Com Bolsonaro eleito, casamento homoafetivo cresce 61,7% em 2018

Em novembro foram 957 casamentos e, em dezembro, 3.908

Logo após Jair Bolsonaro ganhar a presidência do Brasil, no fim de outubro de 2018, 4.865 matrimônios homoafetivos aconteceram nos dois últimos meses do ano passado. As Estatísticas do Registro Civil em 2018 foram divulgadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira, 4.

Juntos há 28 anos, Toni e David decidiram oficializar o casamento em 2018
Créditos: Arquivo Pessoal
Juntos há 28 anos, Toni e David decidiram oficializar o casamento em 2018

Durante todo o ano de 2018, os matrimônios chegaram a 9.520, ante 5.887 em 2017: um aumento de 61,7%. A maioria dos casamentos são de mulheres (5.562 em 2018). Entre janeiro e outubro do ano passado, a média foi de 546 casamentos de pessoas do mesmo sexo por mês. Em novembro, subiu para 957 e, em dezembro, para 3.908.

Em 2011, o Supremo Tribunal Federal  (STF) tinha mudado o entendimento do Código Civil de que o formato de família era só composto por um homem e uma mulher. Mesmo assim, houve resistência dos cartórios.

Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e houveram 3,7 mil naquele ano. Nos anos seguintes, a média foi de 5,4 mil.

Bolsonaro, que já soltou várias declarações homofóbicas, disse que ia jogar autorização do CNJ “por terra”. Isso impulsionou a corrida dos casais homoafetivos em registrar suas uniões oficialmente quando saiu o resultado das eleições em 2018. Com informações da Folha de S. Paulo.


A jornalista Letícia Leão e a cineasta Isabela Ferrari se conheceram em novembro de 2015 e em dois meses começaram a namorar. Elas pretendiam se casar no dia 26 de outubro de 2019, mas a data foi antecipada em quase um ano. O motivo? A eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República.

“Decidimos nos casar durante a fatídica queima de fogos que ocorreu ao final da apuração dos votos no segundo turno, na noite de 28 de outubro. Chorando, por medo de perder os poucos direitos conquistados pelo grupo LGBT, corremos contra o tempo para o casamento ocorrer em 1º de dezembro. A pressa foi resultado do medo e, de certa forma, resistência”, afirma Letícia à Catraca Livre.

Um dia depois do segundo turno das eleições presidenciais, Letícia se informou nos cartórios sobre a documentação necessária, em 30 de outubro foi buscar as certidões de nascimento atualizadas e já no dia 31 as noivas marcaram a celebração civil.

Feito isso, em apenas um mês, as duas escolheram a chácara para realizar a festa, além de comida, doces, vestidos, decoração e lembrancinhas. Em vez de contratar uma empresa para fazer o buffet, elas mesmas organizaram tudo sozinhas. “Foi nesse momento que a gente descobriu por que as pessoas marcam casamentos com um ano de antecedência: tudo precisa ser pago antes da festa e, se você nunca casou, dificilmente sabe disso”, conta.

Reportagem feita pela Catraca Livre em dezembro de 2018 já mostrava que, em novembro do ano passado, houve aumento de 65% no números de casamentos homoafetivos comparado ao mesmo período de 2017.