Mandetta diz que alertou sobre 180 mil mortes, e Bolsonaro negou
Em entrevista a Pedro Bial, ex-ministro disse que Bolsonaro reagiu a alertas com negação e raiva
O ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), disse que chegou a alertar o presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de o Brasil atingir 180 mil mortes por covid-19, mas teve uma postura negacionista como resposta.
“Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele [Bolsonaro] eu mostrei, entreguei por escrito, para que ele pudesse saber da responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar. Foi realmente uma reação bem negacionista e bem raivosa”, contou Mandetta em entrevista ao programa “Conversa com Bial” na madrugada desta sexta, 25.
O ex-ministro usou o conceito psiquiátrico das fases do luto para explicar a postura de Bolsonaro: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. “Eu simbolizava a notícia e ele ficou com raiva do ‘carteiro’, ficou com raiva do Ministério da Saúde.”
Depois da negação e da raiva, segundo Mandetta, o presidente entrou na fase do apelo a algo sobrenatural. “Ele se apegou àquela cantilena de pessoas que vão ao seu redor e começam a falar o que ele queria escutar”, afirmou.
“Me lembro de uma pessoa da saúde pública, um ex-parlamentar, que falava que só iria ter três mil óbitos e duraria só quatro semanas. Daí veio a história da cloroquina e foi uma válvula de escape para ele”, lembrou.
Essas e outras revelações estão no livro que Mandetta está lançando, “Um paciente chamado Brasil: Os bastidores da luta contra o coronavírus”, em que conta detalhes do que aconteceu durante sua gestão à frente do Ministério da Saúde.