As Encrencas

O tempo foi passando e dona Jô, com muito esforço, seus filhos foi criando, nunca deixou faltar nada para seus meninos. Bruno era um garoto forte, saudável e muito esperto. Era época de pipa. Bruno adorava ver aquele céu repleto delas. Seus olhos enchiam-se de brilhos e, como sempre, a sua não poderia ficar de fora. Muitas pessoas costumam soltar pipas em lugares onde não há fios de eletricidade, nós soltávamos no campo. O dia amanheceu ensolarado, e ao chegar da escola Bruno nem tirou o uniforme, pegou sua lata de linha embaixo da cama e saiu despercebido das vistas de sua mãe para soltar a pipa listrada que havia feito. No caminho encontrou Raul, que era fanático também por belas pipas:
– E aí, Bruno, sua linha tem cerol? – perguntou ele com os olhos iluminados e um desejo louco de ver sem rumo.
– Passa a mão pu cê vê. Hoje vou fazer a festa, cê vai vê.
Em poucos minutos Bruno lançou sua pipa para fazer companhia às outras naquele céu imenso do Parque Santo Antônio. Não demorou muito para uma pipa azul e branca voar em direção à sua. Era a primeira laça de Bruno do dia, ele andava de um lado para o outro, seus braços iam ao encontro um do outro enquanto puxava a linha. As pipas se cruzaram e em  poucos minutos o dono da outra pipa ficou a ver navios; sua pipa voava sem direção. Bruno saltitava de tanta felicidade com sua pipa ainda no ar e pronto pra outra, afinal ele acabara de ganhar uma laça. Não muito tempo depois, apareceu um garoto descalço, sem camisa, com uma calça jeans rasgada nos joelhos, cabelos pretos e crespos, barba por fazer. Devia ter uns dezenove anos. Era o dono da pipa azul e branca que descia o escadão furioso. Seu nome era Antônio, mais conhecido como Toninho. Entrou gritando no campo onde Bruno e todos nós estavamos soltando nossas pipas:
– Aê, quem foi que cortou minha pipa? – perguntou olhando para Raul.

Por Redação