Prefeitura confirma meta de 24 mil novas moradias até 2020

Em meio à crise habitacional na capital paulista, prefeitura projeta criação de 24 mil moradias até 2020

Desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida ocorreu no último 1º de maio
Desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida ocorreu no último 1º de maio

O desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no último 1º de maio, reacende o debate sobre habitação na maior cidade da América Latina.

Em coletiva realizada na última quarta-feira, 2, representantes da prefeitura anunciaram a criação de uma força-tarefa que, durante 45 dias, avaliará as condições das ocupações em 70 edifícios da capital paulista. Ressaltou também que a meta da atual gestão é entregar 24 mil moradias até 2020.

Apesar disso, o Secretário Municipal de Habitação, Fernando Chucre, reflete o conturbado contexto de moradia da capital paulista. “O município tem um déficit de 370 mil famílias aguardando habitação. Dessas, 170 mil estão numa lista de cadastramento da Cohab aguardando moradia há mais de 15 anos. Então não é correto, sob o ponto de vista da política habitacional, que se faça atendimento de uma família se ela não tiver nesta lista”.

Advogado critica postura de ex-prefeito e governador

Em meio à tensão dos dias que se sucedem ao desabamento do edifício, na última quarta-feira, 2, o advogado Benedito Roberto Barbosa, da União Nacional de Moradia Popular, presente no acampamento improvisado no Largo do Paissandu, lembrou a realidade condenável a que estão submetidas cerca de 45 mil famílias.

Acho que o governador deveria ser mais solidário e respeitoso às famílias no sentido de resolver o problema, atender e não vir aqui tentar criminalizar o movimento”, ressaltou Benedito de Souza
Acho que o governador deveria ser mais solidário e respeitoso às famílias no sentido de resolver o problema, atender e não vir aqui tentar criminalizar o movimento”, ressaltou Benedito de Souza

E lamentou o posicionamento do ex-prefeito João Doria e do govenador Márcio França que não hesitaram em criminalizar as vítimas da tragédia.

“As famílias que não tem salário, que não emprego nesse país, acabam tendo que recorrer às ocupações. Inclusive a ONU tem uma diretriz muito clara sobre isso, que a população de baixa renda não pode onerar mais que 25% da sua renda com pagamento de aluguel. No Brasil, as famílias chegam a comprometer 70%  da sua renda pagar aluguel em quarto de cortiço no centro, ou no cortiço,  numa casa de cômodo na periferia. Isso é inaceitável. O que nos precisamos é de política de habitação no país, continuidade dos programas, porque chega um governo inventa um programa, chega outro e para o programa e nunca dão continuidade nas políticas habitacionais. Eles tinham que ter vergonha na cara de fazer um discurso desse, de tentar criminalizar os movimentos”.

Urbanista aposta em acirramento político nas ocupações  

Para o urbanista Kazuo Nakano, doutor em Demografia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São Paulo (USP), a tragédia pode favorecer a atuação dos movimentos de moradia. Sobretudo para evidenciar a falência das autoridades quanto às políticas da habitação na maior cidade da América Latina.

“Dá para perceber a mobilização rápida dos movimentos de luta por moradia, que vivem agora um contexto de acirrar a luta, acirrar as denúncias, de mostrar a ausência e a omissão do poder público, principalmente o poder público municipal.

São Paulo tem dois planos habitacionais prontos, bons, que dimensionam todo tipo de necessidade habitacionais que a cidade tem. Novas moradias, reforma de cortiços, urbanização de favela, realocação, remanejamento. Tem ideia de todos os recursos financeiros que precisam pra atender essas necessidades, as estratégias de construção de moradia, novos conjuntos habitacionais, tá tudo ali nesses dois planos de habitação que estão no papel, mas que estão parados. A prefeitura não designa a responsabilidade de fazer uma política habitacional em larga escala, que a cidade precisa. Por isso, existe um momento importante pra fazer luta e uma crítica feroz a estas condições”.

Leia também: