabalho na pasta, deixou o Ministério da Saúde.

Pazuello nasceu no Rio de Janeiro e é formado na Academia Militar das Agulhas Negras, mesma instituição onde Bolsonaro estudou.

No Exército, Pazuello comandou o 20° Batalhão Logístico Paraquedista e foi Diretor do Depósito Central de Munição, ambos no Rio de Janeiro. Em 2014, foi promovido a General-de-Brigada e, em 2018, a General de Divisão. Antes de ir para o Ministério da Saúde, exercia o comando da 12ª Região Militar, em Manaus.

Como Oficial General, foi coordenador logístico das tropas do Exército Brasileiro empregadas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Em 2018, coordenou a Operação Acolhida, força-tarefa que atou em Roraima, recebendo imigrantes venezuelanos

Como podemos ver, nenhuma experiência na área da Saúde. A nomeação de Pazuello como ministro da Saúde é ainda mais contraditória, justamente, por acontecer durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu dizendo que não tornaria os cargos públicos em moeda de troca para disputas políticas, os deixando exclusivamente para técnicos e especialistas das áreas. É, não é isso que acontece na prática. Enfim, a hipocrisia.

2. Avanço desenfreado da covid-19

No dia em que Pazuello assumiu interinamente o Brasil registrou 14.817 mortos e 218.223 casos de covid-19. Um dia antes de sua efetivação como chefe da pasta, o país atingiu a marca de 132.006 mortos e 4.345.610 casos registrados do novo coronavírus, de acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Os números representam quase 10 vezes mais óbitos e 20 vezes mais infecções. Aceleração como essa não aconteceu em nenhum país do mundo, mostrando o quanto a administração de Pazuello foi ineficaz durante esses meses de pandemia.

3. Diminuição do orçamento

O Ministério da Saúde, já sob a gestão de Pazuello, deixou de executar boa parte dos recursos autorizados pelo Congresso Nacional para a aplicação do enfrentamento à covid-19. De R$ 38,9 bilhões, apenas R$ 11,4 bilhões saíram dos cofres federais até 25 de junho, segundo uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Os recursos gastos representam somente 29% da verba emergencial prevista para combater o novo coronavírus.

4. Desmonte do corpo técnico do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde sempre teve uma estrutura formada por quadros especializados na área sanitária, pessoas com alto grau de qualificação profissional e Pazuello, assim que chegou, demitiu nove desses funcionários para nomear militares que não têm qualquer vínculo com a área da saúde, para os cargos.

Pazuello nomeou advogado de milicianos como assessor especial. Zoser Plata Bondim Hardman de Araújo, que assumiu o cargo na quarta-feira, 20, é conhecido por ter defendido milicianos cariocas e o ex-PM  Ricardo Teixeira Cru, condenado pelo assassinato da juíza Patrícia Acioli em 2011.

5. Cloroquina

Com apenas dez dias no cargo de ministro – e em caráter interino -, Eduardo Pazuello já havia mudado o protocolo do Ministério para permitir a prescrição de cloroquina até para pacientes com sintomas leves da covid-19, como queria o presidente Jair Bolsonaro, ainda que o medicamento não apresente nenhuma comprovação científica de combate à doença. Pelo contrário, há reações adversas, como problemas cardíacos.

A ausência de comprovação científica também não impediu Pazuello de fazer o Ministério da Saúde distribuir 100.500 comprimidos de cloroquina para indígenas, segundo informou o próprio ministro interino, durante uma coletiva de imprensa, no dia 24 de julho.

Além disso, sob o comando do general do Exercíto, o Ministério decidiu comprar, com dinheiro público, três toneladas de insumo farmacêutico para fabricação de cloroquina, mesmo com os técnicos alertando que: “Devido à atual situação, não é aconselhável trazer uma quantidade muito grande, pois, caso o protocolo venha a mudar, podemos ficar com um número em estoque parado para prestar contas”.

A essa altura, a OMS já havia anunciado que a cloroquina não tinha eficácia comprovada e podia provocar efeitos colaterais. Cientistas de várias organizações de renome também já haviam chegado à mesma conclusão. E países como França, Bélgica, Itália, Portugal e Reino Unido suspenderam, proibiram ou deixaram de recomendar o remédio.

6. Falta de outros medicamentos

Enquanto toneladas de cloroquina chegaram ao Brasil, os remédios realmente essenciais para o tratamento de pacientes com covid-19 estão em falta. Desde o fim de maio, os técnicos do Comitê de Operações de Emergência alertavam o governo sobre os baixos estoques de medicamentos, como os usados para entubar pacientes em UTI – analgésicos e sedativos. O documento registrava que: “267 insumos estavam com risco de desabastecimentos”.

Um funcionário de um hospital de campanha, no Rio de Janeiro, relatou ao Jornal Nacional, da TV Globo, em 24 de julho, que a situação não melhorou. “À medida que a médica ia pedindo os medicamentos para fazer a sedação e a curarização, não tinha. Vai ter que misturar com outros medicamentos, porque não tem. Ele simplesmente parou, na minha cara. Uma pessoa que estava conversando comigo há uns 40 minutos atrás, morreu. E isso é muito duro”, relatou o profissional que não quis se identificar.