Apenas o Fim

Por: Redação

Olhei bem fundo nos olhos dele pela última vez. Naquele castanho escuro onde
tantas vezes me encontrava e tantas outras me perdia. “O que foi?”, ele me
perguntou, daquele jeito tímido que ora me arrebatava, ora me irritava.
“Nada”, respondi. E não foi maneira de dizer. “Nada” era exatamente o que eu
estava sentindo.

Lembrei de quando assistimos juntos um filme nacional chamado “Apenas o
Fim”. Tudo aquilo era tão nosso: o passeio pela faculdade, os assuntos das
conversas, as bobeiras, a maneira de achar que era impossível um viver sem o
outro. Saí da sala imaginando como seria o nosso fim, caso um dia
acontecesse.

E quando o fim chegou, meses mais tarde, tudo que eu queria era um roteiro
em minhas mãos, para poder dizer as palavras certas. Ter um discurso pronto
que pudesse o convencer que, ao contrário do que parecia naquele momento,
sua vida seguiria sem mim, quem sabe até num caminho mais feliz, uma guinada
na trama colocando-o como protagonista de uma comédia romântica, e não desse
drama pesado e angustiante que eu me sinto destinada a estrelar.

Mas éramos só silêncio. Cinema mudo. O casal do filme passou uma hora e meia
revendo a relação, na vã tentativa de amenizar a dor. A gente se encarava há
longos segundos, mas não havia palavra disposta a sair dos meus lábios.

Desviei o olhar, sentindo vergonha de mim mesmo de já não poder mais
retribuir a cumplicidade que sempre esteve ali. Desliguei a luz do meu lado
da cama e comecei a me fingir de adormecida.

Era um pouco mais de quatro da manhã quando levantei da cama, juntei aquilo
que era possível juntar sem fazer barulho e fui embora. Não houve grandes
despedidas, nem lágrimas, nem bilhetes de explicação. Houve apenas o fim.

Por Redação