Meu último personagem sou eu

Estou convencido de que a educação e a comunicação tendem a se transformar em uma só linguagem

15/12/2010 11:35 / Atualizado em 12/03/2013 10:59

Hoje eu sou o último personagem desta coluna [referente à coluna Urbanidade do jornal Folha de S.Paulo], um espaço que, durante todos estes anos, foi dedicado a descobrir personagens, histórias de moradores -na maioria das vezes, invisíveis- da cidade de São Paulo.

O prazer de escrever aqui refletia o prazer de revelar ao leitor essa comunidade que nasce de uma combinação de caos com encanto, de selvageria com modernidade, de cosmopolitismo com provincianismo. O grande encanto sempre foram as figuras que trazem consigo uma boa história para contar. Agora, estou de novo voltando para os Estados Unidos, o que me deixa longe da minha matéria-prima.

Fui convidado a participar, em Harvard, de uma incubadora de projetos sociais, comandada pela Faculdade de Administração, em parceria com as escolas de educação, de direito, de saúde pública e de administração pública. Com base lá, o programa recruta professores e alunos de outros cursos para encontrar soluções. Terei um ano para desenvolver um projeto que agregue jornalismo, educação, urbanismo e novas tecnologias.

A base da experiência é uma plataforma que, há dois anos, venho desenvolvendo em conjunto com estagiários e universitários recém-formados, batizada de “Catraca Livre”, cuja missão é fazer de São Paulo uma cidade mais inclusiva e educadora. Desde a semana passada, o Google resolveu dar apoio tecnológico ao programa, destinado a ser replicado em qualquer lugar.

Estou convencido de que, na era da informação, a educação e a comunicação tendem, inexoravelmente, a se transformar em uma só linguagem.

Minha coluna de domingo é fácil carregar. Aliás, como seu foco é o capital humano, é muito oportuno escrevê-la vivendo dentro de Harvard, a poucos metros do M.I.T. e a 50 minutos de voo de Nova York.

Mas não terei como escrever a coluna das quartas-feiras porque ela depende do cheiro da rua, de ver as coisas e as pessoas, de senti-las, de tocá-las. Sem isso, não emociono. Sem emoção, não existe o personagem. Gosto de falar de gente que faz a diferença mesmo que microscopicamente. Contra as normas e padrões do jornalismo mais tradicional, virei um torcedor -uma atitude que, admito, tem lá seus defeitos.

Aprendi que São Paulo é a cidade mais interessante do Brasil -e uma das mais interessantes do mundo- apenas e simplesmente porque abriga muita gente criativa e empreendedora. Sem contar que morar na Vila Madalena e conviver com seus personagens é quase como morar num parque de diversões.

Já tinha morado em Nova York, onde fui acadêmico-visitante de Columbia. Ali aprendi a gostar ainda mais da minha cidade. Agora, imagino que o projeto, se der certo, quem sabe vá ajudar os paulistanos a viver melhor em sua cidade.

PS- Em breve, vou montar um site para que se possa acompanhar cada passo da experiência, mas que permitirá a participação de quem quiser.

Texto originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo.