Em diálogos vazados, Romero Jucá (PMDB) planeja “acordo nacional” para barrar Lava Jato

Em conversas gravadas semanas antes da votação na Câmara, atual ministro do Planejamento expõe crise política nacional e revela bastidores do processo que afastou Dilma Rousseff

Em um novo capítulo da crise política que acontece no Brasil, surge nesta segunda-feira, 23, a denúncia de uma conversa entre o atual ministro de Planejamento do governo provisório, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

Na gravação oculta, Jucá sugere “mudança” no governo federal em um pacto para “estancar a sangria” promovida pela Operação Lava Jato, que também é responsável pela investigação de ambos.

Romero Jucá (PMDB-RR), indicado pelo governo interino para o Ministério do Planejamento
Romero Jucá (PMDB-RR), indicado pelo governo interino para o Ministério do Planejamento

A conversa ocorreu semanas antes da votação do impeachment, na Câmara dos Deputados, que deu sequencia ao processo de afastamento da presidenta Dilma Rousseff.

Com 1h15 de duração, o conteúdo divulgado está em poder da Procuradoria-Geral da República (PGR). Para ter acesso a outros trechos da conversa, confira na íntegra na página do jornal Folha de S. Paulo:

MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.

MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.”

MACHADO – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…

JUCÁ – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…

MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

[…]

MACHADO – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ – Todos, porra. E vão pegando e vão…

MACHADO – [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.

JUCÁ – Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.

MACHADO – Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo.

JUCÁ – Não, o tempo é emergencial.

MACHADO – É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.

JUCÁ – Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? […] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.

MACHADO – Acha que não pode ter reunião a três?

JUCÁ – Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem você.

MACHADO – Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.

MACHADO – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…

JUCÁ – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…

JUCÁ – É, a gente viveu tudo.