Organizações civis chamam a atenção para os rios da cidade

wp-image-394
Praça da Nascente foi rebatizada com este nome após os moradores encontrarem três nascentes.[/img]

Durante o desenvolvimento urbano, os cursos d’água foram canalizados e aterrados. “Temos um grande recurso em rios, mas que está sendo desperdiçado”, diz Andrea Pesk, integrante do coletivo Ocupe e Abrace, que revitalizou a Praça da Nascente.  Algumas iniciativas tentam mudar essa situação e trazer o assunto – e os rios – à tona. Confira:

Rios e Ruas

Da iniciativa do geógrafo Luiz de Campos Jr. e do arquiteto e urbanista surgiu o Rios e Ruas. A organização realiza passeios pelo curso dos rios, desenterra nascentes e conta a história da cidade através de seus cursos d’água.

Campos afirma que não dá para andar 200 metros pela cidade sem cruzar um rio. No início, Bueno duvidou dessa informação e os dois saíram andando. Em um lugar mais úmido e silencioso, características próprias de nascente, escutaram um barulho de água debaixo da terra. Tomados de surpresa, batizaram o rio de Iquiririm, que significa água silenciosa em tupi. O nome oficial é Pirajussara Mirim e o rio, na verdade, não é silencioso.

Carnaval

Este ano, dois blocos de carnaval pularam pelos rios da cidade. O Bloco Fluvial do Peixe Seco caminhou pelo curso do rio Saracura, que passa pela Avenida Nove de Julho.  As pessoas desciam por cima da terra e o rio corria por baixo, visível em apenas alguns pontos.

Pós carnaval, foi a vez do bloco Água Preta cantar sobre os rios. O rio homônimo começa na Praça Rio Campos, na Pompeia, e também é canalizado em todo o trajeto. Anahí Santos, criadora do bloco, examinou mapas históricos e recolheu histórias de moradores para determinar o trajeto original do rio. Para ela, passar por cima do rio conscientiza bastante. “É uma mistura: enquanto carnaval significa esquecer da vida, nosso bloco traz uma história”, conta.

Praça da Nascente

Alguns trechos da praça Homero Silva estavam sempre úmidos. Os moradores do bairro da Pompeia, curiosos, investigaram o porquê. Descobriram mais de três nascentes e rebatizaram a praça, informalmente.

Com ajuda da subprefeitura, do Rios e Ruas e do geólogo Sasha Hart, os moradores criaram o coletivo Ocupe e Abrace. Começaram a desenterrar os rios e a liberar as nascentes. Uma delas é hoje usada para regar a horta comunitária da praça. A qualidade das águas é periodicamente testada pelo SOS Mata Atlântica – as nascentes têm água limpa e não contaminada.

Chácara da Fonte

Os caminhos dos rios contam muito sobre a história da cidade. Indígenas, tropeiros e bandeirantes já usaram o Peabiru, malha de caminhos indígenas que interligavam a América do Sul. Na Vila Pirajussara, eles paravam para se abastecer de água, comida e descansar ao lado da fonte. Isto, segundo estudos, como os desenvolvidos por Júlio Abe Wakahara, arquiteto da Faculdade de Arquitetura da USP.

No entanto, a trilha não existe mais e a fonte está esquecida dentro de uma propriedade particular.  Hoje, o muro afasta as pessoas da área de 39 mil m² de mata atlântica e a história escorre para o esgoto. A água vinda dos riachos da chácara sai pelo portão da Rua da Fonte. Ali, na calçada, há mata, pedrinhas, girinos e até peixes. Mas apenas por 10 metros; depois disso, entra na boca de lobo. Debaixo da terra, encontra-se com o córrego Pirajussara Mirim. Segundo medições quase um litro de água por segundo é desperdiçado.

Músicos e artistas do bairro realizaram diversas festas e ocupações para transformar a chácara em parque municipal, para preservar a fonte e a história arqueológica do bairro. Entraram com um projeto na Secretaria do Verde em 2011.

Para saber mais, confira este documentário sobre a urbanização de São Paulo e sua relação com os rios:

Outras matérias sobre o assunto:

Conheça a história do rio Saracura – TV Folha
Os rios escondidos de São Paulo – infográfico da Veja São Paulo
Tem um rio no meio do caminho – Veja São Paulo
Entre paredes de concreto – Revista Fapesp
São Paulo afogou os rios – Revista Fapesp
Sem poluição nos rios, São Paulo não teria risco de racionamento – R7