Dimenstein: o que eu faria se Carlos Bolsonaro fosse meu filho

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Em toda minha vida jornalística, nunca vi nada parecido – e olhe que tenho 62 anos, e sou repórter desde os 18.
Já vi, claro, familiares pelos bastidores falando ao ouvido do presidente, fazendo conchavos, intrigas e negócios.
Mas um filho ( sem cargo) destratando publicamente – e em nome do pai – um alto funcionário de governo é novidade.
É a total inversão de hierarquia ironicamente num governo povoado por militares, a começar do presidente.
São profissionais treinado para serem disciplinados.
O que vejo é baderna.
Isso mesmo, baderna.
Fiquei pensando o que eu faria se fosse meu filho.
Ressalva: posso garantir que, se fosse meu filho, jamais teria esse comportamento.
Mas vamos supor que esse desrespeito ocorresse.
Eu faria o seguinte.
Antes de mais nada, pediria desculpas ao ofendido.
Depois, pediria desculpas ao país pela falta de modos do meu filho.
Eu convidaria ao Palácio, separadamente, os dirigentes da Veja, Folha, Globo, Estadão – e pediria desculpas pelas ofensas feitas aos jornalistas e jornalismo.
Sem jornalistas, não há liberdade de expressão.
Eu daria um pito público, dizendo que o gesto é intolerável.
Afinal, família não se deve misturar com o interesse público.
Proibiria o uso do meu nome em suas redes sociais, associado a ataques a quem quer que seja.
Eu o proibiria – isso mesmo – proibiria de circular em qualquer espaço associado à presidência.
Se continuasse a fazer maluquices, também não entraria na minha casa – no caso, o Palácio da Alvorada.
Não seria visto em minha companhia publicamente.
E se, por acaso, não tomasse jeito, todos saberiam que as opiniões dele não representam nenhuma palavra oficial.
Depois que eu deixasse a presidência, o relacionamento voltaria ao normal.
Quando alguém vira presidente tem de saber que, neste momento, deixou de ser uma pessoa para ser uma instituição.
Incrível que Bolsonaro passou tanto tempo no Exército e no Congresso, sem aprender essa lição elementar de civismo.