Dimenstein: se eu fosse Bolsonaro, pediria ajuda urgente ao PT

Especialistas em saúde pública são unânimes em afirmar que a saída abrupta dos cubanos do Programa Mais Médicos é uma péssima notícia.

Péssima notícia significa, em poucas palavras, centenas de milhares – isso mesmo, centenas de milhares – de brasileiros doentes por falta de assistência atenção básica.

A Confederação Nacional dos Municípios divulgou comunicado afirmando  que a saída de cubanos afetará 28 milhões de pessoas. A entidade fala em “risco de calamidade pública”.

“Entre os 1.575 Municípios que possuem somente médico cubano do programa, 80% possuem menos de 20 mil habitantes. Dessa forma, a saída desses médicos sem a garantia de outros profissionais pode gerar a desassistência básica de saúde a mais de 28 milhões de pessoas”, acrescentou a entidade.

Reproduzo aqui um estudo publicado hoje, sexta-feira,  pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha.

A eventual paralisação do programa Mais Médicos e o congelamento dos gastos federais na atenção básica de saúde no Brasil, com o teto de gastos, podem atingir até 50 mil pessoas que, sem a assistência necessária, morreriam precocemente, antes dos 70 anos.

A conclusão é de um estudo desenvolvido pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (Universidade Federal da Bahia), pelo Imperial College, de Londres, e pela Universidade Stanford, nos EUA, que simulou cenários da saúde brasileira.

“A maioria desses óbitos serão nas áreas mais pobres, aquelas que hoje são cobertas pelos doutores cubanos [que pertencem ao programa Mais Médicos]”, afirma Davide Rasella, professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia e um dos autores do estudo.

O que são 5o mil mortos. Simples: é quase igual ao número de pessoas assassinadas por ano no Brasil, cerca de 64 mil. Essa estatística, como sabemos, ajudou a colocar Bolsonaro no poder, montado no pânico do brasileiro com a falta de segurança.

A razão da saída de Cuba são os vários ataques de Jair Bolsonaro ao contrato com aquele país, em meio a ameaças de que, uma eleito, expulsaria imediatamente – uma “canetada”, disse – os médicos.

Especialistas em saúde pública sabem que preencher essas vagas  não é simples. Ainda existe 2 mil postos abertos. Os cubanos pegaram  vagas que os brasileiros não quiseram.

O fato é que Bolsonaro vai ter que colocar em sua consciência a morte de brasileiros, graças às suas ameaças de campanha, destinadas a ganhar votos.

Bolsonaro foi irresponsável ao atacar Cuba no Programa Mais Médicos. Cuba está sendo irresponsável ao tirar os médicos tão abruptamente. Nessa aliança de irresponsabilidades, brasileiros vão morrer.
Sobraria apenas uma saída – e sei que ele jamais toparia. Pedir secretamente a um interlocutor de Cuba que, pelo menos, dê mais tempo ao país até que se comece a preencher as vagas.

E esse interlocutor no Brasil é apenas o PT.