Dessa vez, a facada moral em Bolsonaro veio da Polícia Federal

Já tinha escrito aqui que a reportagem da Folha mostrou como o PSL deu a maior facada moral.

Ao mostrar o desvio de verbas, usando candidatas-laranja, a Folha colocou sob suspeita o presidente do PSL, Luciano Bivar e o secretário-geral da presidência, Gustavo Bebianno.

A Polícia Federal ajuda agora a aumentar a facada na imagem do partido de Bolsonaro.

Afinal, ao entrar na investigação, confirmou a importância da reportagem do jornal, geralmente acusado pelo presidente de promover Fake News.

Intimou a prestar depoimento a mulher acusada de servir como laranja.

Entenda essa reportagem.

A descoberta do jornal é seguinte: a cúpula do PSL destinou R$ 400 mil para uma candidata-laranja a deputada em Pernambuco, onde mora Bivar .

Luciano Bivar, presidente do PSL
Na época, Bebianno presidia o PSL.

Nome da laranja: Maria de Lourdes Paixão, 68 anos.

Só para dar uma idéia: ela ganhou mais do fundo partidária do que a deputada Joice Hasselmann que teve mais de 1 milhão de votos) e do próprio Bolsonaro.

Detalhe: o dinheiro chegou apenas na véspera da eleição. Mais precisamente, no dia 3 de outubro.

Ou seja, teria 4 dias para gastar.

E gastou tudo numa gráfica.

Resultado: só teve 274 votos.

A Folha visitou o endereço da nota fiscal – e não encontrou sinal de gráfica.

O que a candidata disse para a Folha:

À reportagem Lourdes Paixão diz não se lembrar do nome do contador que aparece em sua prestação de contas, da gráfica que afirma ter contratado nem de quanto gastou ou o volume de material que encomendou.

Também não soube explicar as razões de ter sido escolhida candidata e agraciada com a terceira maior fatia de verba pública do partido de Jair Bolsonaro.

Pode ser coincidência. Mas…

O jornal Correio Braziliense captou sinais de irritação de integrantes da Polícia Federal com o presidente Jair Bolsonaro.
Motivo: na prática, ele deu uma bronca pública e considerada e injusta contra a Polícia Federal.
O que foi interpreto uma uma tentativa de criar uma notícia para contornar o desgaste da imagem presidencial, abatida por uma série de notícias negativas ( vídeo acima)

O jornal entrou num grupo fechado da PF no WhatsApp. Um deles fala: “Perdeu a chance de ficar calado”.
Os comentários dos policiais afirmam que profissionais competentes estão realizando a investigação, com toda a pressa.
Mas os fatos não permitem concluir que Adélio Bispo tinha mandantes.

Bolsonaro pediu, em vídeo gravado no Hospital Albert Einstein, que a Polícia Federal acelere as investigações sobre a facada que levou na campanha eleitoral.
Classificou a facada como “ato terrorista”
Pediu à polícia ” uma solução para o caso nas próximas semanas”.
Objetivo da cobrança: a PF deveria indicar os mandantes do crime.
No vídeo, Bolsonaro dá a entender que Adélio Bispo, ex-militante do PSOL, estava a mando de algum grupo da esquerda.
Mas, até agora, os policiais não encontraram nenhuma vinculação de Adélio com qualquer grupo ou mandante.

Noticia do O Globo:
Policiais vasculharam computadores, dados armazenados em celulares, contatos telefônicas, redes sociais, contas bancárias e relações pessoais, entre outros aspectos da movimentação de Adélio. Mais de dez policiais, considerados altamente qualificados, foram destacados para levantar informações e checar detalhes mínimos do caso.
“Para o pleno esclarecimento dos fatos apurados, até o momento a Polícia Federal entrevistou 38 pessoas, colheu 15 depoimentos formais de testemunhas, realizou três interrogatórios formais do preso e analisou dois Terabytes de imagens. Foram realizadas diligências investigativas em Juiz de Fora, Montes Claros, Uberaba, Uberlândia, Pirapitinga, Belo Horizonte e Florianópolis”, diz nota divulgada pela polícia nesta tarde.

O que pareceu a policiais da PF: o presidente quer explorar a facada politicamente, mostrando-se vítima não de um perturbado mental mas de um esquema organizado.

Para os policiais, falar, neste momento, ainda sem provas, que Adélio não agiu sozinho seria uma Fake News