Jovens leem mais

Um experiência em diversos bairros da periferia de São Paulo, desenvolvida desde 2004, está mostrando como fazer com que jovens se encantem pela leitura. É um desafio que está no topo de agenda de comunicadores, escritores e educadores de todo o mundo, todos buscando fórmulas para agarrar a atenção de novos leitores.

Uma equipe de avaliadores constatou que aqueles que passaram por essa experiência leem muito mais (precisamente 670%) revistas, livros e jornais do que seus colegas de mesma situação econômica e moradores das mesmas comunidades.

O resultado está sendo divulgado neste período em que tanto a Flip como a Bienal do Livro discutem o medo de que o leitor de obras mais complexas esteja desaparecendo. Para chamar a atenção de crianças e adolescentes, a Bienal aproveitou a sexta-feira 13 e a onda da série “Crepúsculo” e fez do Zé do Caixão uma de suas estrelas para brincar com a curiosidade sobre a morte.

Aquela iniciativa, que desenvolveu uma série de atividades para despertar a curiosidade pela vida, ocorreu em bairros da periferia, que vivem o terror da violência em seu cotidiano. Tomou-se consciência de que lá existe outro tipo de vampiro, bem diferente do da ficção.

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Batizado de Jovens Urbanos, o programa convida moradores da periferia paulistana de 16 a 21 anos para descobrir a cidade e suas possibilidades. O projeto, desenvolvido pelo Cenpec, uma espécie de laboratório de experimentações de aprendizagem, organiza uma sequência de provocações intelectuais destinadas a despertar a curiosidade.

Durante 16 meses, são oferecidas oficinas de tecnologia digital, imagem e som, hotelaria e gastronomia, moda, design, arquitetura, tudo isso em meio a passeios pela cidade.

Nos últimos três anos, conheci alguns desses jovens, que, sem exagero, pareciam viver em guetos. Poucos já tinham ido a um cinema. Tinham tamanha defasagem educacional que dificilmente conseguiriam ler um texto com um mínimo de complexidade.

Como eles seriam se não tivessem passado por essa vivência?

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Para responder cientificamente a essa questão, pesquisadores montaram um grupo de controle. Eles acompanharam jovens de mesma idade, cor, gênero, renda e moradores do mesmo bairro dos frequentadores do programa.

Viu-se que os garotos do projeto Jovens Urbanos obtiveram, além da descoberta da leitura, emprego, uma renda maior no trabalho e até mais interesse em desenvolver ações comunitárias. Logo teriam, melhor desempenho na escola do que o verificado no grupo de controle, certo? Errado. É aqui que aparecem alguns dos vampiros que sugam a perspectiva da juventude brasileira que vive nas periferias.

Estamos lidando com a síntese da crise social brasileira, a mistura de jovens e a precariedade das metrópoles, onde fica a usina da violência, com baixas perspectivas.

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Apesar de terem recebido tantos estímulos durante tanto tempo e, inclusive, uma bolsa mensal em dinheiro, os Jovens Urbanos não demonstraram nenhuma superioridade escolar em relação aos integrantes do grupo de controle.

Embora tenham ficado mais interessados pela vida, começado a ler livros, jornais e revistas e resolvido melhorar suas comunidades, a escola não entrou em seus planos.

Na verdade, eles não vislumbram utilidade na escola. Currículos distantes da realidade, professores desmotivados, infraestrutura precária, tudo isso “vampiriza” os jovens, sugando seu prazer de aprender -e a perda da vontade de descobrir está mais perto da morte do que a extinção física no meu entender.

Leia coluna completa no jornal Folha de S.Paulo.