Coronel da PM de SP critica Jair Bolsonaro: “Deveria sofrer um impeachment”
Para o coronel Glauco Carvalho, despreparo de Bolsonaro em relação à pandemia pode custar muitas mortes no país
O coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Glauco Carvalho, acumula experiências em situações de crise. Enfrentou ofensivas do PCC no passado e esteve à frente de um contingente de quase 30 mil homens do Comando do Policiamento da Capital.
Ganhou notoriedade nos últimos dias após fazer um desabafo contra Jair Bolsonaro em um grupo de policiais no WhatssApp. “Como Militar, sinto-me envergonhado por tantas ações atabalhoadas, extravagantes, ridículas e mesquinhas”.
O conteúdo vazou para outros colegas de farda e, na velocidade das redes sociais, suas palavras causaram polêmica. Sobretudo em relação ao trecho em que Carvalho pede o impedimento do presidente. “E esse presidente, despreparado para o cargo, me comparece à manifestações e diz ‘se eu pegar é responsabilidade minha’!!! Surreal. Deveria sofrer um impeachment!!!.”
- Mulher tenta defender idosa e é agredida por bolsonarista em SP
- Anonymous revela que Bolsonaro teria tomado a vacina em SP
- Lula reforça compromisso contra a fome e alfineta Bolsonaro em discurso
- Veja como foi o debate do 2º turno entre Lula e Bolsonaro na Globo
Criticado por bolsonaristas e apoiado por outros colegas, sobretudo civis, o posicionamento de Carvalho reflete o desgaste político causado pelo mandatário em meio à crise do coronavírus.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o oficial justificou sua crítica ao presidente e analisou o atual cenário da política nacional, marcado pelo radicalismo.
“Minimizar o quadro só vai agravar a situação”
Sobre a crise do coronavírus, Carvalho acredita que Bolsonaro adotou uma postura omissa e que pode custar muitas mortes. “No meu entender há uma postura muito frágil do presidente da República em relação à gravidade da difusão dessa doença em solo brasileiro. E a inação dele vai gerar muitas mortes no Brasil – eu espero estar sinceramente equivocado. Essa postura dele de minimizar o quadro só vai agravar a situação e levar à perda de vidas. Isso me levou a me envergonhar de ser militar como ele e sermos preparados para crises graves. Fiz essa postagem me desculpando perante um grupo de pessoas pela postura de um presidente que eu entendo não estar apto a exercer o cargo político mais importante do País”.
Em meio às polêmicas de bastidores e tímido avanço da economia, Carvalho reforça que Bolsonaro não reúne condições para o cargo que ocupa. “Na minha opinião, ele é uma pessoa despreparada para ser o primeiro mandatário do País. Lamentavelmente, o desgoverno do PT e a posição dúbia do partido em relação aos que transgrediram as regras legais levaram à eleição dele. Tanto que meus colegas dizem: ‘E se fosse o Lula, e se fosse o fulano ou o beltrano?’ Mas nós não temos só essas alternativas. O Brasil se radicalizou. Não existe só o preto e o branco. O Brasil se radicalizou em razão do quadro grave e agudo. Bolsonaro era a alternativa que tinha. As pessoas não queriam mais alguém que fosse do establishment e saiu o Bolsonaro. Há que aparecer uma nova liderança de centro que tenha condições de aglutinar a Nação e fazer com que a Nação ache solução para seus problemas”.
Radicalismo e autoritarismo
Ainda de acordo com Carvalho, o presidente tem atitudes autoritárias e radicais. Compara o mandatário a líderes populistas que governaram a América Latina entre as décadas de 1970 e 1980. “Na literatura sobre o populismo dos anos 1970 e 1980 veremos que o quadro se agravou na América Latina em razão de lideranças carismáticas que desprezaram as instituições e os poderes de representação e se arvoraram no papel de salvadores da pátria. Essa é uma literatura sólida e nós assistimos à mesma coisa agora com uma roupagem um pouco diferente. Ele é ainda autoritário porque representa setores autoritários da sociedade brasileira.”
Confira a entrevista completa no Estadão.