Opinião: #BolsonaroNaCadeia é pior que a primeira facada

A primeira facada contra Jair Bolsonaro (PSL) mexeu nas eleições – e muito.

Antes da facada, os adversários do deputado, especialmente Geraldo Alckmin, jogavam cada vez mais duro no horário eleitoral. Tiveram de parar os ataques.

Nesse intervalo, Bolsonaro foi beneficiado pela imagem de vítima de uma violência e ganhou uma monumental cobertura dos meios de comunicação – o que não aconteceria se não fosse o atentado.

O fato óbvio é que ele tirou proveito da facada, ajudando-o a consolidar sua posição no primeiro turno.

A segunda facada, disparada na noite de quinta-feira, 27, é muito pior eleitoralmente. Apenas a partir de hoje, vamos ver os efeitos. E um dos sinais disso estava no trendig topics mundial de hoje: a hashtag #BolsonaroNaCadeia” ocupou o primeiro lugar.

Trends Mundial desta sexta-feira, 28
Créditos: Reprodução
Trends Mundial desta sexta-feira, 28
#BolsonaroNaCadeia ocupa o topo do trends nacional
#BolsonaroNaCadeia ocupa o topo do trends nacional

O que diferencia Bolsonaro entre os seus é sua suposta honestidade contra o lamaçal político.

Essa vai receber um tiroteio estrondoso com base no documento, divulgado pela Veja, em que Ana Valle, a ex-mulher  deputado, o acusa de furtar um cofre, esconder patrimônio e manter rendimento com verbas escusas. Além disso, o processo de refere ao seu comportamento violento.

Reproduzo aqui apenas um trecho da reportagem para ver o tamanho do estrago eleitoral:

“Em 2007, quando terminavam um casamento de mais de uma década, a ex-mulher de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, acusou o hoje presidenciável do PSL de furtar seu cofre em uma agência do Banco do Brasil e levar todo o conteúdo: joias avaliadas em 600 000 reais, 30 000 dólares em espécie e mais 200 000 reais em dinheiro vivo — totalizando, em valores de hoje, cerca de 1,6 milhão de reais, algo incompatível com as rendas conhecidas do casal. Ela registrou um boletim de ocorrência na 5ª Delegacia da Polícia Civil do RJ no mesmo dia em que constatou que o cofre estava vazio. “Isso só pode ter sido coisa do meu ex-marido”, disse ela aos funcionários do banco. Um deles tentou acalmá-la, sem sucesso. “Ele pode tudo, e vocês têm medo dele”, respondeu ela.

A revista Veja teve acesso às mais de 500 páginas do processo de separação judicial iniciado em abril de 2008. A ação contém uma série de incriminações mútuas que fazem parte do universo privado do ex-casal. Há, no entanto, acusações de Ana Cristina ao ex-marido que entram na esfera do interesse público porque contradizem a imagem que Bolsonaro construiu sobre si mesmo na campanha presidencial. Além do furto do cofre, ela relatou também que o deputado federal ocultou patrimônio pessoal da Justiça Eleitoral em 2006 e tinha uma renda de 100 000 reais, incompatíveis com o que recebia como parlamentar (R$26,700) e como militar da reserva (R$8,600).

A reportagem vem na véspera da manifestação das mulheres prevista para este sábado, 29. Há uma grande chance dos protestos se transformarem na mais importante manifestação feminina da história do Brasil.  Some-se a isso as centenas de milhares do movimento #DemocraciaSim.

A segunda facada vem num momento em que parte da elite e da classe média já sabe ou suspeita, com base nas pesquisas de opinião, que Bolsonaro corre um enorme risco de perder no segundo turno, devido à sua alta rejeição. Ou seja, votar em Bolsonaro seria ajudar o PT.

A dúvida agora é se ainda há tempo para Geraldo Alckmin, mais ligado à direta, apresentar-se como o “salvador”, drenando os votos que seriam de Bolsonaro.

Difícil. Mas não impossível.

O fato, porém, é que esse processo da ex-mulher irá perseguir o deputado nessas eleições.