Dimenstein: risco de Bolsonaro não é o PT, mas o efeito Gentili
Há uma diferença entre o discurso de Jair Bolsonaro antes e depois das eleições. E por uma questão simples: sobrevivência.
Em toda a sua vida – repetimos, toda – ele nunca valorizou ao democracia. Pelo contrário. Ainda hoje ele não admite que a ditadura militar foi ditadura. Nem a censura foi a censura.
Por esperteza, ele teve de mudar.
Basta ver essas promessas de Bolsonaro depois de eleito.
O discurso beligerante de Bolsonaro serviu para ganhar as eleições. Mas não serve para governar – aliás, seria um caminho rápido para sua derrocada. Note-se que a péssima reação que teve seus ataques à Folha, vistos ( com razão), como desrespeito à liberdade de imprensa.
Uma boa parte de seus eleitores só votaram nele para evitar o PT. Assim como uma boa parte dos eleitores só votaram em Haddad para evitar Bolsonaro.
A imensa maioria dos brasileiros não é de extremos. É de centro – um centro que varia da centro-esquerda à centro-direita.
As maluquices que Bolsonaro falou ao longo de seu vida o colocariam como alvo do Judiciário, do Ministério Público, do Congresso e da imprensa. Mais: possivelmente o colocariam contra seu ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Lembremos que o primeiro ano de Bolsonaro não será fácil: terá de aprovar reformas amargas e impopulares. Talvez até subir impostos.
É óbvio que mexer na previdência provoca desgastes. E ainda demora até essas medidas produzirem um vigoroso crescimento econômico que reduza o desemprego.
Um sinal é o protesto de um de seus eleitores mais festejados: Danilo Gentili. Ele lançou a campanha #MagnoMaltaNão – aliás, apoiada pela Catraca Livre e Quebrando o Tabu.
O efeito Gentili mostra que as pessoas podem rapidamente se frustrar. Ninguém pode chamar Gentili de esquerdopata ou comunista.