‘Mulheres invisíveis’: negras, gordas e LBT’s no banco de imagens

A plataforma Mulheres (In)Visíveis tem como objetivo dar visibilidade a mulheres negras, gordas, idosas, lésbicas e transexuais

Não é mistério para ninguém que a publicidade na maioria das vezes retrata um mundo irreal. Quando se trata de mulheres negras, gordas, idosas, lésbicas e transexuais, dá para contar nos dedos quantas propagandas falam diretamente com elas. Por isso a consultoria 65|10, em parceria com o coletivo Catsu Street, resolveu criar um banco de imagens com mulheres reais.

A plataforma tem como objetivo dar visibilidade para quem é apagada do seu lugar por direito.  Afinal, assim como as outras, essas mulheres comem, dormem, riem, consomem, estudam, lideram — não são nada diferentes do restante.

Mulheres não-binárias também foram contratadas para participar do casting
Mulheres não-binárias também foram contratadas para participar do casting

“Há dois anos, trabalhamos para mudar a maneira como a mulher é representada na publicidade. E nos deparamos com a dificuldade em dar visibilidade para mulheres negras, gordas, lésbicas e trans nos castings e escolhas de imagens dos clientes. O Mulheres (In)visíveis nasceu como resposta prática a isso, para não ter a desculpa de ‘não encontramos essas fotos nos bancos de imagens’”, diz a cofundadora da 65|10, Thais Fabris.

São 100 fotos disponibilizadas para compra na Adobe Stock com modelos negras e brancas, gordas e magras, lésbicas, trans e não binárias retratadas de maneira livre de estereótipos.

Para a assistente social Ana Carolina Guanabara, que participou do casting, a proposta do projeto vai além de um banco de imagens. Ela entende que mulheres negras e gordas precisam ser retratadas em atividades que muitas vezes são subestimadas pela sociedade, como uma empresária, entre outras profissões ou ações diárias.

“Nunca me imaginei tirando foto, recebendo para isso, e ainda mais poder ser vista sob diferentes esferas, como executiva, fazendo exercícios… Foi novo para mim e para as outras meninas”, disse ela.

Ana carolina em diversas atividades projetadas para o banco de imagens
Ana carolina em diversas atividades projetadas para o banco de imagens

Este é um caminho sem volta para os conservadores — ainda bem. Cada vez mais os consumidores buscam a identificação nos produtos que consomem, e quem deixa de falar com essas pessoas perde credibilidade e respeito. No entanto, Thais ressalta a importância de tratar dessas causas com atenção.

“Para as causas, desde que a abordagem seja correta e embasada, é sempre bom poder contar com o impulso que a mídia de massa dá. Para as marcas, pode já estar virando uma fórmula batida o manifesto que levanta uma bandeira. O que a gente quer propor com o Mulheres (In)Visíveis é que a presença e o protagonismo das pessoas das chamadas minorias seja algo mais natural. Não precisa defender uma causa, só precisa dar representatividade para as pessoas que, nos casos de mulheres, negras e gordas, são maioria na população, e no caso das lésbicas e trans, sofrem violência pela invisibilidade e pelo desconhecimento”, afirmou.

Para 65% o padrão de beleza nas propagandas está muito distante da realidade das brasileiras e 60% consideram que as mulheres ficam frustradas quando não se veem neste padrão
Para 65% o padrão de beleza nas propagandas está muito distante da realidade das brasileiras e 60% consideram que as mulheres ficam frustradas quando não se veem neste padrão

Ações como essas são algumas formas para que outras mulheres brasileiras sejam finalmente inseridas em todas as esferas necessárias, quando falamos de reforçar a autoestima e intensificar representatividade na sociedade, obrigação que deveria ser cumprida desde sempre.

“Com 25 anos, eu nunca me vi representada em lugar nenhum, de forma positiva, que me fizesse me orgulhar de quem eu sou e toda a história que carrego. Isso precisa de uma vez por todas ser mostrado de forma real e como uma coisa boa. Sei que não estou sozinha neste ‘local’, minha vida, minha aceitação poderia ter sido completamente diferente se isso me fosse apresentado com outro olhar, e não me ensinando a me odiar”, diz Ana Carolina.

Na mesma semana, a 65|10  também lançou outra parceria, desta vez com o Instamission. A missão 343 é: fotografe as mulheres que você quer ver na mídia. “As pessoas já tiraram mais de mil fotos e algumas serão escolhidas para fazer parte de banco de imagens gratuito que será lançado através do Creative Commons Brasil”, finaliza Thaís.

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