Opinião: ao optar por Bolsonaro e Haddad, Brasil escolheu a crise
Todas as pesquisas indicam que, se tiver segundo turno, será entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
A leitura é óbvia: o Brasil escolheu o caminho da crise na falta de uma solução de centro mais moderada.
É fácil entender essa rota da crise.
Suponha-se a vitória de Bolsonaro. Para começo de conversa, ele não tem um partido partido político. Isso significa que, para governar, terá de conseguir maioria no Congresso, negociando com o chamado “centrão”.
Esse tipo de aliança, como todos sabem, tem custo – e o custo é alto. Rapidamente, virão as denúncias em torno dos acertos, arranhando a imagem de “anti-sistema” de Bolsonaro. Havia acusações de “estelionato eleitoral”.
Uma das razões do desgaste de Dilma Rousseff (PT) foi por causa do estelionato eleitoral.
Uma opção seria não ceder. Mas também não aprovar nada e jogar o país na crise, alimentando a chama de uma intervenção militar.
Lembremos que Fernando Collor foi eleito num esquema semelhante: sem partido, viu-se obrigado a negociar. Frágil no Congresso, teve de renunciar.
Suponha-se a vitória de Fernando Haddad. Ele tem um partido mais estruturado. Mas insuficiente para aprovar medidas urgentes para evitar o colapso das contas públicas. Obviamente teria de negociar com o Centrão – o que não seria necessariamente um problema. Lula e Dilma tiveram amplo apoio desses partidos.
O problema no caso é outro. Ele seria vitorioso em uma nação radicalizada, movida pela ódio ao PT. Iria pairar no ar sempre a acusação de que Haddad seria um “fantoche” de Lula, respondendo a inúmeros processos na cadeia – e recebendo a solidariedade do presidente.
O que estamos vendo é a incompetência do sistema político em gerar uma força moderada de centro, capaz de aglutinar alianças para aprovar reformas urgentes e impopulares.