Dimenstein: Miriam Leitão faz melhor coluna do dia sobre Bolsonaro

Miriam Leitão, do O Globo, fez a melhor análise sobre a queda de Joaquim Levy da presidência do BNDES.

O fato de não haver um nome certo para substituir Joaquim Levy mostra como foi intempestiva a decisão do governo. Formalmente, o agora ex-presidente do BNDES pediu demissão no domingo, mas no sábado ele já estava fora dos planos, após Jair Bolsonaro dizer espontaneamente que estava “por aqui” com o economista. Foi uma decisão tomada de impulso. No domingo, o governo ainda corria atrás de pessoas para comandar o banco.

Alguns nomes estão circulando. Salim Mattar, o secretário de desestatização é o que tem mais razões para assumir o cargo. Nada aconteceu na secretaria dele até aqui. Ele era tido como alguém bom de gestão que faria a máquina funcionar. O leilão de concessões de aeroportos este ano foi deixado pronto pelo governo Temer. Quando se pergunta na área econômica porque a secretaria de Mattar não consegue destravar as privatizações, a explicação é que elas dependem do BNDES. Mas o banco está trabalhando intensamente junto com o TCU para encontrar a forma de vender com mais governança e transparência. Não há uma resistência ideológica no BNDES.  

O presidente nesse episódio mostrou que busca a abertura da, como dizem, caixa preta do banco. Bolsonaro quer uma caça às bruxas. Operações como a Greenfield já apuraram os problemas no financiamento da JBS e a outras empresas, por exemplo. O presidente quer mais divulgação sobre os empréstimos indevidos a outros países para usar esses dados em seus discursos políticos. As informações sobre todas essas operações já estão disponíveis no site do banco. Mattar teria o perfil de prestar informações como se fosse um ato político.

Outra pessoa cotada é Solange Vieira. Seria uma ótima escolha. Ela é funcionária de carreira do banco e hoje preside a Susep, que poderá ser unida com outras agências do setor de previdência. O próprio ministro Paulo Guedes contou sobre esse plano em entrevista na GloboNews. Solange conhece o BNDES. Se ela for para lá será com garantias de que terá a autonomia que Joaquim tentou executar e não deu certo.

O terceiro na lista dos mais cotados é Carlos da Costa. Ele está na Secretaria de Produtividade e Emprego e já foi do BNDES na gestão de Paulo Rabello de Castro, durante o governo Temer.  

Se de fato houvesse um planejamento para tirar Joaquim Levy do cargo, o substituto já estaria escolhido. E as declarações do presidente tampouco ocorreriam em um sábado de manhã. A maneira como Levy “foi saído” do governo gera preocupação. O presidente passou por cima do ministro Paulo Guedes para intervir em uma diretoria abaixo do presidente do BNDES, lá do terceiro escalão. Quem assumir o BNDES tem que se perguntar que autonomia terá. O presidente pode mexer em qualquer nível da sua administração da forma autoritária que tem feito até aqui.