Campanha #OBrasilNãoPodeParar contraria OMS e repete erro de Milão

Grupo de congressistas vai ao STF pedir a suspensão da campanha

O governo federal prepara uma campanha que estimula o fim do isolamento determinado pelo Ministério da Saúde e também por todos os governadores do país para combater o avanço do novo coronavírus pelo país e pede a reabertura de comércio e escolas. O slogan, “O Brasil Não Pode Parar”, repete o mote de uma campanha apoiada pelo prefeito de Milão, Giuseppe Sala, há um mês, e que gerou um pedido de desculpas público por parte do político nesta semana, ao se dar conta do que considera ter sido um erro.

Créditos: Reprodução/Facebook

Um vídeo preparado por uma agência de publicidade que atende o governo federal foi divulgado na noite desta quinta-feira, 26, pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido), filho do presidente.

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No vídeo, um narrador vai mencionando várias categorias profissionais, como autônomos e até mesmo profissionais da saúde, e repete o slogan “O Brasil Não Pode Parar” por diversas vezes.

“Para os pacientes das mais diversas doenças e os heróicos profissionais de saúde que deles cuidam, para os brasileiros contaminados pelo coronavírus, para todos que dependem de atendimento e da chegada de remédios e equipamentos, o Brasil não pode parar. Para quem defende a vida dos brasileiros e as condições para que todos vivam com qualidade, saúde e dignidade, o Brasil definitivamente não pode parar”, diz o texto lido pelo narrador no vídeo.

O BRASIL NÃO PODE PARAR!

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Posted by Flavio Bolsonaro on Thursday, March 26, 2020

A campanha contraria orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e também segue um caminho comprovadamente mais perigoso para a expansão do contágio do novo coronavírus. Também vai na contramão do determinado pelos principais líderes mundiais. Até mesmo o presidente americano Donald Trump, que Bolsonaro procura seguir, tem pedido para que os cidadãos americanos fiquem em casa.

Nesta sexta-feira, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e os deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) afirmaram que vão entrar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo a suspensão imediata da campanha.



Exemplo de Milão

Há um mês, quando o avanço da covid-19 estava num estágio similar ao que vivemos hoje no Brasil, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, apoiou uma campanha que seguia os mesmos passos desta que vem sendo preparada por aqui. A campanha “Milão não para” incentivava que os moradores da idade a retomar suas atividades mesmo com o risco crescente da doença.

Muitos milaneses seguiram os apelos e saíram do isolamento. O resultado? Bem, na Lombardia, região da Itália em que fica Milão, em 27 de fevereiro, na época da campanha, eram 250 os contaminados. Nesta sexta-feira, 27, são 34.889 casos confirmados, com 4.861 mortes. A Itália se tornou o país com mais casos de mortes, e em nenhum outro lugar do país morreu tanta gente como na Lombardia.

O prefeito foi a um programa de TV e disse, no ar, que foi um erro ter apoiado o fim do isolamento social. “Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus, e aquele era o espírito. Trabalho sete dias por semana para fazer minha parte, e aceito as críticas”, afirmou.

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Créditos: divulgação/Ministério da Saúde