Qual a relação entre publicidade infantil e cultura de violência?

Sempre falamos no Catraquinha sobre publicidade infantil e seus efeitos na vida das famílias, e o tema divide opiniões. Alguns pais comentam nossas matérias dizendo, de maneira geral, que o assunto não tem relevância, uma vez que são as famílias, os pais, os únicos responsáveis pela compra de produtos para as crianças. Mas, apesar disso, nos perguntamos: que impactos a publicidade dirigida às crianças deixa nos pequenos? Ganhando ou não o que querem, que emoções as crianças nutrem a partir do desejo frustrado de consumir e adquirir produtos? A pesquisa “Publicidade Infantil em tempos de convergência“, ouviu crianças de todo o país para saber exatamente isso. Os depoimentos chamam a atenção:

“dá vontade de ficar um mês sem falar com a minha mãe”

“eu tenho até vontade de ir embora e nunca mais voltar para casa”

“bravo, não, fico triste”

“eu fico com uma ira”

“às vezes dá vontade de esganar os pais”

Os relatos acima são trechos das respostas das crianças sobre os seus sentimentos diante da negativa de seus pais ou responsáveis para comprar algo que lhes foi anunciado. Na análise dos pesquisadores, os relatos demonstram um nível de insatisfação extremo, e também a nítida relação entre o direcionamento das mensagens comerciais aos pequenos e a cultura da violência.

Quem não se lembra daquele comercial em que a criança falava repetidas vezes: “Eu tenho, você não tem”?

A pesquisa também questionou as crianças sobre como se sentiam em relação à não ter coisas que desejavam, anunciadas em propagandas, e seus amigos terem. Um relato resume a preocupação dos pesquisadores com o tema: “Com vontade de roubar dele”.

O levantamento traz um retrato preocupante do quanto a publicidade dirigida às crianças, e o discurso de posse e pertencimento embutido nela, pode ser cruel e nocivo à criança, acarretando em consequências sociais graves.

A conclusão da pesquisa, nesse sentido, é contundente: “O consumo, portanto, vai além do fator mercadológico, possui um papel classificatório, promovendo inclusão e exclusão de indivíduos em determinadas categorias e grupos sociais. Essa característica pode ser ainda mais perversa para crianças da faixa etária deste estudo (9 a 11 anos), que se encontram numa fase de afirmação de quem são e a que grupos pertencem.”

Vamos pensar sobre isso?

Com informações de Mapa da Infância Brasileira.