O mês das mulheres negras latino-americanas e caribenhas

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, 25 de julho, vem ganhando cada vez mais destaque no Brasil. Por isso, ao longo do mês, uma série de reportagens no Catraca Livre ilustram as demandas, cultura e curiosidades de várias mulheres que circulam entre fronteiras, muitas vezes desconhecidas, através do Afrolatinas.

A marcação internacional do dia foi feita em 1992, após o  1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, criação da Rede que leva o mesmo nome. No Brasil, a data também sinaliza o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola que viveu no Estado de Mato Grosso durante o século XVIII. Aqui, o momento tem sido cada vez mais enfatizado pelas ativistas, como afirma a jornalista Juliana Gonçalves, que faz parte do organizativo da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.

“Reunimos uma série de entidades, coletivos e mulheres negras autônomas para proporem atividades nos quatro cantos da cidade durante todo o mês de Julho. Falaremos sobre maternidade, militância, religiosidade. Em formato de rodas de conversa, oficinas, sessão de cinema, etc. A ideia é fazer alguns debates necessários e ao mesmo tempo construir diálogo e base para marcharmos dia 25”.  Ano passado, a marcha passou pelo centro de São Paulo e reuniu cerca de 3.000 mulheres nas ruas.

Neste ano, a concentração da marcha em São Paulo é na praça Roosevelt, nesta terça, dia 25, a partir das 17h. No Rio, será neste domingo, dia 30, a partir das 9h no posto 4, em Copacabana.

Concentração de ato organizado pela Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, o machismo, o genocídio e a lesbofobia, na praça Roosevelt, região central da capital paulista em 2016.
Créditos: Rovena Rosa/Agência Brasil
Concentração de ato organizado pela Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, o machismo, o genocídio e a lesbofobia, na praça Roosevelt, região central da capital paulista em 2016.

Por todo país, mulheres negras circulam em seus estados com o Julho das Pretas, um movimento que surgiu em 2013, na Bahia, intervenção criada pelo Odara – Instituto da Mulher Negra. Neste ano, a organização traz uma presença  ilustre para as baianas, uma das maiores ativistas pelo direitos civis nos EUA e do movimento negro: Angela Davis. 

Em São Paulo, a abertura para as atividades reuniu cantoras, percussionistas, dançarinas e DJ’s  que se apresentaram no Julho das Pretas: abertura das atividades para o #25DeJulho, dia 1º de julho, no Aparelha Luzia. O evento foi articulado pelo núcleo da Marcha das Mulheres Negras na capital, que promove outras ações durante o mês. 

Na programação, ao longo da noite, quem passou pelo palco do Aparelha Luzia — importante espaço dos ativistas, artistas e comunidade negra — foram mulheres que lutaram pelo reconhecimento através da arte, uma delas, a atriz e cantora Josi Lopes.

“A importância que eu vejo do dia 25 e a minha carreira é o dizer! O espaço pra você se comunicar, eu escolhi me comunicar através do som. Esse poder e autoconhecimento através da música, um dia importante para nós mulheres pretas, é um start”.

A maioria das mulheres em destaque no evento possuem trabalhos independentes, um espaço importante já que dentro do meio artístico também é possível encontrar o racismo, machismo e outras opressões, como destaca Josi.

“Eu vim pra São Paulo para fazer a Nala, do Rei Leão, que é o maior musical da Broadway. Eu fui coro em outro musical  e nesse eu consegui um papel de destaque da peça, mas a próxima peça, eu não sei o que vou fazer. Tem essa questão da instabilidade que a artista tem, que a artista negra tem. Não são todas as produções que nós podemos trabalhar. Precisamos ter consciência de quem a gente é, e estar nesses lugares. Com toda certeza todas as pessoas vão te testar, testar seu talento e não é pra gente mostrar serviço para os outros, mas é pra ser quem você é mesmo”.

A atriz atualmente faz parte do musical Alegria, Alegria.

A cada ano as articulações de mulheres negras aumentam, fruto de uma articulação que busca qualidade de vida entre elas e para as que estão por vir. É a luta pelo bem viver! 

“É a oportunidade de nos imaginarmos, nos fortalecermos e construirmos juntas, uma ofensiva a esse projeto de sociedade racista e machista. É um evento de nós, por todas nós”, conclui Juliana Gonçalves.