Prática abusiva no parto estraga vida sexual de mulheres

O corte abaixo da vagina se chama episiotomia e é feito em 53,5% dos partos normais no Brasil

As vítimas tiveram suas vidas sexuais arruinadas pela dor e pela ardência
Créditos: Reprodução / The Intercept Brasil
As vítimas tiveram suas vidas sexuais arruinadas pela dor e pela ardência

Reportagem de Bruna de Lara, do The Intercept Brasil

O corte abaixo da vagina veio sem aviso. A dor que invadiu o corpo de Cema Alves, que paria o segundo filho, era absurda. E, mal havia dado à luz, veio a fisgada da agulha. Sozinha na sala de parto, ela conta ter ouvido um diálogo entre uma enfermeira e o médico Humberto Keiji. “Ela perguntou: ‘Doutor, vai fazer o [ponto] do marido?’ Ele falou: ‘Vou fazer dois pra garantir’”, lembra.

O médico deu dois pontos além do necessário para fechar o corte feito na sua vagina. O resultado? A deixou “apertadinha” para aumentar o prazer de seu companheiro no sexo.

O corte abaixo da vagina durante o parto se chama episiotomia e serviria para evitar que a passagem da criança causasse um rasgo entre a vagina e o ânus. É uma prática corriqueira no Brasil, onde 53,5% dos partos normais são feitos com episiotomia.

Mas há três problemas com o corte: não há evidências científicas de que ele seja necessário, ele não pode ser feito sem autorização das mulheres e a costura em hipótese alguma deveria se estender além do necessário, muito menos com objetivo de apertar vaginas e satisfazer homens. É por causa desse hábito dos maus obstetras, a mais machista das formas de violência que uma mulher pode sofrer durante o parto, que a costura exagerada ganhou o apelido de “ponto do marido”.

Conversei com seis mães para esta reportagem. Todas tiveram suas vidas sexuais arruinadas pela dor e pela ardência que sentiam durante o sexo após a costura machista. A maioria passou meses tendo poucas relações, sempre dolorosas. Uma chegou a ficar mais de um ano sem transar com o marido.

Confira a reportagem na íntegra aqui.