WWF faz alerta sobre crise de água: 20 toneladas de peixes podem ter morrido com o uso do volume morto

WWF Brasil lança campanha “É a gota d’água” para questionar a gestão de recursos hídricos em todo o país; nos últimos anos, consumo aumentou 26% e produção apenas 9%

A água nunca esteve tão em pauta como agora. A cidade mais populosa do país passa por sua maior crise de abastecimento dos últimos 70 anos. Em meio ao racionamento, se comemora a Semana do Meio Ambiente e a WWF-Brasil aproveita o gancho para fazer um alerta sobre a questão da gestão adequada dos recursos naturais.

Ação no meio da Avenida Paulista chama a atenção dos passantes para a ideia de que “com ou sem crise de água, cada gota é importante”.

Com a campanha “É a gota d’água!”, a ONG lança a reflexão sobre como os recursos hídricos são geridos, não só em São Paulo, mas em todas as grandes e médias cidades brasileiras. E o futuro pode não ser muito bom.

“Entre 2004 e 2013, o consumo de água nos 33 municípios abastecidos pela Sabesp aumentou em 26%, enquanto a produção cresceu apenas 9%. Ou seja, há um claro descompasso entre demanda e oferta de água”, afirma Maria Cecilia Wey de Brito, secretária-geral do WWF-Brasil. Segundo a ONG, a gestão de recursos hídricos é um compromisso de todos: governos, empresas e sociedade civil.

Vivo, morto, vivo, morto, morto

Diante do colapso do abastecimento, o Governo do Estado de São Paulo optou por utilizar o chamado “volume morto” do Sistema Cantareira. Segundo a ONG, a ação gera um impacto direto no ecossistema da região. “O volume morto é o último refúgio dos peixes e da fauna aquática, mas nessas condições a temperatura da água fica mais quente, diminui o oxigênio dissolvido e aumenta a mortandade de muitos peixes”, explica Maria Cecilia. Estima-se que até o momento tenham sido perdidas 20 toneladas de peixes, principalmente cascudos e corimbatás que vivem no fundo do reservatório.

Segundo a ONG, a utilização do volume morto também traz riscos à saúde humana e aumenta o custo de tratamento da água, já que a parte funda do reservatório acumula sedimentos, matéria orgânica e metais pesados que se decantam no local. Calcula-se que os gastos do governo para desintoxicar e tratar a agua sejam 40% maiores com o volume morto. “Ainda assim, não há tecnologias disponíveis para a eliminação completa de metais pesados”, diz a secretária-geral.

Solução?

Segundo a campanha da WWF, a questão da seca e das mudanças climáticas não pode ser escolhida como principal problema do colapso. A falta de investimentos em planejamento, a ocupação irregular e o desmatamento de áreas próximas a nascentes e matas ciliares têm grande peso.

Mas, se existe uma solução para o problema, ela não está na construção de novos reservatórios, nem em obras de infraestrutura hídrica. Para o WWF-Brasil, a crise deve incentivar investimentos (mais especificamente, um mínimo de 0,5% do PIB por ano) em planejamento e gestão de recursos hídricos no país, reforma dos sistemas de captação, tratamento e distribuição da água.

Cálculos da ONG, concluem que falhas na distribuição causam desperdício de 40% da água encontrada no país. “A gestão não deve ser somente para atender a demanda, mas também para garantir a oferta”, finaliza Maria Cecilia.