Dimenstein: estou apavorado com Jair Bolsonaro. Você também devia

Por uma simples questão de matemática e amor ao meu país, sou favorável à reforma de previdência.

Tenho essa posição desde os tempos de FHC, passando por Lula, Dilma e Temer.

Não seria diferente agora com Bolsonaro na presidência.

As contas me levam à conclusão de que, sem a reforma da previdência, o Brasil vai quebrar – e os pobres serão as maiores vítimas.

Sem contar que se não for aprovada, os empresários não vão investir, gerando mais desemprego e miséria.

Mas estou começando a ficar apavorado.

Estavam nos meus cálculos as fortes pressões que viriam – isso ocorre em todos os países.

Também estava nos meus cálculos as fragilidades pessoais de Bolsonaro.

Ele se aposentou aos 33 anos, com salário de quase R$ 10 mil mensais: agora tem direito a mais uma aposentadoria e R$ 27 mil como deputado.

No passado, ele e seu filho Eduardo atacaram a reforma a previdência.

Natural que esse material fosse usado agora.

Durante a campanha eleitoral, não estava explicitada a reforma da previdência.

A maioria dos eleitores votaram não em Bolsonaro – mas contra o PT.

Ou seja, muitos deles iriam estranhar quando a proposta fosse detalhada.

Mas outras coisas não estavam nos meus cálculos – e isso é o que está me apavorando.

Bolsonaro designou seu filho Carlos para ajudar na comunicação da reforma.

É um rapaz sem nenhuma credibilidade entre formadores de opinião.

É alvo de deboche entre jornalistas, apontado como um garoto mimado e paranoico.

Esse tipo de campanha é algo para ficar nas mãos de cérebros da publicidades como Marcelo Serpa, Nizan Guanaes ou Washington Olivetto – e mesmo assim iriam suar.

Para aprovar a reforma desse porte é necessária uma garra semelhante a que levou Bolsonaro à presidência.

Ele parece apático, sem conseguir agora articulação, um discurso com sangue nos olhos.

Para liderar o governo na Câmara, Bolsonaro coloca Joice Hasselmann.

É uma pessoa que está no seu primeiro mandato.

Até aqui, eu só sua habilidade em gerar conflitos.

No Senado, o grande aliado é Davi Alcolumbre, sem nenhuma experiência em grandes negociações.

Diariamente, surgem novos escândalos envolvendo o governo: as laranjas, por exemplo.

Essa é uma guerra a ser enfrentada pessoalmente por Bolsonaro, usando todos os recursos possíveis de comunicação e articulação política.

Curiosamente nesse momento, os meios de comunicação que Bolsonaro elegeu como seus grandes inimigos são os que defendem a reforma, isso porque sabem as possíveis consequências para o país caso  não seja aprovada.