‘Batuque da BOA’ reúne sambistas e premia compositores cariocas

Os compositores Fernando Procópio e Tinho Brito venceram a quarta edição do “Concurso Batuque da BOA”, em Madureira, com a música “Na Boca do Povo”

Um dos locais que é considerado o berço do samba no Rio de Janeiro, Madureira, recebeu vários bambas para homenagear o ritmo e consagrar novos compositores que se inscreveram no concurso “Batuque da BOA”. A proposta era aproveitar o feriadão prolongado celebrando a música, além de encontrar a composição vencedora desta edição. Há quatro anos o evento premia e exalta grandes sambistas.

No dia 3 de novembro, a cuíca chorou e fez os amantes do gênero musical sambarem até anoitecer com Fundo de Quintal, Dudu Nobre, Diogo Nogueira, Mariene de Castro, Ana Costa, Moyseis Marques, Arlindinho, Cacique de Ramos e Nei Lopes. Dá uma olhada como foi a festa que arrastou uma multidão para o Parque de Madureira:

Após uma curadoria que levou mais de 200 músicas à votação popular e ao júri técnico, o concurso selecionou 10 compositores finalistas que foram avaliados pela melodia, construção de letra, originalidade, comunicação e cadência rítmica.

Quem julgou o pessoal foram jurados especiais e talentosíssimos: Nei Lopes como mestre-sala, acompanhado de Cláudio Jorge, Marcelo Castello Branco, Rodrigo Campello e Dorina.

A dupla consagrada foi Fernando Procópio e Tinho Brito, autores de “Na Boca do Povo”, uma composição irreverente que critica estereótipos machistas, homofóbicos e aborda também a violência urbana. A música foi interpretada em conjunto com Dudu Nobre.

Créditos: BEL CORCAO

A grande inspiração para os compositores, além da discussão social, foi o estilo de versar de Aniceto de Menezes e Silva Júnior, o Aniceto do Império, um dos fundadores da escola Império Serrano. Ele carregava consigo o samba de improviso sempre com o partido alto, conta Tinho Brito:

“Eu falei com o Fernando: ‘a gente podia fazer um partido de pergunta e resposta!’. O ‘Na Boca do Povo’ que tem um ‘Q’ dessa pegada do seu Aniceto. Fazer uma pergunta e levar o povo pra responder revelando o preconceito que tá em todo mundo, inclusive em mim e no Fernando, que somos os compositores. Infelizmente esse pensamento tá muito dentro da gente. A gente precisa ficar atento a essa parada pra poder ver que não é nada disso! O cara tem direito de ter a orientação que quiser, pegar quem quiser, a mulher tem direito de zuar. Problema dela. E essa história de ‘bandido bom bandido morto’ não tá com nada, é uma frase feita que não resolve problema.”

Para ele, a essência do samba está no talento dessas pessoas que merecem reconhecimento, assim como foi feito durante o Batuque da BOA. Gente que ainda não pode viver da música e que possui um talento ímpar muitas vezes desvalorizado.

“A gente tinha que dar uma atenção especial para o que é brasileiro. Nascido e criado aqui. Às vezes a gente parece privilegiar outras coisas do que aquilo que é nosso, querer ser uma réplica forçada daquilo que a gente não é acaba negligenciando o que a gente tem de tão bom: o samba, o batuque, a feijoada, nosso jeito de ser, nossa história. O Brasil é muito mal resolvido com todos os seus problemas, inclusive seus traumas terríveis, mas aí já é assunto pra meia dúzia de cerveja e outro papo…”, conclui.