O que se sabe sobre o petista assassinado por bolsonarista no Paraná

Marcelo Aloizio de Arruda era casado com Pâmela Suellen Silva e tinha quatro filhos; Filiado ao PT há 30 anos, ele exercia a função de guarda municipal

O guarda municipal petista Marcelo Arruda foi assassinado a tiros na noite do último sábado, 9, em Foz do Iguaçu, Paraná, enquanto celebrava seu aniversário de 50 anos com temática do PT, usando bandeiras e cores do partido, além de uma fotografia do ex-presidente e pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva.

O que se sabe sobre o petista assassinado por bolsonarista no Paraná
Créditos: Arquivo pessoal
O que se sabe sobre o petista assassinado por bolsonarista no Paraná

Os disparos foram realizados pelo agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho, que está internado. De acordo com o boletim de ocorrência, ao invadir a festança, Guaranho gritou “aqui é Bolsonaro”.

Marcelo Arruda foi socorrido, porém faleceu no hospital. Deixa mulher e quatro filhos, incluindo um bebê. Filiado ao PT, ele foi candidato a vice-prefeito de Foz do Iguaçu pelo partido em 2020.

Onde aconteceu?

O aniversário juntou aproximadamente quarenta convidados na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu. Presentes dizem que, num primeiro momento, acreditavam que Guaranho era um convidado.

André Alliana, amigo do aniversariante, falou ao UOL que a festa acontecia normalmente quando Guaranho chegou por volta das 23 horas, em um carro branco, com a mulher no banco de trás, com um bebê de colo.

“Achamos que era um convidado, já que também tinha bolsonaristas no local. O Marcelo estava na cozinha e fomos chamá-lo para receber esse homem. Foi aí que vimos que não era brincadeira”.

“Em seguida, ele [Guaranho] deu a volta de carro, xingou quem estava lá e disse que ia voltar para ‘acabar’ com todo mundo. O Marcelo estava com um copo de chope na mão e acabou jogando nele para expulsá-lo do local.”

Com medo, Arruda foi até seu veículo e voltou com uma pistola, conta Alliana. Quinze minutos depois, Guaranho voltou sozinho ao lugar.

Como ocorreu?

Vídeo de câmera de segurança do lado exterior do local da festa, mostra como tudo aconteceu.

Imagens de câmera de segurança do interior do salão, mostram Arruda em pé. Segundos depois, ele cai no chão e se abriga atrás de uma mesa.

O agente penitenciário aparece correndo dentro do salão de festas, com arma em punho, e mira em direção ao aniversariante, que tentava se proteger.

Então, a esposa de Arruda tenta impedir que Guaranho atire de novo. No vídeo, é possível ver um sinal luminoso saindo da arma em direção a Arruda.

O bolsonarista se levanta sai correndo, ainda com a arma. Arruda, já ferido, atira contra Guaranho, que é atingido e também cai no chão. Um homem não identificado aparece e chuta o rosto do bolsonarista, que para de se movimentar. Outras pessoas também surgem no salão.

Prisão preventiva

A Justiça decretou a prisão preventiva do agente penitenciário Jorge Guaranho. A informação é do Ministério Público do Paraná.O promotor Tiago Lisboa disse, durante entrevista coletiva, que um juiz plantonista aceitou o pedido de conversão da prisão em flagrante para prisão preventiva na noite de ontem. Guaranho está hospitalizado em estado grave sob escolta, segundo Lisboa.

Polícia muda delegada do caso

O governo do Paraná informou que a delegada Iane Cardoso, inicialmente designada para investigação do caso, foi substituída pela delegada Camila Cecconello, que chefia a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), com sede na capital Curitiba.

Camila também vai ter o apoio de uma equipe da delegacia especializada “para garantir celeridade na apuração dos fatos”, disse a Secretaria de Segurança Pública do Paraná.

O texto não informou o motivo da alteração, porém ela aconteceu após Gleisi Hoffmann, deputado federal pelo estado e presidente do PT, dizer ter recebido relatos de que a delegada Iane Cardoso fez publicações contra o partido em 2016, de acordo com informações do blog da Andréia Sadi, da GloboNews. A delegada negou parcialidade.

Sobre Jorge Garanho

O perfil no Facebook de Guaranho é cheio de publicações favoráveis o presidente Jair Bolsonaro (PL). Nelas ele também defende as pautas do governo federal, como o armamento da população. Nos últimos anos, ele escreveu sobre “limpar” o Brasil do PT.

“Vamos todos juntos nessa luta para limpar o Brasil do PT, limpar o país desses corruptos que só buscam perpetuação no poder às custas do bem da maioria”.

Guaranho presta serviço público federal desde 2010, segundo informações que publicou nas redes sociais. Ele apoiou a eleição de Bolsonaro em 2018 e utiliza as redes sociais para atacar o PT e o ex-presidente Lula.

No Twitter, Guaranho se diz um conservador e cristão. Por lá ele escreveu “armas = defesa”, na descrição de seu perfil. O policial já defendeu o armamento em publicações abertas. Já com Bolsonaro no poder, Rocha Guaranho foi irônico ao defender o armamento, bandeira do presidente da República.

“Estão criticando quem quer arma sobre o preço e que pobre não pode comprar. Será que eles sabem quanto custa um iPhone”.

Ele também alimentava teorias de fraude na urna eletrônica. Guaranho acreditava que o fato de Bolsonaro não ter ganhado a disputa presidencial com Fernando Haddad (PT) no primeiro turno era a prova disso.

É possível ver imagens do bolsonarista fazendo sinais de armas com as mãos e fotografias em apoio ao presidente Bolsonaro nas redes sociais. Antes do atual presidente assumir o cargo, o autor dos disparos contra Arruda falava que “o Brasil está violento e precisa mudar”.

Ele pregava que a eleição de Bolsonaro resolveria o cenário da violência. Ainda em 2018, o agente penitenciário teceu críticas a uma suposta agressão sofrida por um eleitor do então candidato do PSL à Presidência, dizendo que uma aluna socou um professor que simplesmente vestia a camisa de Bolsonaro.

Sobre Marcelo Arruda

O guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda era casado com a investigadora da policial civil Pâmela Suellen Silva, de 38 anos, com quem tinha quatro filhos. Filiado ao PT há 30 anos, Arruda se formou em biologia pela UniAmérica Centro Universitário, de Foz do Iguaçu, em 2003.

Guarda municipal do município há 28 anos, ele fez parte da primeira turma da corporação. Amigo e companheiro de turma de Arruda na guarda municipal, Marcelo Iared Henriques o descreveu, em entrevista para a GloboNews, como uma “pessoa aguerrida” e “pai de família exemplar”, que “não media esforços em lutas sindicais, em prol da classe e das demais categorias da prefeitura municipal”.

A relação de Arruda com a política e as lutas sindicais era antiga. Ele era diretor da executiva do Sismufi (Sindicato dos Servidores Municipais de Foz do Iguaçu), além de filiado ao PT.

Em 2020, Arruda se candidatou a vice-prefeito de Foz do Iguaçu, na chapa encabeçada por Luiz Henrique Dias da Silva, também do PT. A dupla conseguiu apenas 2.884 votos válidos, ou o equivalente a 2,2% do total. Na época, Arruda declarou à Justiça ter apenas um bem: um Toyota Corolla no valor de R$ 25 mil.