Carnaval Sem Assédio
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União das mulheres é transformadora, diz integrante do Não é Não

Desde 2017, coletivo distribui tatuagens temporárias contra o assédio durante a folia

Luka Campos é uma das idealizadoras do coletivo Não é Não
Créditos: Gabriel Nogueira / Catraca Livre
Luka Campos é uma das idealizadoras do coletivo Não é Não

Um caso de assédio sexual no pré-Carnaval do Rio de Janeiro, em 2017, foi o ponto de partida para a criação da campanha Não é Não, que, hoje, mobiliza milhares de mulheres em todo o país.

Uma das integrantes do coletivo estava dançando, quando um homem tentou beijá-la e, ao receber um “não”, a segurou pelo shorts. Ao comentar sobre o caso entre amigas, outras histórias similares surgiram no grupo. “Então, veio o questionamento: ‘Por que não falamos sobre isso?'”, relata Luka Campos, uma das cinco idealizadoras da iniciativa.

A ação teve início no mesmo ano, apenas no Rio, onde distribuiu gratuitamente 4.000 tatuagens temporárias pelos blocos da cidade com uma mensagem simples e direta: “Não é Não”. “No Carnaval, a gente fica na rua, com menos roupa, bebendo, então estamos mais vulneráveis. A ideia é que as tatuagens formem uma rede de apoio para cuidarmos umas das outras e promovam um debate sobre o assédio sexual”, afirma.

Após a repercussão do movimento, tanto nas ruas como nas redes sociais, o coletivo decidiu criar uma campanha de financiamento em 2017, com a qual arrecadou R$ 20 mil e distribuiu 26 mil tattoos nos maiores Carnavais do Brasil.

Nesse processo, Luka conta que ela e as demais integrantes do grupo viram que também precisavam se aproximar de mulheres em outros estados. “A gente queria estar na periferia, no interior, junto das mulheres negras, das mulheres brancas, em todos os lugares possíveis”, ressalta.

Foi assim que o Não é Não expandiu sua ação para o Carnaval deste ano e chegou a nove estados, onde serão distribuídas, no total, 112 mil tatuagens. “Agora, temos uma embaixadora em cada estado, com suas respectivas equipes, e elas determinam como será a distribuição em cada local. Por exemplo, em Belo Horizonte (MG), ela é feita nos blocos. Já em Pernambuco, a partir das casas em que as pessoas ficam hospedadas.”

União das mulheres

Segundo Luka Campos, no decorrer dos anos, a mensagem passada pela iniciativa tem mudado, mesmo que aos poucos, o comportamento dos homens. “No ano passado, depois de aparecer em algumas entrevistas, eu saí na rua, e um cara me parou dizendo: ‘Você é a Luka do Não é Não?’. Eu disse: ‘…sou?’ Aí ele falou: ‘Eu vi sua entrevista, estou acompanhando a campanha, aí cheguei em uma menina, ela disse não e eu fui embora. Eu entendi o que vocês estão dizendo’.”

Além disso, a integrante do coletivo diz que elas receberam muitas mensagens de mulheres por e-mail elogiando a ação. “Várias falaram que se sentiram mais seguras e que puderam contar com outras mulheres e que muitos homens entenderam a mensagem.”

Para ela, o mais emocionante tem sido a receptividade das mulheres. “Muitos amigos me apresentam hoje em dia como a ‘Luka do Não é Não’. É muito comum isso acontecer, e as mulheres me abraçarem e falarem: ‘Obrigada por estar fazendo isso’. Eu fico arrepiada ao falar disso porque a gente vê que essa união é muito potente. Que essa rede do Nao é Nao é muito potente e muito transformadora”, conclui.

O Não é Não é parceiro da campanha #CarnavalSemAssédio
Créditos: Gabriel Nogueira / Catraca Livre
O Não é Não é parceiro da campanha #CarnavalSemAssédio

#CarnavalSemAssédio

O coletivo Não é Não está junto da campanha #CarnavalSemAssédio, criada pela Catraca Livre em 2016 para ajudar a combater a violência contra a mulher.

Parceria da Catraca Livre com a Prefeitura de São Paulo e a Rua Livre, produtora de blocos que pensa ações de impacto social para a folia e para a cidade, a campanha vai levar os Anjos do Carnaval aos blocos da capital paulistana. A equipe, voluntária e treinada, será responsável por acolher e orientar mulheres e LGBTs vítimas de assédio na dispersão, além de ajudar a identificar assediadores em cima dos trios elétricos de blocos parceiros.

Paralelamente, usaremos o Ônibus Lilás, cedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania especialmente para a campanha, como ponto fixo de atendimento.

A cada dia do Carnaval (de 2 a 5/3), e também no sábado de pré-Carnaval (23/2), sempre próximo aos blocos com maior concentração de foliões, o Ônibus Lilás estará presente com profissionais capacitados para receber vítimas de assédio. Também teremos voluntários na distribuição de 20 mil adesivos da campanha por blocos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Olinda (PE).

Todos os conteúdos da campanha #CarnavalSemAssédio são apoiados oficialmente pela 99.