Lésbicas e bissexuais saem em caminhada para questionar mortes

Caminhar faz bem e, quando o ato é político, mais ainda. Neste sábado, 17, às 14h, diversos coletivos femininos e ativistas estarão nas ruas durante a “Caminhada de Lésbicas e Bissexuais” para marcar a semana da diversidade em São Paulo. O movimento, que é independente da Parada LGBT que acontece neste domingo, começa a passeata na Praça Roosevelt e finaliza suas atividades na Praça da República, com o tema: “Luanas e Katianes, Quantas mais? Resistimos! ”

Há 14 anos, as mulheres do coletivo Umas e Outras, organizadoras do primeiro ato, já entendiam que o movimento era mais “G” do que “LB”, apesar das mudanças de lá para cá, ainda é necessário lutar pela visibilidade de mulheres lésbicas e bissexuais, afinal, elas também estão entre os índices de mortes de pessoas LGBTs, muitas vezes nem sequer registradas por crime de ódio. Outro ponto que merece atenção, já que a homofobia não é criminalizada.

Ano passado, o recado foi dado: “O grito de resistência das lésbicas e bissexuais periféricas não será mais sufocado! Queremos discutir gênero nas escolas, ser respeitadas na saúde e andar nas ruas sem violência”. A escolha teve origem principalmente após a morte de Luana Barbosa dos Reis, que foi espancada por três PMs na periferia de Ribeirão Preto (SP). 

Cerca de 3 mil mulheres estiveram nas ruas em 2016.
Créditos: PAULO PINTO
Cerca de 3 mil mulheres estiveram nas ruas em 2016.

Infelizmente, em 2016, o cenário não era dos melhores. Katiane Campos de Gois foi encontrada morta em Brasília, com o corpo carbonizado e indícios de estupro. Por isso, o nome das garotas estão na linha de frente com o propósito de tratar o direito à vida.

“A gente sempre teve uma percepção de que a Parada LGBT era um movimento mais ‘festivo e de celebração’, e a caminhada foi tomando ares mais políticos, de reivindicação. Muitas mulheres se sentem mais representadas”, diz Márcia Balades, uma das mulheres que participam do organizativo e da Liga Brasileira de Lésbicas de São Paulo.

Em São Paulo, a articulação foi inspirada na Caminhada Lésbica do México, que aconteceu no mesmo ano de criação por aqui, em 2003. As mexicanas também não chegaram sozinhas ao movimento, que foram inspiradas pelas dykes marches dos EUA, como relata Mariana Meriqui, no artigo “10 anos de Caminhada de Lésbicas e Bissexuais em São Paulo” para o Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades.

Recortes

Com uma programação vasta desde o dia 9, neste ano, é importante lembrar os múltiplos preconceitos sofridos pelas mulheres mães, negras e periféricas. Rodas de conversa com essas questões em pauta reformularam a semana pré-caminhada.  Entre elas, uma que poucas vezes está em evidência: a saúde.

“Uma queixa que as mulheres lésbicas, por exemplo, têm ao ir ao consultório dos ginecologistas é que o atendimento é baseado na saúde reprodutiva e não necessariamente elas estão interessadas em se reproduzir. É uma questão que acaba afastando essas mulheres do consultório médico. Uma demanda que nós temos há tempos é para que sejam alterados esses protocolos para mulheres bissexuais e lésbicas”, ressalta Márcia. Dia 16, às 19h, na Ação Educativa esta será a pauta.

O tema deste ano também visibiliza mulheres negras e periféricas.

Outro destaque são as mães, que também participam do movimento e estão invisibilizadas até pela população LGBT. Em todos os eventos da caminhada foram disponibilizadas creches para os pequenos.  “Isso possibilita que as mães estejam na rua, no debate político, porque nem todos os espaços estão preparados para as crianças.” As propostas foram concretizadas após a participação da coletiva Luana Barbosa, que entrou no organizativo ano passado.

A estudante Bianca Guimarães participou do ato em 2016 e destaca que cada vez mais esses recortes são necessários, entre eles, a questão racial e periférica. “Existiam muitas meninas pretas, meninas de quebrada. Uma das cenas que eu mais vou levar para a vida foi quando eu fiquei ao lado da mãe de Luana Barbosa. Ela me disse que finalmente estavam olhando para o caso. A importância da caminhada, para além da representatividade é mostrar que a gente existe e se articula. É uma lógica de quilombo”.

PROGRAMAÇÃO

16.06 às 19h
Roda de Conversa:
“Saúde da Mulher Lésbica e Bissexual”
Local: Ação Educativa (Rua General Jardim, 660)
Creche disponível para o evento.

17.06
15ª Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo
Trajeto
14h – Concentração (Pça Roosevelt)
16h – Saída (Trajeto: Pça Roosevelt / R. Martins Fontes / R. Xavier de Toledo / Theatro Municipal / Largo do Paissandu / Av. São João / Av. Ipiranga / Pça da República.)
17h30 – Apresentações Culturais
Creche disponível para o evento.

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