Dimenstein: hoje sou obrigado a aplaudir Bolsonaro de pé

Sou obrigado hoje a aplaudir Jair Bolsonaro – e de pé.

É o que a coerência exige.

Motivo: seu post é um recado à censura promovida pelo Superior Tribunal Federal

Pela mesma razão que critico – e muito – a postura de Bolsonaro sobre os meios de comunicação, que ele não entende nem quer entender devido à sua visão autoritária, elogio essa crítica ao STF.
“Acredito no Brasil e em suas instituições e respeito a autonomia dos poderes, como escrito em nossa Constituição. São princípios indispensáveis para uma democracia. Dito isso, minha posição sempre será favorável à liberdade de expressão, direito legítimo e inviolável.”

Na manhã de ontem, um oficial de Justiça entregou na redação da revista digital Crusoé uma ordem de censura assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. Exigia a retirada do ar da reportagem O Amigo do Amigo de meu Pai, publicada semana passada, e estendia a ordem ao Antagonista, site parceiro. Moraes enxergou “claro abuso no conteúdo da matéria”.

A mesma informação divulgada por Crusoé no dia 11 foi publicada, após nova apuração, também pelo Estadão: a Justiça indagou ao empresário Marcelo Odebrecht a quem se referia como ‘amigo do amigo do meu pai’ num email de julho de 2007. Era, segundo o empreiteiro, o então advogado-geral da União, e hoje presidente do Supremo, José Antonio Dias Toffoli. No email, Odebrecht pergunta a executivos da empresa: ‘Afinal, vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?’ Não está claro o que teria sido fechado.

De acordo com Mateus Coutinho, da Crusoé, o documento com a citação de Odebrecht foi retirado dos autos do processo após a reportagem ir ao ar. Em PDF, a reportagem da revista está circulando pesadamente via WhatsApp. A editora foi multada em R$ 100 mil por descumprir inicialmente a decisão.

Internamente, ouviu Carolina Brígido, o inquérito aberto por Toffoli para apurar ataques contra a Corte é visto com críticas por vários de seus pares ministros. Quando o abriu, o presidente do STF garantiu que a imprensa não seria alvo de apurações. Mas, na sexta, bateu à porta de Moraes pedindo providências em relação a ‘mentiras recém-divulgadas por pessoas e sites ignóbeis’. O que Toffoli chama de mentira foi tornar público um documento real, parte de um processo real — documento depois desaparecido. Além de Moraes, o presidente tem também os apoios de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. O resultado do pedido pessoal de censura acatado foi que a história de Crusoé repercutiu mais. (Época)