Marca lança linha de sapatos de salto para bebês de 6 meses

Que a sociedade de consumo e publicidade infantil estão sempre tentando impor às crianças produtos e comportamentos dos adultos, já não é novidade para ninguém. Mesmo depois da decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que considera ilegal qualquer ação publicitária dirigida à criança, em dezembro de 2016, casos de abuso continuam acontecendo no Brasil.

Em outros países, que seguem suas próprias lógicas de regulação da publicidade, não é diferente. Percebemos que a adultização atingiu níveis verdadeiramente excessivos e assustadores quando uma marca passa a produzir uma linha de sapatos de salto alto para bebês. Não, você não leu errado: para bebês.

A marca Pee Wee Pumps, dos Estados Unidos, tem uma linha exclusiva de sapatinhos com salto especialmente indicados para meninas de até seis meses. Com a desculpa de que são adequados, os tais saltinhos são almofadados para acomodar os pés dos bebês. A idealizadora da empresa resolveu lançar sua própria marca em 2009, depois de descobrir um sapato de salto para bebês em um leilão online, comprar e perceber que ele não parava no pé de sua filha.

Uma visita ao site oficial da empresa permite perceber que os excessos não param por aí. A descrição do produto indica também um olhar estereotipado para a figura da menina. Além da explosão de cor-de-rosa, cada categoria serve para um momento: tem o “pretinho básico”, o “indispensável no guarda-roupa de uma mulher”, e outros com estampas de animais, como zebra e onça. “Sua princesa será a mais bela”, diz a descrição da linha no site.

Além de oferecer um produto inadequado para bebês e que fere os direitos da infância, a postura da marca reacende a velha discussão sobre as distinções de gênero em relação ao vestuário infantil.

Confira as fotos abaixo, disponíveis no perfil público da marca no Instagram:

Por que isso é tão nocivo?

Alguns pais podem até pensar “mas afinal, que mal tem um sapatinho com um pequeno salto, e ainda por cima almofadado, que não vai machucar e ainda vai ficar super fofo?”. Porém, a questão vai muito além da aparência.

“Ao mesmo tempo que os bebês estão se tornando visíveis, há uma preocupação acerca dos discursos que decorrem dessa ‘popularidade’”, reflete o pedagogo Paulo Fochi, em entrevista à Revista Educação. O especialista se refere ao discurso da estimulação precoce.

Por trás de um produto como este, está um ideal equivocado de infância, interessado em enxergar a criança como um consumidor em potencial, e abreviar essa fase do desenvolvimento para chegar logo em uma espécie de imitação do adulto.

É consenso entre os pediatras e especialistas em desenvolvimento infantil que é preciso dar tempo para as crianças serem crianças. Quando se trata de bebês de apenas seis meses – o público-alvo da empresa em questão -, esse imperativo ganha ainda mais força.

Faz parte da proteção à infância deixá-livre de qualquer imposição de consumo, manipulações comerciais, adultização e outros abusos de naturezas diversas.

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