Dimenstein: o brasileiro é um cidadão de merda

Pensei muito antes de escrever o título dessa coluna.

Mas é o que sinto: o Brasil é um país de merda.
O que aconteceu em Brumadinho e, depois, no Flamengo são apenas dois sinais da nossa irresponsabilidade.

Ali, todas as mortes eram evitáveis.

Vivemos diariamente e com intensidade a irresponsabilidade.

Não exagero. Todos os dias.

E não aprendemos.

São dezenas de milhares de mortes evitáveis que ocorrem por ano.

Só no trânsito são quase 50 mil a cada 12 meses.

Essa irresponsabilidade só existe porque também somos cidadãos de merda.

Não acompanhamos nem cobramos o suficiente de nossas autoridades locais, estaduais ou federais.

Votamos em nossos representantes, mas não acompanhamos seu desempenho.

Aliás, logo esquecemos em quem votamos.

Temos apenas espasmos de irritação.

Vamos de espasmo em espasmo.

Vamos também de ilusão em ilusão, movidos pela desinformação e ignorância.

Acreditamos que Collor, Lula, Dilma eram paladinos da moralidade – e, agora, acreditaram em Bolsonaro, que não precisou nem de 30 dias para desfazer sua imagem ética.

Colocou-se no poder o MDB em nome da moralidade.

O desleixo é generalizado na saúde, na segurança e na educação.

Desleixo na saúde são pessoas que morrem diariamente precocemente.

A má gestão e o desperdício são a regra.

Quantos talentos não perdemos por dia porque não cuidamos como deveríamos de nossa educação pública.

Quantos Caetanos, Gil, Niemeyers, Fernandas Montenegros, Drummonds, Villa-Lobos, Santos Dumonts, Portinaris, Jorge Amados, Zerbinis, Pixinguinhas, não perdemos todos os dias?

Todos os anos temos de tampar com R$ cerca de R$ 400 bilhões – isso mesmo, R$ 400 bilhões – o buraco das aposentadorias.

Parte disso, apenas de funcionários públicos municipais, estaduais e federais.

O buraco não para de crescer, consumindo os recursos de um país que necessita urgente de dinheiro para enfrentar sua dívida social.

Há décadas – isso mesmo, décadas – a solução é postergada, mesmo muita gente sabendo dos números.

Mesmo assim, continuamos a votar em políticos irresponsáveis, prometendo coisas inviáveis ou apenas bobagens.

Nesse contexto, Brumadinho e o incêndio do Flamengo são apenas consequência de uma cidadania de merda.