Estudo nos EUA mostra que, se gays pudessem doar sangue, 1,8 mi de pessoas poderiam ter sido salvas

Homens que fazem sexo com homens, sejam homossexuais ou não, são proibidos de doar sangue no país; se a restrição fosse menor, como em outros lugares do mundo, a situação seria diferente

Nos Estados Unidos, homens que têm relações sexuais com outros homens não podem doar sangue. Desde 1977, quando a Agência Federal de Drogas e Alimentos (FDA) descobriu que a AIDS podia ser transmitida por transfusões sanguíneas, esse grupo de pessoas foi banido dos processos de doação de sangue.

Para o cálculo, foram considerados a proporção de doadores e o número de homens que fazem sexo com homens (HSH) que declararam ter AIDS.
Para o cálculo, foram considerados a proporção de doadores e o número de homens que fazem sexo com homens (HSH) que declararam ter AIDS.

O que um estudo recentemente publicado pela Universidade da Califórnia defende é que essa medida foi um grande erro. A pesquisa compara a legislação norte-americana com a de outros países, que permitem que homens que fazem sexo com homens (chamados pelos órgãos de saúde de HSM) doem sangue com algumas restrições, como períodos mínimos sem relações sexuais.

Assim, o estudo considera quantos homens poderiam ter doado sangue desde 1977 se essas restrições existissem nos EUA – calculando a proporção de doadores entre héteros e excluindo a quantidade de HSM com AIDS. O resultado disso seria um aumento anual de 2% a 4% no estoque total de sangue. Considerando um cálculo da Cruz Vermelha que diz que cada doação pode ajudar a salvar a vida de até três pessoas, o número total de vidas salvas desde a proibição seria de mais de 1,8 milhão de pessoas.

No Brasil

O intuito do estudo era pressionar a FDA para que a proibição da doação de sangue por HSH nos Estados Unidos fosse reduzida de acordo com períodos mínimos sem relações. No Brasil, por exemplo, ficam proibidos “homens que tiveram relações sexuais com outros homens” nos últimos 12 meses.

A discussão por aqui é a forma pela qual essa norma, definida por uma portaria do Ministério da Saúde, é aplicada em diferentes hospitais. O texto diz que os doadores não podem sofrer “manifestações de juízo de valor, preconceito e discriminação por orientação sexual, identidade de gênero, hábitos de vida, atividade profissional, condição socioeconômica, cor ou etnia”, mas casos de homofobia são denunciados em diferentes centros médicos e postos de saúde.

Por enquanto, os doadores brasileiros continuam sujeitos ao questionário feito por captadores e triagistas, processo em que costuma ocorrer discriminação. Algumas alternativas seriam a alteração do texto da portaria – que passaria a tratar de sexo anal em geral, em vez de sexo entre homens – ou a substituição do questionário por exames mais eficazes.